quarta-feira, outubro 14

CONTOS DE BEIRA DE ESTRADA

 

                       

          

             Estava eu me preparando para sair de viagem em meu caminhão, rádio ligado e alto o suficiente para escutar Zezé di Camargo e Luciano cantando “amigos para sempre” enquanto eu colocava a minha roupa de trabalho.

     Escuto uma batida na porta direita do caminhão, ouço um pouco abafada pelo som do rádio, fui até a mesma dar uma espiada, eu estava um pouco desajeitado, com um pé descalço outro não, baixo o vidro para melhor olhar, era um menino doze anos no máximo, filho de um ex-amigo meu, trazia em suas mãos um pacote enrolado em um papel de tonalidade muito forte avermelhado, em volta do mesmo tinha uma fita da nossa Senhora Aparecida dando um tope bem apertado.
          Pela curiosidade perguntei logo ao menino do que se tratava, claro, depois do cordial bom dia, um pouco ansioso ele  passou a narrar à razão de seu presente, tratava-se de alguns rascunhos de algumas histórias de estradas contada pelo seu papai, que ele mesmo fez para presentear a mim, como contribuição ao meu livro Contos de Beira de Estrada e também pela passagem do dia do motorista ao seu querido papai.
          Mas infelizmente seu papai não mais se encontrava aqui no plano terrestre, faleceu em um acidente de caminhão no estado do Rio de Janeiro e ele me pediu pra dedicar este carinho em homenagem ao mesmo que faleceu no exercício da profissão.
          E eu chorei, como há muito tempo não chorava, e precisava, não, não foi por tristeza, mas pela emoção despertada por este menino que mostrou como fazer grandioso um gesto tão simples, e presentear a quem se ama, tornando vivas as lembranças de seu querido papai através de meu livro.
          As belezas dessa realidade somaram-se a outras assim que peguei a estrada para viajar.
          À empresa, logística internacional na qual eu presto serviços, me mandou uma mensagem pelo rastreador através de seus funcionários de monitoramentos, desejando-me uma boa viagem e me congratulando pela passagem do dia do motorista. Isto gerou comentários positivos muito importantes nas paradas de apoios da estrada.
           É confortante, faz bem, massageia o ego de um profissional solitário do volante, encontrar uma empresa que se comunica através destas lembranças de dias importantes de sua vida, que muitas vezes os passam despercebidas, pela ansiedade e  pelos atropelos de suas responsabilidades  de entregar sua carga ao cliente segura e sem atraso, e o chamado "BO" boletim de ocorrência.
           Este ato é realmente muito gratificante para os profissionais, os deixam muito orgulhosos quando se encontra uma empresa, que trata seus colaboradores com clareza e a dignidade que todos os profissionais merecem.
           Dignidade esta, que os profissionais também encontram nas ações fantasticamente simples, como por exemplo, um simples aperto de mão, perguntando ao motorista como foi à viagem, cujo objetivo é fortalecer a auto-estima dos seus colaboradores, conscientizando de seus direitos e deveres como cidadãos e profissionais, quebrando aquele gelo, máquina, ser humano ou apenas uma peça como as maiorias das empresas classificam seus profissionais.
           Ações inteligentemente simples, e ricas, tornam seus colaboradores grandes precursores de zelarem pelo bom nome da empresa, para qual prestam seus serviços, conseqüentemente sua auto-estima se eleva ao ponto mais alto, para melhorarem suas funções como profissionais colaboradores de uma grande empresa.
         “Agradeço ao menino e todos meus amigos, e a empresa na qual eu sou um colaborador, por esta grande oportunidade de terminar esta obra, que se deu inicio em 1993, seguramente me foram de grande valia, e dedico este livro a todos com muito carinho”.
           Aqui eu pude viajar, sorrir, me emocionar, contando grandes momentos de uma forma fantasticamente simples, colaborando com este importante mundo de comunicação, que é o Livro.
         “É meu amigo, como você pode observar, a vida não precisa de efeitos especiais, quando muito estes, apenas agregam diversões e emoções aos filmes de aventuras, e ficções cientificas”.
           Ações simples, transparentes e verdadeiras, como estas do menino dos rascunhos de histórias, e da empresa na qual eu presto serviços, nos mostram que são muito mais eficazes e gratificantes, nos deixam motivados para cumprir nossas funções com responsabilidades. “A ponto de escrever um livro”.


        “Um abraço sincero e verdadeiro, ao menino, e a todos os profissionais caminhoneiros de nosso país, e Mercosul, que de uma forma muito rica, contribuíram com suas lindas histórias, para que este projeto saísse do papel”
       “Eu, Lauro Abbade” visitando o Cassino Conrad, Punta de leste, Uruguay,  de suas escadarias eu tinha a visão de meu caminhão estacionado em uma avenida na beira do Rio da Plata, imaginava este mundo encantado e fascinante de nossa profissão de Motorista, desta escadaria eu começo a pensar e a escrever na minha mente as primeiras histórias contadas pelos meus amigos da estrada, escolhi o cassino Conrad, por ser um lugar que a sorte esta presente na alma do grande jogador, e esta minha atitude de mostrar escrevendo o lado bom, e o misterioso de nossa profissão, eu tenho a certeza que será uma jogada de pura sorte na minha vida.
        É com grande prazer que deixo os meus dedos deslizarem sobre o teclado de meu amigo e companheiro de muitas horas de solidão na cabine de meu caminhão, o meu ”notebook” chamado de Alexandre por mim carinhosamente, homenagem ao meu único filho, assim eu amenizo a saudade da distância de dias e dias de viagens na boléia de meu caminhão, conversando com o “Alexandre” na hora de estar escrevendo os Contos de Beira de Estrada.

            INÍCIO DE CONTOS DE BEIRA DE ESTRADA

       Acordo de sobressalto com a música do hino do grêmio, era o meu celular me despertando, depois de uma gostosa noite de sono.
       Olho para frente, e vejo os primeiros raios de sol, querendo entrar sobre a cortina da cabine do caminhão, como querendo me dizer, vem Lauro abbade, tem muitas estradas a percorrer, aproveita à folga de fim de semana, você está parado em uma aduana qualquer, neste mundão de Deus, não sabe quando a carga vai liberar, para se dirigir até ao cliente, aproveita teu tempo e escreva teu livro, não desista de teu sonho, do teu projeto, e assim ameniza a dor de ficar mais uma vez longe de tua família.
       Assim tu deixas as fronteiras e as aduanas, para os órgãos federais resolverem estas questões de tramites de mercadorias, e atravesse outra fronteira, à da mente, ah, esta sim tu podes dominar, é uma questão de atitude, e ela esta em tuas mãos, junta teu passado de experiências, almeja o futuro com mãos firmes no presente.
       Presente que esta no instante, no agora, e presente que esta no regalo de Deus, é só desfrutar.       
       Abro o porta-luvas e dou de mão em um calendário, este me mostrava que era domingo, 22 de outubro, aniversário de meu querido filho Alexandre.
       Mais uma vez não pude ir abraçá-lo, minhas lágrimas, me deram forças, na medida em que foram escorregando pelo meu rosto triste, desafogando meu coração da angustia.   
       Dou uma suspirada bem funda, para buscar toda a energia de meu ser, olho aquele lindo sol me iluminando, isto já é uma benção de Deus.
       Desço da cabine do caminhão, me dirijo até a barrica de água, lavo o rosto e escovo os dentes.
       Depois de um bom café feito na caixa de cozinha do caminhão, entro na cabine, sento no banco do carona já com outro espírito, pronto para viajar no mundo mágico da literatura.
       Ao ligar o notebook e escrever as primeiras palavras, sinto as mãos trêmulas e o coração acelerado, pela emoção despertada pelas lindas histórias contadas pelos nossos profissionais do volante.      
       Meu primeiro e único propósito é passar para o leitor, um pouco deste mundo fascinante de uma maneira simples, onde eles possam ler, e viajar junto comigo, e tirar suas próprias conclusões destes heróis, que movimentam a economia de um país, rodando kilometros e kilometros, para levarem alimentações e vestuários de todos os habitantes deste planeta, sem medir esforços, movidos pela fé e virtudes e conhecimentos, e muitas vezes com perseverança pelo amor à profissão.
       Chegou o momento de escrever a primeira história dos Contos de Beira de Estrada.
       Coloque o cinto de segurança, daqui para frente é eu e você leitor, na qual vou lhe chamar de Anjo, e meu caminhão, nossa estrada será longa, pelo caminho em cada curva encontraremos emoções fortes.
       Mas Anjo algumas histórias são diferentes, que faz nós como seres humanos frágeis que somos por natureza, a pensarmos que nossa inteligência terrestre, é compartilhada com outros habitantes de nosso planeta, e devemos dar atenção a isto de uma maneira muito especial, onde eles nos mostram que também são muito importantes para nossa sobrevivência, dando sua parcela de contribuição.
       Pego de mãos à obra, acelerando os teclados de meu notebook como se fosse meu caminhão, dou à saída e saio trocando marcha sem olhar no retrovisor, entro na estrada do Mercosul que me leva ao Chile, depois de rodar alguns milhares de kilometros, eu já estou nas Cordilheiras dos Andes, com o cano de descarga, largando uma língua de fogo a cada reduzida de marcha, depois de alguns vilarejos ao longo da estrada, logo após uma curva acentuada saindo de um túnel, avisto uma placa de advertência, escrito em letras grandes, cuidado Andinos en la ruta.  “Estrada”.      
       Anjo eu vou estacionar o meu caminhão, para melhor admirar as belezas das montanhas das Cordilheiras dos Andes, e lhe convido para um cafezinho feito na minha caixa de cozinha, enquanto saboreamos o mesmo, eu vou lhe contar a primeira história, para você se deliciar com este presente de Deus, dado a mim e a um amigo, lhe aconselho a sentar-se, para relaxar um pouco mais, porque nesta história sua mente vai viajar nas emoções.
        A partir de agora, ponha sua mão no coração, para verificar se ele está batendo calminho, inspeção feita!. Eu passo narrar a você, a mais linda história de dois caminhoneiros, abençoados pela mão divina, de estarem no local e hora e minutos exatos, para estenderem as mãos com amor a uma senhora dos povos Andinos nas Cordilheiras dos Andes, lado da Argentina.
        Eles são chamamos de Andinos, porque vivem no meio das montanhas dos Andes, e a maioria às vezes levam mais de um dia caminhando entres pedras e caminhos estreitos para chegarem à estrada grande que corta as Cordilheiras, entre Argentina e Chile.


            ESTRELA ANDINA

       Era vinte e dois de dezembro de 1993, um dia lindo de muito sol, eu “Abbade” estava na fronteira, Uruguaiana, quase véspera de natal, fazia quatros horas que tinha chegado de Buenos Aires, capital da Argentina.
       Descarreguei o meu caminhão e estacionei o mesmo bem no fundo do pátio da empresa.
       Olhei no relógio era meio dia, eu estava neste momento me preparando para ir até o banheiro tomar uma ducha, porque eu iria até a estação rodoviária que ficava quase ao centro da cidade, pegar o ônibus que me levaria até a cidade de Porto Alegre, onde eu residia, distante 640 km, pois eu pretendia passar o dia de natal reunido com minha família.
       Escuto alguém tossindo cóf, cóf, cóf, como alguém se afogando com a fumaça do cigarro, eu olho para o lado para ter uma melhor visão, para minha surpresa, era o meu chefe saindo de trás de umas caixas que estavam empilhadas, tapadas com uma lona velha rasgada, sorrindo e me dando os parabéns pela boa viagem e por de trás daquele sorriso, tinha algo de interesse.
    - Abbade eu preciso de um grande favor seu, depois com certeza te compensarei te dando uma semana de folga para passar em casa com tua família.
    - fala chefe do que se trata, pelo rodeio não deve ser coisa boa, mas eu confio em você apesar deste sorriso comprometedor.
    - Ele sorriu com estas palavras saindo atropeladas pela sua boca, me fala alguma coisa Abbade, se eu mandar carregar o teu caminhão à tarde para Santiago, Chile, e te pagando dobrado e mais trinta por cento do teu salário como premio pelo teu esforço, para você fazer um churrasco no dia primeiro do ano, tu faria este favor fazendo esta entrega em Santiago.
    - Porque este cliente precisa da mercadoria urgente, para não parar sua produção, depois de entregar à mesma, pode retornar vazio, você têm minha autorização, eu ligarei para o dono da mercadoria para te repassar mais uma recompensa na entrega.
    “Aí eu pensei, eu era novo na empresa, eu tinha completado dois anos de atividades na semana passada e minha família estava muito feliz por eu estar empregado numa boa empresa e com tantas vantagens assim não era para se perder, vi a prestação do meu carro paga e sobravam alguns para outras despesas, aceitei fazer a viagem”.
       Liguei para minha mulher, avisando que não iria passar o natal com ela, e sim para ela ir para casa de seus pais para não ficar sozinha no natal.
       Bem, fui tomar minha ducha e já aproveitei o tempo para lavar duas calças e três camisas, enquanto meu caminhão era carregado pela turma do setor de carregamento.
        O mecânico da empresa um moreno muito legal e prestativo, enquanto eles carregavam o meu caminhão, ele fez a revisão e já consertou alguns itens entre eles o suporte do estepe da carreta que estava solto, prendeu com uma nova solda.
        Para carregar foi rápido, o chefe para adiantar o carregamento colocou todos os funcionários do setor nesta tarefa.
        Às três horas da tarde aproximadamente com os documentos da carga em mãos, eu já estava entrando na aduana brasileira para fazer a liberação da carga, em duas horas aproximadamente, perto das cinco da tarde, fui liberado para passar para aduana do lado argentino.
        Cruzei a ponte de divisa de fronteira, entrei na praia de estacionamento e lá já estava o despachante de fronteira para pegar os documentos da carga para fazer a liberação da mesma na aduana argentina “Cotecar”.
        Para adiantar me pediu para encostar o caminhão debaixo do galpão, para os agentes aduaneiros argentinos fazerem a revisão da carga caso desce canal vermelho, isto não era o costumeiro com mercadorias de porta a porta para a aduana do Chile, mas se tratando de fiscais argentinos, sempre é uma caixinha de surpresa, isto não eram mais novidades para nós motoristas brasileiros.
      ”Com exceção deste que estava de plantão neste dia”.
        Como estava um pouco parado o movimento de liberação de carga pela aproximação de feriados de fim de ano e o agente fiscal que estava de plantão para a liberação das documentações não era muito de ficar com os documentos em mãos embaçando, tive sorte foi rápido a liberação, às dezoito horas já estava tudo ok para seguir viagem, assim que o despachante representante da empresa passou os documentos da carga devidamente carimbada, chamada de três marias, nome este dado devido um acordo entre as três aduanas, Brasil, Argentina e Chile para facilitar a comunicação entre eles.
        Liguei o motor do caminhão para esquentar a turbina enquanto eu pagava as taxas que me habilitava a seguir viagem, entre elas minha imigração e tão logo pronto peguei a estrada.
        Logo no primeiro kilometro de saída da fronteira, parei no primeiro posto de serviços YPF, para me abastecer de água e alguns salgadinhos para comer durante a noite.
        Neste posto de serviço estava estacionado um grande amigo meu o J. Pina, quando ele me viu, deixou seu café de lado e veio logo conversar comigo, ele também estava saindo de viagem para Santiago, Chile, sua alegria foi imensa quando lhe disse que estava indo para a mesma cidade.
       Ele se encontrava um pouco triste, pois se encontrava na mesma situação do que eu, ou seja, de passar o natal longe de nossas famílias, nós vimos um no outro uma boa companhia durante a viagem para amenizar nossas tristezas, pois nossa amizade já ultrapassava, à casa de vinte anos.

                  Segunda Parte
                   Capitulo II

      “Com o meu amigo J. Pina passei muitas aventuras nas estradas, e nesta viagem nos aconteceu a mais fantástica de todas as histórias que nos deixou muito emocionados e muito orgulhosos de nossa profissão na qual passo a narrar neste momento”.
        Eu e meu amigo J. Pina combinamos de viajar para o Chile juntos, até pela segurança dos perigos da estrada, Argentina ainda não estava com suas economias recuperadas, a guerra das Malvinas contra a Inglaterra, deixou o país muito mal e era comum encontrar assaltantes ao longo da viagem e assim também passaríamos o dia de natal juntos viajando.
        Para aproveitar e ganhar tempo assim que me abasteci de água e salgadinhos, convidei o J. Pina para colocarmos logo os caminhões na estrada, ele fez um sinal de positivo.
        Assim que liguei o motor de meu caminhão e já me preparava para sair do pátio do posto.
        Veio um senhor já de idade avançada com os cabelos brancos, um pouco encaracolados, atravessou na frente de meu caminhão e me acenou para esperar um pouco, e veio conversar comigo.
     - Moço, por favor, eu sou caminhoneiro também e me chamo Benedito, meu caminhão estragou lá na cidade de Paraná, divisa com a província de Santa Fé, e vim comprar a peça aqui na fronteira, por ser mais barato, como ouvi o moço e o outro amigo falando, vocês vão passar por lá, por favor, me de uma carona, ainda quero concertar meu caminhão e passar o natal junto de minha família.
       Eu olhei para aquele senhor, vi algumas rugas em seu rosto que lhe denunciava, que assim, como quase todos os caminhoneiros, têm suas lutas nas estradas muito sofridas, sua situação me comoveu, fiquei com dó daquele senhor, pedi para ele colocar a caixa que ele trazia em suas mãos, lá na parte de traz de meu cavalinho, dentro de outra caixa, que tinha entre o tanque de combustível e os pneus, abri a porta do lado direito da cabine e pedi para subir a bordo, e me comprometi de levá-lo até mesmo contrariando as normas da empresa que era totalmente proibido dar carona a estranho.
        Logo em seguida coloquei o caminhão na estrada para nos adiantar um pouco, o meu amigo J. Pina fez o mesmo logo atrás, porque tínhamos muito chão para percorrermos até Santiago do Chile.
        Comuniquei o J. Pina pelo rádio amador (PX) que estava levando um carona até a cidade do Paraná, província de entre rios, Argentina.
        Assim eu e meu carona fomos conversando durante a viagem inteira, entre um espaço e outro eu trocava algumas palavras com J. Pina pelo rádio contando algumas novidades da rádio peão (conversas de rodas de motoristas) sobre a grande parada dos fiscais aduaneiros brasileiros para pressionar os governantes, por melhores salários para suas categorias, prometida para depois dos feriados de fim de ano. “Quando os fiscais resolvem fazerem greve, é um grande transtorno para todas as empresas e nós motoristas, comentava o senhor Benedito”.
        Aproveitei o gancho e perguntei ao mesmo porque seu nome era Benedito?
        Ele sorrindo me contou que era porque tinha nascido no mesmo dia do santo, em homenagem ao santo, seus pais lhe deram este nome.
        O Sr. Benedito era bom de histórias, até porque segundo ele já estava nesta luta fazia alguns anos, suas experiências de vida e viagens ele me contava de uma maneira muito simples, sua paixão pela profissão dava para perceber em seus olhos toda vez que ele falava em experiências de viagens, ele era muito simpático, bem falante e sempre com um sorriso largo no rosto.
        Eu movido pela emoção de escutar o Sr. Benedito, me dei o direito de também contar-lhe alguns momentos muito interessantes que passei nas estradas de alguns países que rodei, dentro da minha pouca experiência de estrada, principalmente em viagens internacionais.
        Nossa conversa e estas trocas de experiências foram de uma maneira tão gostosa e gratificante, que não vimos o tempo passar, “quase impercebível”.
        Fiz uma curva para a esquerda e outra para a direita depois de uma ponte e já avistei as luzes da cidade do Paraná, Argentina, nossa primeira parada para descansar um pouco.
        A lua se escondia entre uma nuvem, a noite foi de poucas estrelas, isto já era passando da uma hora da manhã.
      “Neste lugar era onde o Sr. Benedito iria ficar, pois seu caminhão segundo ele encontrava perto dali estragado”.
        Assim que chegamos estacionei meu caminhão bem no fundo do pátio do posto da rede schell.
        J. Pina fez o mesmo estacionou o seu caminhão ao lado do meu, para termos mais segurança.
        Bem desci de meu caminhão para esticar as pernas e fiz a volta por de traz do mesmo para olhar os pneus ou alguma anormalidade desconforme e não vi ninguém, o chamei pelo nome e nada, esperei um pouco por ali e perguntei para o J. Pina se ele não teria visto o Sr. Benedito, o carona que estava comigo, ele me respondeu que não teria visto ninguém, e para ter certeza fui até a porta do carona para abrir a mesma, porque de repente o Sr. Benedito poderia estar na cabine ainda, eu abri a porta e cadê o Sr. Benedito, olhei para um lado e para o outro e nada, J. Pina brincou comigo, o cansaço te deixou vendo coisa Abbade, vai dormir que tua cabeça fica boa.
        Peguei a toalha e o sabonete, fui tomar um banho, e depois fui dormir, mas fiquei intrigado e preocupado, com este mistério.
        Descansamos apenas quatro horas, levantamos e tomamos café e revisamos os caminhões e saímos de novo de viagem.
        Nós procuramos sair justamente no horário de troca da guarda do túnel que passa por de baixo do rio Paraná.
        No caminhão do J. Pina tinha alguns produtos químicos, mas estes não eram classificados pela ONU, portanto não tinha simbologia, caso contrário ele teria que passar pela balsa, porque é totalmente proibido passar com produtos químicos no túnel até pela segurança do local.    “Jeitinho brasileiro”
        Estávamos com sorte os guardas pela troca de turno não estavam com barreira para verificação das notas.
        Assim nossa viagem rendeu que entre uma parada e outra para esticar as pernas e nos alimentar, chegamos até a cidade de São Luis, Argentina, para dormir aproximadamente as vinte e três horas.
        No outro dia bem cedo, despertou o relógio, eu já saltei da cama para adiantar no nosso café, enquanto esquentava a água, acordei meu amigo J. Pina, neste meio tempo, ele foi ao banheiro se lavar e escovar os dentes, eu aproveitei e fui revisar os pneus das carretas e na minha carreta tinha um pneu furado no terceiro eixo, no lado de dentro.
        Passei os encargos do café para o meu amigo J. Pina e levei à minha carreta na gomeria, (borracharia) para trocar o pneu.
        Eu abri a caixa de ferramenta do cavalinho para pegar uma corda e constatei que a caixa do Sr. Benedito estava ali entreaberta, ouvi um gemido, fui olhar, quase não acreditei no que vi, era uma cadelinha de porte pequena raça mini lhasa-apso.
        Pequei no colo, coitada, estava com muita sede e fome, primeiramente lhe dei água e depois alguns pedaços de pão dentro de uma tigela com molho de carne, em seguida a soltei atrás da gomeria, onde tinha uma grama verdinha, para ela fazer suas necessidades, imagina! Estava desesperada a coitada, não sei como aguentou tanto tempo ali sem fazer xixi e coco, depois levei até a cabine de meu caminhão, abri a porta do lado direito, fiz uma cama para ela em um pequeno espaço que tinha na frente do banco do carona, enrolei a minha hóspede em uma toalha, ela se encolheu ficando bem quentinha.
        O borracheiro fez a troca e colocou o pneu furado no lugar do estepe e passou uma corda para ficar seguro.
        Logo depois do café, saímos de viagem novamente.
     “Mas não contei para o meu amigo J. Pina sobre a cachorrinha”.
        Nossa próxima parada foi em cidade de Mendoza, Argentina, para almoçar e abastecer nossos caminhões e colocar aditivo anti-congelantes nos tanques e radiadores caso pegássemos muito frio nas Cordilheiras dos Andes, embora fosse verão, mas a temperatura modifica de uma hora para outra, pegando os motoristas de surpresa.
       À tarde começamos a subir as Cordilheiras dos Andes devagar para não esquentar os motores, tocamos até aduana de Uspallata, Argentina, a subida até o vale que fica a aduana nas Cordilheiras foi muito boa e tranqüilo.
       Colocamos os caminhões no estacionamento da aduana, para fazer as carimbações dos documentos para cruzar para o lado chileno.
       Entramos na fila dos tramites de documentos, quando os mesmo foram liberados já era no inicio da noite.
       Os guardas de barreira do cruze, nos aconselhou para nós pernoitar ali mesmo, era mais seguro do que cruzar as Cordilheiras de noite, pela nevasca de vento branco que estava por vir, nós se continuasse à viagem, corria o risco de ficar no meio das Cordilheiras.
        Aceitamos o conselho, eu e meu amigo pernoitamos ali mesmo no pátio da aduana.
        Fiz uma boa massa estilo caseira para a nossa janta, saborearmos a mesma regada por um bom vinho da região de Mendoza, Argentina.
        Logo depois da janta o meu amigo pegou a toalha e o sabonete e se dirigiu ao banheiro para tomar uma ducha.
        Eu aproveitei estes minutos de ausência dele para cuidar de minha hóspede, alimentei e dei água à cachorrinha, eu coloquei uma cordinha em seu pescocinho e levei atrás das outras carretas para ela fazer xixi em seguida retornei com ela para a cabine de meu caminhão e coloquei mais uma toalha grossa de algodão, para ela ficar mais quentinha.
        No retorno de meu amigo, ainda ficamos mais um pouquinho em volta da caixa de cozinha arrematando o resto daquele vinho.
        Depois de uma boa conversa e risadas de alguns causos contados pelo meu amigo e outros colegas que pernoitaram ali também que se juntaram a nós, fomos dormir.
      “E realmente os guardas estavam certíssimos, aquela noite foi muito fria”.
        No dia seguinte era dia de natal, eu tinha comprado um boneco de Papai Noel empalhado de cinqüenta centímetros de altura, e um saco vermelho em nossa parada para abastecimento em Mendoza, e coloquei dentro de meu caminhão sem o meu amigo J. Pina perceber.
        Com aquela cachorrinha pequenina, pensei logo em fazer uma surpresa para meu amigo, ele era tarado por cachorro, aí eu fiz um arranjo bem legal e levantei um pouco mais cedo do que ele, e com ajuda de uma pedra grande que estava pelo pátio da aduana, subi na mesma e coloquei o boneco de Papai Noel dependurado no espelho do caminhão dele, e mais o saco com a cachorrinha dentro enrolada em uma toalha grossa de algodão, para ela não passar frio.
        Eu dei três batidas na cabine do caminhão do amigo para acordar-lo, e também se preparar para seguirmos à viagem, tão logo estes procedimentos, peguei a toalha de rosto e uma bolsinha com produtos higiênicos, e fui ao banheiro, lavei o rosto e escovei os meus dentes e logo em seguida busquei um lugar onde eu poderia ter uma visão ampla de onde nossos caminhões estavam estacionados, e me postei ali para melhor observar a reação do amigo ao ver a surpresa que tinha preparado para ele.
        Os raios de sol anunciavam um lindo dia de natal, os espetáculos da natureza radiavam nos encantos dos coloridos das árvores de plátanos em volta do estacionamento da aduana de Uspallata.
        Quando J. Pina acordou, abriu as cortinas e viu aquele saco vermelho dependurado junto ao espelho de seu caminhão, sua curiosidade foi maior, foi logo olhar, ele logo imaginou que fosse alguma brincadeira dos guardas da aduana, mas para sua surpresa, quando abriu o saco, viu a cachorrinha e uma carta dizendo que o Papai Noel tinha lhe deixado de presente àquela mascote. Ele não segurou o tranco, deixou algumas lágrimas deslizarem pelo seu rosto, envolvido pela emoção do que representava para ele aquele presente.
     “Há uns dois anos atrás ele tinha uma mascote, mas ele sofreu um acidente, tombou sua carreta e seu cachorrinho mascote, acabou morrendo pelas lesões deste acidente, este era seu companheiro inseparável na solidão da cabine de seu caminhão e nunca mais ele arrumou outro, agora sua felicidade tava completa novamente, com uma nova mascote”
        Eu não resisti sua felicidade, me ajuntei a ele, sua emoção me contagiou que acabei chorando também abraçado ao amigo.
     - Um gesto tão bonito só poderia vir de você mesmo Abbade, obrigado mesmo de coração, tu sabe o que significa este presente para mim.
       Depois do presente do Papai Noel, o café da manhã foi especial tinha até bolinho frito e a mascote ganhou alguns pedaços de salames com geleia.
       Lá pelas dez horas da manhã, a guarda liberou o cruze, começamos a subir as Cordilheiras dos Andes.
       Pelas quantidades de caminhões que estavam ali esperando para subir, o inicio foi um pouco demorado até alinharmos a uma velocidade constante de rendimento, depois foi um sobe e desse e curva para cá, curva para lá, porque é assim mesmo a estrada, mas com muito cuidado para não nos envolvermos em um acidente.
        Bem no meio das Cordilheiras dos Andes, perto da entrada do cerro Aconcaqua, meu amigo J. Pina disse pelo rádio amador:
     - Abbade para aí na frente que teu pneu do estepe se soltou e esta indo estrada afora com muita velocidade.
        Eu olhei rápido, ainda vi o pneu pelo retrovisor direito alto do chão, o pneu pegou o rumo da estrada de subida do cerro Aconcaqua, foi parar uns cento e cinqüenta metros aproximadamente para dentro, pela velocidade que pegou.
        Paramos e fomos buscar o estepe fujão, o meu amigo aproveitou soltou a sua mascote para caminhar um pouco, e ela foi bem feliz à nossa frente, as pedrinhas do caminho machucavam suas patinhas, mas ela não estava nem aí, ela queria era festa, e na volta eu vinha rolando o estepe com dificuldade porque estava furado.
        De repente a mascote começou a latir perto de umas pedras grandes, aquilo nos chamou atenção, pensávamos que era uma cobra, nas Cordilheiras tem muitas e perigosas.
        O J. Pina foi olhar o que era pela insistência de tanto latido da mascote que estava inquieta, se aproximou olhando com cuidado o chão perto das pedras grandes, de repente ficou sério com olhar de surpresa, era uma mulher Andina em trabalho de parto, gemendo já com a bolsa estourada largando liquido, coitada, deve ter levado um susto do pneu que seguramente teria indo em sua direção, e ela ficando com vergonha de nós, acabou se escondendo atrás das pedras, mas para o faro da mascote não foi o suficiente, ela a delatou.
        J. Pina muito experiente, depois de se recuperar da surpresa, me chamou e disse:
     - Abbade vai o mais rápido que puder em nossos caminhões e traz todas as toalhas que temos e um lençol e coloca uma água para esquentar, e no porta-luvas de meu caminhão têm uma tesoura, queima ela no fogo e traz também, que vou precisar.
       Eu fui mais rápido que pude, quando cheguei de volta o meu amigo já tinha conversado com a mulher Andina, ela estava mais tranqüila, viu que estávamos ali para sim, ajudá-la.
       Ele pegou logo as toalhas e colocou o lençol no chão e pôs a senhora em posição de parto em quase posição de cócoras, mas em pé porque ela não queria se deitar.
       Eu voltei para buscar a água quente e a tesoura esterilizada no fogo, e levei a mascote comigo e coloquei dentro da cabine do caminhão do meu amigo, para não atrapalhar em nossa tarefa.
     “Ela já teria feita a dela que foi nos mostrar à senhora Andina”.
       Quando cheguei de volta de novo até onde eles se encontravam, o meu amigo tinha em seus braços um lindo menino e já chorando e com uma garganta que dava eco nas montanhas.
        O meu amigo pegou a tesoura e cortou o cordão do umbigo do Bebê cerca de um palmo mais ou menos, em seguida ele limpou um pouco o Bebê com toalhas e água morna.
        A placenta custou um pouco a sair toda para fora, mas com calma o meu amigo dominou a situação.
        Aí depois da situação controlada, todos mais calmos, nos permitimos de até abrirmos um sorriso de felicidade.
        A senhora Andina tomou seu filhinho no colo, nos dirigimos até onde estavam os caminhões com muita dificuldade, colocamos ambos em meu caminhão.
      “Um fato mais curioso do que até então já tínhamos presenciado naquele momento, foi duas fotos já um pouco desmerecidas que a senhora Andina trazia junto ao seu corpo amarrada com um pano em seu braço direito, não tirava de jeito nenhum, estas eram de Nossa Senhora de Fátima e Defunta Corrêa, esta última é uma santa Argentina, onde ela morreu com sede, mas seu Bebê permaneceu vivo, sugando algumas gotas de leite que ainda tinha sua querida mamãe morta, e foi salvo por alguém em um dos desertos argentinos, e se tornou umas das santas com mais devotos dos povos argentinos”.
        Depois fomos amarrar o estepe no lugar novamente, e desta vez bem amarrado com uma boa corda para não cair novamente, eu tive sorte poderia cair na rodovia e ocasionar um acidente de proporção grave, e a senhora Andina teve mais sorte ainda de ele cair ali naquele lugar e na hora certa, assim já a ajudamos, este estepe foi à luz na sua hora difícil.
        Eu e meu amigo retornamos alguns kilometros nas Cordilheiras dos Andes, com muito cuidado, porque estava com dois passageiros especiais.
        Levamos à senhora Andina para a Gerdarmeria (policia) Argentina, que fica bem no meio das Cordilheiras, na localidade chamada de Puente Del Incas, onde eles poderiam dar uma assistência maior para aquela senhora Andina.
        Eles ficaram tão surpresos quanto nós, mas tomaram logo as providencias levando à senhora e seu Bebê a um hospital mais próximo que ficava na cidade de Mendoza.
        Os policiais de plantão registraram o fato e depois retomamos a nossa viagem, rumo a Santiago, ”Chile”.
        Este dia de natal foi muito abençoado, seguramente o mais lindo que até então eu e meu amigo teríamos passados em todas as nossas vidas, o mais gratificante sem dúvida nenhuma.
        Esta nossa história verídica foi roda de conversa por muito tempo entre os colegas de estradas.
        O J. Pina ficou tão emocionado do ocorrido que colocou o nome de sua nova parceira de cabine de “Estrela Andina”
      “Porque graças a diversos fatos que aconteceram durante a viagem, a carona do velhinho que desapareceu misteriosamente, deixando a sua cachorrinha ali para mim, agora “Estrela Andina” pneu trocado durante a viagem, a corda podre que o borracheiro tinha amarrado o estepe, a solda feita rápida no suporte do estepe na empresa, não resistindo fazendo o estepe trabalhar até romper a corda e não resistindo as curvas da estrada e veio cair justamente ali”.
        Deus às vezes, nos da à impressão, de que esquece a gente por um longo tempo, mas é só imaginação de nossas cabeças, ele nos observa a distancia e no momento certo ele nos mostra que esta ali, do nosso lado, como nosso maior amigo para nos ajudar na hora e no momento certo, e nos fortalecer na sua palavra, com esta bênção maravilhosa de podermos ajudar uma senhora Andina a ganhar seu Bebê, justamente em um lugar que não têm nada a não ser montanhas e montanhas, onde estas são cortadas por uma estrada perigosíssima, quando seus habitantes necessitam de recursos, estes são distantes e dependem da boa vontade de alguns motoristas de corações generosos.
      “Realmente era para estarmos ali naquele momento, Deus nos mostra o certo por estradas tortas, é o ditado mais certo neste momento”. Antigo, um pouco modificado, mas justo para esta ocasião.
     “Até hoje ainda penso que foi São Benedito, o santo das causas impossíveis’, que viajou comigo naquela noite de saída da fronteira, embora ninguém acredite em mim”.
     “O Estrela Andina esta aí fazendo horrores na cabine de meu amigo J. Pina é a única prova que o santo esteve comigo durante a viagem”.

       Meu companheiro de viagem, esta história é verídica se passou conosco no natal de 1993 e foi narrado por mim, o autor em 02 de março de 1994, aduana Defiba, Buenos Aires, Argentina, está registrada nos livros da Gerdarmeria (policia) argentina nas Cordilheiras dos Andes, e com esta benção de ganhar este presente justamente no dia que Jesus veio ao mundo, tenho a certeza que estou no caminho certo para escrever, e terminar este projeto de meu livro só de Contos de Beira de Estrada que teve seu inicio inscrito em 1994 com esta linda história.

        Anjo eu sugiro a você passar uma água no rosto para lhe refrescar um pouco, porque depois desta pausa nas Cordilheiras dos Andes, vamos colocar nosso caminhão na estrada outra vez em busca do meu amigo João Henrique que está ansioso para nos contar sua história.
        Vamos rodar alguns kilometros de retorno ao Brasil, mas vale à pena, ele me disse que estará estacionado no pátio do posto Cristal da cidade de Uruguaiana, RS, já com o chimarrão pronto, para nos dar as boas vindas.
     - Anjo nós vamos precisar de mais uma vez da ajuda divina para atravessar a fronteira Argentina, Brasil, estou com a revisão técnica vencida de meu caminhão, e isto é um prato cheio para os Gendarmes me tirar uma grana alta, estou sem algum na carteira, o que eu tinha sobrando foi deixado nas policias do estado de Entre Rios, Argentina.
        Anjo te prepara, suspira fundo, esta história de meu amigo João Henrique é de emoções fortíssimas também, veja só o que uma mãozinha do além faz para que dois irmãos se encontrem depois de anos.
      “O costume gaúcho do chimarrão, além de fazer nos aproximar mais das pessoas amigas, ainda nos trás conhecimentos interessantíssimos, pelos causos contados”.

        Foi em um lindo momento destes que meu amigo João Henrique, entre umas cuias de chimarrão e o preparo do almoço, passa a contar o encontro do destino tomado pela emoção de sua história linda.
        Confesso para você Anjo, ao longo de minhas viagens já ouvi muitas histórias, mas a que mais me deixou emocionado foi esta de meu amigo, as pedras rolam por estradas cheias de curvas, diferentes uma das outras, mas um dia pode deixar elas se encontram, foi o caso deste meu amigo.
       
       Ao longo de nossa viagem pelos caminhos dos Contos de beira de Estrada, vamos apreciando algumas fotos lindas, tiradas, durantes algumas viagens marcante ao longo de minha profissão.

            O ENCONTRO DO DESTINO

        João Henrique é um amigo caminhoneiro boiadeiro, deste que a nossa profissão faz no dia a dia, nos encontrando em postos de serviços em diversas cidades.
        Um dia nós estávamos parados no posto Cristal, Uruguaiana, RS. Perguntei a ele, porque você escolheu esta profissão?
        João Henrique tomando um chimarrão comigo ao me passar a cuia, me disse olha Abbade, eu estou nela por destino, meu pai adotivo era transportador de Gado também e eu quando guri viajava com ele sempre que podia, aí fui gostando, fiquei adulto, meu pai faleceu e aí assumi a direção do caminhão, na qual executo com muito orgulho e paixão.
        Olha meu amigo Abbade, esta profissão de motorista é muito fantástica em uma hora aqui sentado contigo tomando um chimarrão, nesta cidade, amanhã em outro lugar bem distante com outro amigo, isto me fascina, se conhece muita gente, onde se faz muitas amizades boas, assim como a nossa, por exemplo, onde se agregam conhecimentos, novas culturas, experiências que nos acompanham pela vida toda.
        Amigo Abbade escuta o que minha profissão, me deu de presente na véspera de natal do ano passado.
        Já é quase meio dia, faz um arroz carreteiro com este charque que comprei em Vacarias para nós comermos, enquanto isto eu vou te contar a minha história.
        Claro meu amigo João Henrique será um prazer te escutar e ter você como minha companhia no almoço.
        Enquanto eu picava a carne para o carreteiro, coloquei a cozinhar na panela de ferro uma carne de porco bem temperado, para usar o caldo no meu prato principal, envolvido pelo cheiro gostoso que vinha das panelas, João Henrique foi me contando sua história.
     --Abbade meus pais verdadeiros morreram ainda muito jovens em um acidente de carro, quando eles vinham retornando de uma festa de aniversario de um primo de minha mãe, deste acidente, só ficaram eu e meu irmão José Augusto, vivos.
        Tínhamos na época três anos de idades, pois somos gêmeos.
        Logo depois do acidente fomos morar com nossos avôs paternos, mas eles eram muito pobres, não tinham condições de nos criar.
        Na cidade onde morávamos, tinham duas famílias que queriam nos adotar e assim nossos avôs o fizeram me deram para esta família, cujo meu pai era motorista boiadeiro e meu irmão foi dado para outra família que morava um pouco distante em outra cidade.
        O tempo foi passando nunca mais nos vimos e nunca soubemos notícias um do outro, se passaram quarenta e três anos.
        No final do ano passado, eu estava transportando gado para uma fazenda na cidade de Livramento, que fica aqui perto na fronteira com o Uruguai.
        Eu tinha levado minha mulher e meus filhos, pois de repente, à viagem não sairia como eu teria previsto, eu poderia ficar o final do ano longe de minha família e assim já estávamos juntos por via das dúvidas.
        Bem a viagem foi perfeita, entreguei o gado na fazenda, comemos um gostoso capão assado nas brasas, na companhia do estancieiro, regado por um bom vinho caseiro feito pelo Sr. João, um empregado velho da estância que já estava aposentado da lida do campo, e só dedicava seus dias nestes afazeres e mais alguns leves na volta do casarão da fazenda.
        As minhas crianças se perderam no meio das mangueiras de gados que estavam à espera de vacinação e banho de carrapaticida, brincando, suas alegrias eram tantas que voltaram todos sujos, claro receberam uma boa bronca da mãe deles.
        À tardinha iniciamos o retorno para nossa cidade novamente, em um trecho da estrada BR 290, eu comuniquei a minha mulher, daqui a uns trintas kilometros tem a cidade de São Gabriel, onde tem um posto de combustível bem no trevo da cidade, onde os banheiros são limpos.
        Podemos tomar um banho gostoso e dormir ali mesmo e sair amanhã cedo depois do café da manhã e ainda vamos chegar a nossa casa antes do meio dia de véspera do natal, mas sãos e salvos tranqüilos, sem estresse.
        Minha mulher concordou, achou uma ótima idéia, pois ela e os filhos já estavam cansados.
        Mas o destino me preparou uma surpresa, o motor do caminhão começou a falhar e eu tive que encostar o mesmo no acostamento da rodovia.
        Com o clarão das luzes do caminhão, deu para eu enxergar a entrada de uma fazenda, estacionei ali mesmo, ficava um pouco fora da rodovia, um lugar seguro sem correr risco de um acidente.
        Abri o capô de proteção do motor para verificar a pane, mas como era noite a escuridão não me deixou concertar o mesmo, e sim só à luz do dia.
         Sinalizei a rodovia com galhos de arbustos, para ficar mais seguro por causa de um colega desatento, assim qualquer um avistava meu caminhão de longe, eu e minha família dormimos ali mesmo, longe do posto e muito longe do banho também, no dia seguinte acordamos o sol já estava alto.
         Enquanto minha mulher esquentava a água do chimarrão, eu consertei a falha no motor do caminhão.
         Olhei para estrada dentro das terras da fazenda, vinha uma camionete alta do chão fazendo muita poeira, imaginei logo que fosse o dono da mesma e estava com pressa, e meus pensamentos estavam corretos.
         Para ajudá-lo abri a porteira, ao cruzar por ela ele me cumprimentou, com um bom dia e agradeceu por ter aberto a porteira, não há de que respondi depois de cumprimentar o estancieiro.
         O mesmo me perguntou se eu estava com algum problema, se ele poderia me ajudar lhe respondi que estava tudo bem, foi só um problema de bico injetor, mas já estava concertado era só o tempo de reunir as ferramentas e já vamos seguir viagem.
         Bem amigo se precisar de qualquer coisa, por favor, é só ir à sede da fazenda que te ajudaremos.
         Obrigado senhor, como já lhe disse agora esta tudo bem, quem sabe em outra ocasião.
         Dito isto o fazendeiro engatou uma marcha na camionete, e seguiu para seu destino.
         Eu me virei e estava conversando com minha mulher, ouvi um barulho era o fazendeiro retornando de marcha ré em sua camionete.
         Ele desligou o motor e veio conversar comigo:
      - Bem amigo eu estava com tanta pressa que quase me esqueci do que iria fazer, por isto voltei para falar contigo.
      - Eu estou precisando de um caminhão boiadeiro para transportar alguns boizinhos que comprei em um leilão ontem na sede do sindicato e este não pode ficar nos piquetes tenho que tira-los o mais rápido possível.
      - É só carregar lá e trazer para esta fazenda, isto da uns setenta kilometros aproximadamente ida e volta, mas pago o frete dobrado porque comprei bem estes boizinhos.
        Bem conversamos, combinamos tudo, eu estava vazio mesmo, não tinha nada a perder, minha família estava comigo e frete bom não dá para se perder.
        Assim que liguei o motor já saímos rumo ao tal Sindicato, o fazendeiro seguiu com sua camionete na frente e eu atrás seguindo o mesmo com meu caminhão, até o local de carregamento.
        Encostei o caminhão na rampa para carregar os boizinhos, enquanto o fazendeiro fazia a nota de transporte, por causa da fiscalização.
        Ao me entregar a mesma eu lhe perguntei qual era o seu nome?
     - Chamo-me José Augusto, mas a nota esta em nome de minha filha Beatriz é ela que administra a fazenda para mim hoje, mas ela esta ausente no momento esta acamada no hospital da Capital à espera de um doador de medula óssea,
     - Você qual é o seu nome?
     - Eu João Henrique.
     - Bem João Henrique, agora você já sabes onde carregar, eu acho que vai todo este gado em cinco viagens, eu vou te dar as notas de todas, é só carregar e levar para minha fazenda, a onde você estava com teu caminhão estragado.
     - Eu te espero lá, até já telefonei para minha mulher, lhe pedi para aumentar a comida, esperamos vocês para almoçarem conosco.
      - Está bem senhor José Augusto, mas na ida vamos parar no posto para tomarmos um banho e logo estaremos na sua fazenda.
      - Bueno João Henrique esta bem, você faz sua viagem tranqüilo, mas não almoça, esperaremos vocês para o almoço conosco.
        Assim fizemos, estacionei o caminhão bem na frente do banheiro do posto para não se perder tempo.
        A minha mulher e as crianças foram tomar banho primeiro, depois enquanto ela colocava uma roupa melhor nas crianças, eu fui banhar-me e já saí arrumado do banheiro.
        Em seguida passei na lancheria do posto e já comprei uma garrafa de água para as crianças e tão logo, fomos para a fazenda levar o gado.
        Chegando a fazenda, já estacionei o caminhão direto no local de descarregar os animais, enquanto os peões faziam o serviço, fomos almoçar.
        A sede da fazenda era um casarão antigo, muito lindo com uma porta enorme, sua largura era quase igual à altura, esta nos levava direto ao salão de troféus de qualidade de raças especiais de bois que ele criava.
        O senhor José Augusto nos recebeu e nos apresentou para sua simpática família, “esposa e mais dois filhos homens já moços” sua esposa nos disse que estava faltando, à sua filha mais velha, esta que estava no hospital da Capital que seu marido já nos tinha dito, mas nos mostrou sua foto de formatura de veterinária, muita linda, eles estavam muitos felizes por nos receberem em sua casa, com muita hospitalidade, nos deixou bem à vontade, nos sentíamos em nossa própria casa, pelo carinho de ambos.
        Nós estávamos todos reunidos em volta de uma mesa grande, em outra sala menor que dava direto para os outros aposentos do casarão, o almoço foi servido e, diga-se de passagem, que almoço gostoso, tão logo nós satisfeitos a esposa de José Augusto gentilmente nos pediu licença, levantou-se e foi até a cozinha e trouxe o doce mais gostoso, que até então eu teria comido na vida, de abóbora, com sua casquinha crocante, feito por ela mesma.
         Enquanto eu saboreava aquele doce de abóbora gostoso, eu olhava dependurado na parede um quadro misturado a outros que chamava minha atenção, era uma foto de um casal com duas crianças agarrada as mãos deles e outra no colo, já bastante desbotado pelo tempo, perguntei a esposa de José Augusto, quem era?
      - Da qual ela me respondeu:
      - Seu João Henrique, estes são os pais verdadeiros de meu marido, mas eles já estão todos mortos, inclusive aquela criança no colo também.
      - De sua família só tem um irmão, ela apontou com o dedo o menino do lado direito, mas se separaram quando ainda eram crianças, este irmão foi dado para outra família criarem e nunca mais o meu marido o viu.
      - Hoje é quase um milagre se saber quem é, quarenta e poucos anos sem se verem, eles eram diferentes, olha para o senhor ver, embora sendo gêmeos, mas são totalmente diferentes, quem sabe um dia se encontra, seria um presente para meu marido.
       - O senhor sabe, ele colocou esta foto aí, faz anos e sempre está limpando, está é a única foto que ele tem de sua família, só ele faz isto eu nem chego perto, tenho medo de quebrar este quadro.
         Ela virou o corpo para a direção oposta e apontou outro quadro.
      - Estes são os pais que lhe criaram, não tinham filhos, fizeram de José Augusto seu filho verdadeiro.
      - Ao morrerem deixaram todos seus bens para meu marido.
        Eu escutei a esposa de José Augusto com muita atenção e fiquei intrigado com a história contada por ela.
       “Comecei a pensar e juntar as peças, eu também sou filho adotivo até onde eu sabia de minha história de infância, e esta do senhor José Augusto era muito parecida com a minha”.
        Fiz mais umas perguntas para a esposa de José Augusto, este já não estava mais entre nós, foi atender alguns peões no escritório da fazenda.
        Eu tomado pela emoção e no mesmo tempo com medo da frustração, de repente poderia ser só coincidência, José Augusto só poderia ser meu irmão gêmeo, mas só ele poderia tirar esta dúvida minha.
        Então disse para minha mulher, eu vou até o caminhão e já volto, chegando ao mesmo peguei um patuá.  ”Um saquinho bordado à mão feito pela minha mãe verdadeira, onde ela colocou seu nome Vitória em um dos lados do saquinho”.
         Eu de posse deste patuá, voltei para dentro do casarão, minhas mãos e pernas tremiam, neste meio tempo o meu amigo já estava de retorno à sala novamente, eu já tomado cem por cento pela emoção, lhe mostrei o patuá com o nome de nossa mãe Vitória, e lhe disse com a voz tremula:
      - Eu acho que nossa mãe nos colocou novamente junto, você deve ter contigo um patuá igual a este, ela nos deu um mês antes de morrer naquele acidente junto com nosso pai e nosso irmão mais novo para nos proteger por todas as nossas vidas.
         José Augusto, emocionado e tomado pela surpresa, se sentou em uma cadeira de madeira grande com seu assento empalhada, que estava diante da lareira, pediu um copo de água para sua esposa, depois mais calmo colocou a mão no bolso e tirou um patuá igual o meu, ele se grudou a mim em um abraço tão forte, que não resistimos, nós fomos às lágrimas iguais a duas crianças, que tinham ganhados os melhores presentes de natal, nós pulávamos abraçados um no outro de tanta alegria, alias foram todos os familiares que estavam na sala às lagrimas, que testemunharam este lindo encontro, realmente o momento era muito especial de muita emoção, nós éramos os irmãos que o destino tinha separado na infância por quarenta e três anos, e o mesmo destino nos uniu novamente por um encontro fantástico do acaso.
         A partir deste momento minha família se uniu à dele em uma felicidade única, curtindo este presente do destino.
         Eu posso falar seguramente por minha Família e pela de meu Irmão José Augusto também, eu tenho a certeza, que este foi o melhor natal, sem dúvidas nenhuma de todos os que passamos, e por conta da felicidade, aproveitamos e já passamos o primeiro do ano juntos, para recuperar um pouco do tempo perdido.
        Mas a felicidade não para por aí, a melhor graça mesmo alcançada por nós, que foi uma benção de Deus e acreditando que de nossos pais também, foi eu ser compatível com a Beatriz minha sobrinha, fui seu doador de medula óssea, isto estourou a boca do balão de tanta felicidade, e no ano seguinte ela se juntou a nós para sempre em todas as comemorações festivas de família.
       -E aí Abbade este almoço sai o não sai, te contando a minha história, confesso que me deu uma fome, estou louco para comer este arroz carreteiro, que pelo cheiro esta uma delicia.      
      - Claro amigo João Henrique, eu acho que o vento levantou um cisco, e veja você foi parar justamente em meus olhos, enquanto eu lavo os olhos na Bica d’água, Por favor, pega um prato e vai se servindo, este carreteiro está de primeira, foi temperado com muito carinho, é o mínimo que posso fazer por você, em homenagem a sua linda história, até eu te ouvindo me emocionei, imagina vocês protagonistas deste lindo encontro do destino.
       “Depois do nosso almoço cada um seguiu seu destino, um dia quem sabe não nos encontramos novamente e João Henrique não tenha outra história linda para me contar”.

         Diga-se de passagem, que história, em Anjo, eu me emociono a cada vez que penso neste encontro dos dois.
         Esta história é verídica foi contado pelo meu amigo João Henrique Amaral no posto Cristal, Uruguaiana, RS.
Dia 12 de outubro de 1994.
         Nossa esta pegou forte em Anjo, eu estava um pouco fragilizado emocionalmente com Estrela Andina, com encontro do destino foi meio caminho andado para deixar cair algumas lagrimas.

         Meu amigo Anjo, vamos seguir em marcha com nosso caminhão outra vez, mas para dar um tempo de recuperação aos nossos corações vamos devagar desta vez nas nossas emoções.
         Recebi um telefonema de meu amigo Moacir ele me disse que esta com um pneu furado no seu caminhão e vai concertar na borracharia de Pântano Grande.
         Vamos aproveitar, é uma grande oportunidade de rever meu amigo, eu ao lhe dar um abraço por conta do tempo que não a vejo, vou unir o útil ao agradável e enquanto calibramos os pneus de nosso caminhão, escutamos o presente de 15 anos que ele quer nos contar, esta é mais leve, mas de uma riqueza fantástica pelo rumo que seguiu um dilema na vidas de meus amigos.

            O PRESENTE DE 15 ANOS

         Seu Tomé nasceu e cresceu na roça, o mais longe que foi na sua vida, era a feira de fim de semana na sua cidade natal, que ficava cerca da fronteira com a Argentina.
         Seu Tomé morava na localidade chamada linha Vitorino, cujo nome foi dado, fazendo uma homenagem a seu avô, morador e fundador do local, hoje já falecido, para ele ir à outra localidade, lhe era muito difícil, lhe faltava coragem.
         Sua filha Márcia nesta época mais precisamente dia 08 de maio de 1979 estava fazendo quinze anos, ela não queria festa, mas fez um pedido a seu pai, como presente ela queria ir à Porto Alegre, assistir um show do Roberto Carlos no Gigante da Beira-Rio, estádio do Internacional Futebol Clube, este se apresentava no mesmo dia de seu aniversário na capital, em homenagem dos 15 anos também, do Jornal Zero Hora.
        Seu Tomé ficou agoniado, não sabendo como atender ao pedido de sua filha Márcia, este pediu ajuda a seu filho Moacir, este já conhecia Porto Alegre, já teria estado na Capital do Rio Grande do Sul, mas já fazia uns dez anos aproximadamente, na ocasião foi de carona com um amigo advogado.
         Para Moacir também não era fácil, porque sempre foi criado na roça também, mas seu Tomé seu pai, confiava mais nele por ser mais jovem, era mais fácil para lidar com coisas difíceis.
         Moacir pensou: “Eu não posso negar o pedido de meu pai, tenho que realizar a vontade de minha Irmã, afinal é o sonho dela”.
         Moacir estava se enchendo de coragem para levar sua irmã de ônibus, mas ele não sabia como fazer para chegar ao Gigante da Beira-Rio, local do show do Roberto Carlos, Moacir fez este comentário com José, seu irmão mais velho.
         A dona Ema mãe deles escutando a conversa, deu uma idéia fantástica, quem sabe vocês não lotam o caminhão de melancias e morangas, vão lá a tal de Ceasa que já ouvi falar, onde se vende de tudo de hortifrutigranjeiro, quem sabe vocês não vendem tudo, e depois levam a Márcia para assistir o show do Roberto Carlos.
         Moacir fala para o teu pai sobre esta idéia assim que ele chegar da lavoura, dona Ema lhe falou enquanto secava a louça da janta do dia anterior.
         A idéia de dona Ema para Moacir veio como uma luva, os três juntos era bem mais fácil.
         A Márcia também aprovou a sugestão de sua mãe, e para o seu Tomé, só lhe restou em concordar com sua família.
         Porto Alegre para eles era outro mundo, mas como a união faz a força e muitas vezes a coragem também.
         O presente de Márcia estava meio caminho andado, assim na segunda feira bem cedo, todos foram para a lavoura carregar o caminhão Chevrolet ano 1986, mas bem conservado pelo irmão José, eles lotaram sua carroceria de melancias e morangas, escolheram as mais lindas frutas da lavoura.
         A noite seguinte a véspera da viagem, dona Ema e a Márcia fizeram uma galinha caipira na farofa e um bolo de chocolate, e prepararam algumas garrafas de café com leite para eles levarem na viagem a Porto Alegre, para não gastarem nada pelo caminho e economizar o dinheiro para os ingressos do show.
         Márcia de tão ansiosa não conseguiu dormir o resto da noite, ficou acordada por conta de seus pensamentos, um atropelando o outro.
         Às três horas da madrugada de terça feira, eles despediram-se de dona Ema e José e se foram para a capital achar esta tal de Ceasa.
         O caminhão Chevrolet tinha a cabina pequena, foram um pouco apertados, mas bem otimistas os três.
         Dona Ema acendeu uma vela para a Nossa Senhora das Graças, de quem ela era devota, depois de rezar um pai nosso e uma ave Maria, fez um pedido especial a Santinha, para ela protegê-los em sua viagem e ajudar a vender todas as frutas também.
         Bem perguntando para os amigos caminhoneiros, quando paravam em alguns postos pela estrada, conseguiram chegar lá no Ceasa no bairro Anchieta, Porto Alegre.
         Eles chegaram cedo perto das sete horas da noite aproximadamente, seu Tomé armou duas redes embaixo da carroceria do caminhão, uma para ele e outra para Moacir, e Márcia se acomodou na cabina, assim eles descansaram até abrir os portões do Ceasa, que abriam às quatro horas da madrugada.
         Assim que abriu o portão seu Tomé já informado como se fazia para venderem suas frutas, encostou seu caminhão em uma rua interna e só esperou os fregueses aparecerem.
         Moacir conversando com outros colonos mais experientes que vendiam suas frutas no Ceasa, estes passaram algumas dicas dos procedimentos para melhor venderem suas frutas.
         A Márcia estava muito feliz e muita ansiosa, ela guardava sua mala bem segura na cabina do caminhão, ali estava sua melhor roupa para colocar para assistir o show de Roberto Carlos, abria toda hora que podia só para olhar, segundo ela para ver se não estava amassada na mala.
         As vendas foram tão boas, que na sexta feira de manhã já não tinha mais uma fruta na carroceria do caminhão, eles faturaram um bom dinheiro, melhor que as vendas na praça da igreja linha Vitorino, valeu a pena a viagem.
         Moacir se informou com um amigo que fez no Ceasa, este fez um mapa em um pedaço de papel, indicando como eles chegavam ao Gigante da Beira- Rio.
         Seu Tomé colocou o dinheiro que tinha faturado nas vendas das frutas em uma sacola de plástico, escondeu debaixo do banco do caminhão, ele separou algumas notas o suficiente para os ingressos e mais algumas despesas extras que poderiam ter.
          Sábado de manhã bem cedo eles estavam em frente ao Gigante da Beira- Rio, seu Tomé estacionou o caminhão Chevrolet em um lugar proibido, não demorou a um policial aparecer para multá-lo.
          Seu Tomé explicou para o policial, sobre o motivo porque estava ali, o policial vendo que eram pessoas humildes de bom coração, e como ele também veio do interior trabalhar na capital, deu uma força para eles, deixando a multa pra lá, indicando outro lugar para estacionar mais seguro.
          Moacir deixou o pai e sua irmã Márcia conversando com o policial e foi comprar os ingressos para o show do Roberto Carlos, a fila era grande, mas pouco importava para ele este sacrifício, à felicidade de Márcia era mais importante e por tabela a dele também, assistir um show de Roberto Carlos era um sonho que até então ele jamais pensava em realizar, só através do presente de seu pai, à sua irmã Márcia.
         A procura dos ingressos foi tão grande, que ele só conseguiu lugar no gramado do estádio, mas já estava muito bom para eles, de tão feliz comprou até para seu Tomé.
         O show só começava as vinte e duas horas, mas desde as cinco horas da tarde, já formavam enormes filas nos portões do estádio, assim os três fizeram um bom lanche, em uma tenda que uma senhora armou perto do caminhão deles.
         O policial garantiu ao seu Tomé que o caminhão ali estava seguro, ele poderia assistir ao show tranqüilo junto com seus filhos.
         Eles vendo que as filas aumentavam a cada minuto que passava, resolveram entrar também, assim eles ficaram até abrirem os portões.
         Quando foram abertos os portões, os três escolheram o melhor lugar que até então era possível para assistir o show do Roberto Carlos.
         Seu Tomé ficou apavorado com tanta gente, a maior quantidade de gente que até então ele tinha visto, era perto de quinhentas pessoas aproximadamente, na festa da padroeira de sua cidade natal, ali ele estava rodeado por talvez umas quarenta mil pessoas mais ou menos.
         Moacir nem falava, só olhava curioso para todos os lados, os três nunca sonharam sequer um dia colocar os pés em um lugar assim.
         Márcia passou a mão em um banco no caminhão para ficar mais alta, um metro e sessenta e dois centímetros não era suficiente para melhor olhar o seu Ídolo, estava atenta a cada manifestação do público, mas de olho no palco.
         Quando o maestro Eduardo Lage colocou seus músicos a puxar umas das lindas melodias do Rei, o Roberto Carlos entrou ao palco para fazer o show, seu Tomé quase não conseguiu ver nada, pois lhe faltava altura, acompanhou alguns momentos no telão do estádio espremido entre aquela multidão toda.
         A Márcia estava atenta, a todos os movimentos de seu ídolo, tirou muitas fotos a cada musica cantada, para mostrar as suas amigas da linha Vitorino, sua felicidade era muito grande.
         Moacir passou o tempo todo olhando as manifestações do público nas arquibancadas, nunca tinha visto algo igual em sua vida, ele estava encantado, eles faziam seu show acompanhando as músicas de Roberto Carlos.
         O show durou duas horas aproximadamente, para a Márcia, foi muito pouco, mas para o seu Tomé e Moacir foi muito longo, não estavam acostumados a tanto barulho assim.
         Terminou o show, e na saída foi uma pega para capar danado, cada qual queria sair primeiro, os três ali que nem mosca tonta, até que deu um clarão no portão de saída, eles puderam sair.
         Ao chegar ao caminhão seu Tomé olhou para ver se estava tudo em ordem, o policial ainda estava por ali controlando o movimento, a Márcia ficou conversando com o mesmo, até para agradecer pela ajuda a eles.
         Seu Tomé esperou o movimento de carros ficarem mais calmo e saiu rumo a sua cidade natal.
         Andaram direto com o seu caminhão Chevrolet, com umas paradas de vez em quando para esfriar o motor, e eles descansarem e esticarem as pernas até a linha Vitorino, sono, que sono, sua alegria e a vontade de chegarem a sua terra natal eram mais fortes.
         Eles estavam cheios de novidades para contar para dona Ema e os amigos que ficaram torcendo por eles.
         Quando eles chegaram à linha Vitorino, dona Ema esperava ansiosa e as amigas de Márcia mais ainda, cercaram-nos para saber de todos os detalhes da viagem e o show.
         A viagem deles foi assunto da semana inteira na linha Vitorino, até Moacir fez sucesso entre as meninas da localidade, cercando ele para saberem de todas as novidades.
         Esta viagem a Porto Alegre foi tão boa para eles em todos os aspectos, que todos saíram ganhando, foi o começo de um futuro promissor de muita felicidade.
         Pelo sucesso das vendas das frutas, seu Tomé retorna duas vezes por semana a Ceasa para vender a colheita de sua propriedade e de alguns vizinhos, agora não mais com seu caminhão Chevrolet ano 1986, e sim com duas Mercedes bens modelo 1513, novinhas três eixos, ele esteve que contratar empregado para dirigi-lo.
         O Moacir por conta das novidades do show do Roberto Carlos, ele conheceu uma menina que hoje é sua esposa, ele também é proprietário de um caminhão Mercedes bens e ajuda seu pai e o irmão José no transporte da safra para o Ceasa.
          A Márcia começou a se corresponder por carta com aquele policial, que fazia seu trabalho de segurança no Gigante da Beira-Rio, no dia do show de seu ídolo, e hoje ele largou a farda, e se mudou para linha Vitorino, e é seu marido, e ele viaja em seu próprio caminhão Scania modelo 111, para o Ceasa de Porto Alegre bem feliz ao lado de Márcia, que lhe faz companhia em suas viagens.
          O José, irmão de Márcia e Moacir, também comprou um caminhão Mercedes Bens, e viaja para o Ceasa junto com seu pai e Moacir até já tem duas alas na Ceasa para melhor centralizar suas colheitas de hortifrutigranjeiro, onde seu filho mais velho lhe ajuda nas vendas e na contabilidade.
          Esta foi à melhor sociedade que uma família podia fazer para o sucesso, juntou amor com felicidade e confiança a toda família de seu Tomé.
          Até tempos de hoje seu Tomé e dona Ema e seus filhos, comentam e recordam com carinho a viagem a Porto Alegre, a sorte que o show de Roberto Carlos deu a eles, modificou a vidas de todos, trazendo muita sorte e felicidades a ambos.
          Até dona Ema conhece a capital e gosta das novidades de lá, sempre que pode pega uma carona com um deles e vai passear um pouco, e trás muitas novidades da capital para vender para suas amigas da linha Vitorino.
         
      
         Está história é verídica e foi contada pelo o Moacir Modenbach, enquanto concertava um pneu de seu caminhão em uma borracharia no trevo de Pântano Grande, RS. carregado com melancias em 12 de janeiro 1995.

      - Meu amigo Anjo como você está?...  Já está recuperado, coração batendo mais calmo, olha os batimentos cardíacos!
         Esta foi mais leve na estrada da emoção, nos deixou mais relaxados, te convido a seguirmos nossa viagem, fiz um chimarrão, vamos tomando, assim você me dá apoio emocionalmente, para rodar mais alguns kilometros e chegar a mais um amigo caminhoneiro e pegar sua história, e já aproveitamos e almoçamos juntos com meu amigo Frederico, ele faz uma galinha com quiabo que aprendeu com uma senhora mineira de tirar o chapéu, assim ele narra sua história de inteligência animal, o Ardotivo.
                                      
            O ARDOTIVO

          Esta história se passou com dois amigos estradeiros de muitas viagens internacionais juntos no território argentino, Frederico e o Sergio, este último conhecido pelo codinome de “Pato”.
          Bem no auge da crise argentina por motivos econômicos, por coincidência ou não esta história se passou no mesmo ano, eles contam como verídica, as testemunhas estão vivas para confirmarem a verdade da mesma.
          Frederico e o Pato estavam com seus caminhões estacionados no pátio da empresa, da qual eles iriam descarregarem suas carretas com produtos químicos na cidade de capela do Senhor na grande Buenos Aires, Ar.
         O chefe tinha comunicado a eles que só iriam descarregar no dia seguinte.
         Como já era de tarde perto das seis horas, depois de umas boas cuias de chimarrão eles foram fazer a janta.
         Como o Frederico gostava de carregar no tempero da carne, o cheiro chamou atenção de uma cachorra que logo se aproximou deles.
         Os amigos olharam o estado físico da cachorra, se apavoraram, era de dar pena tamanha fraqueza do animal, mal podia ficar em pé, suas tetas quase arrastavam pelo chão murchas.
         Mas o que eles poderiam fazer no momento pelo animal! Quase nada, a comida que eles estavam fazendo estava quente!
         O Pato foi até seu caminhão e trouxe alguns pães secos, e o Frederico passou a mão em uma caixa de leite, bem esta foi à única formula que eles acharam de saciar a fome da cachorra, ela comeu tudo com uma gana de dar dó.
         Logo depois de o animal comer aqueles pães, ela sumiu pelo pátio da empresa.
         Passaram uns quinze minutos aproximadamente, eles olharam para o lado direito em direção às cabines dos caminhões, vinha ela trazendo um filhote atravessado em sua boca, e chegando perto deles, soltou o mesmo aos pés de Frederico, e saiu novamente enquanto eles olhavam surpresos para o filhote.
         Não mais do que dez minutos, ela voltou com mais oitos filhotes, mas estes correndo atrás dela, uns se chocando aos outros, porque também estavam debilitados, ou seja, fraquinhos, e ficou ali perto dos dois amigos sentada, enquanto seus filhotes tentavam desesperadamente sugar uma pequena gota de leite daqueles tetos murchos.
         Os amigos ficaram admirados pela inteligência do animal, como ela não poderia mais alimentá-los, ela trouxe até os mesmo para fazerem alguma coisa pelos seus filhotes.
         Frederico tinha um pacote de polenta em sua cozinha do caminhão, pegou e colocou em uma panela grande e cozinhou a mesma com bastante água, enquanto esfriava a polenta ele colocou em cima um pouco do molho da carne, da qual eles já estavam cozinhando para a janta deles.
         Coitados dos filhotes, quando esfriou um pouco a polenta, o Pato colocou em cima de um papelão, para não por no chão puro, eles disputavam nos empurrões cada pedaço daquele banquete.
          Aquele primeiro filhote que a cachorra tinha trazido na boca, o Pato deu alguns pedaços de polentas separados, ele estava muito fraco para disputar com os irmãos um pedacinho daquela riquíssima refeição.
          Depois o Frederico pegou uma vasilha de plástico, e foi até a barrica da carreta e pegou um pouco de água e colocou para eles tomarem para lhes ajudarem na digestão da polenta.
          Frederico e o Pato se envolveram tanto com os animaizinhos, que quase deixaram queimar o arroz que estavam fazendo, para juntar com a carne para suas jantas.
          Depois do banquete, a cachorra permaneceu ali por mais uns poucos minutos, e foi embora com seus filhotes, mas deixou aquele fraquinho para trás, Frederico e o Pato pensaram que ela viria mais tarde para buscar o mesmo, que nada!  Mais uma vez a cachorra abusou da inteligência, como eles trataram bem aquele filhote em particular, ela deixou com eles de presente.
         Depois das sete horas da manhã do dia seguinte, ela retornou e o Frederico pegou o seu filhote, e colocou junto a ela, ela brincou com o mesmo como se fosse uma despedida, carregando muitas vezes em sua boca para um lado e para outro, e quando eles se deram conta ela sumiu novamente.
         Aí eles tiveram a certeza, que a cadela tinha lhes dado aquele filhote de presente.
         Frederico levou o mesmo para sua casa em Santana do Livramento, e o filhote agarrou corpo, ficou forte, e hoje é o xodó da sua família.
        Quando eles saem para passear de carro em algum lugar, lá está a mascote junto com eles, feliz.
        O cachorrinho é dono de uma inteligência de deixar eles de boca entre aberta, herdou de sua mãe, esta sempre aprontando alguma coisa fora do normal.
        Ele recebeu o nome de Ardotivo em homenagem a seu país, uma mistura de Argentina com adotivo, os dois juntos formaram seu nome é assim que a família a chama carinhosamente.

        Anjo esta história é verídica, o amigo Frederico narrou a mim na aduana do Porto Seco Londrina PR. dia 15 de maio de 1997.
        Esta história foi boa não foi? Confessa Anjo, rsrsrs, uma lição para muitos motoristas cachorros, esta cachorra abusou de nossa inteligência.

        Meu amigo Anjo, a noite caiu muito rápido vamos parar no primeiro posto de combustível, para abastecer o nosso caminhão, depois que você tomar seu banho eu vou estar no restaurante, depois durante o nosso jantar eu vou te contar uma história lida, que começou em 1994 e terminou em 2001.
        Bem se você me permitires, eu contarei mais uma benção de Deus em minha vida para você, eu me orgulho de ser caminhoneiro, só esta profissão linda poderia me dar mais este presente.
         Agradeço a Deus por ter me dado esta oportunidade de realizar o sonho de uma menina que é um anjo, foi uns dos momentos, mais lindo de minha vida na estrada, eu tenho a certeza que você vai se orgulhar junto comigo desta profissão fantástica.
         Enquanto você toma seu suco de laranja bem descansadamente, eu quero te dizer o que significa um sonho de carona, mas te contando na terceira pessoa.    
  
                                                                                                                                     
            UM SONHO DE CARONA

         Lauro Abbade descarregou seu caminhão no Carrefour na cidade de Goiânia, como a tarde teria passado como um relâmpago, ele estacionou seu carga pesada em um posto da rede Cacareco, que ficava na rodovia de saída para o estado de São Paulo.
         Tomou seu banho como de costume, olhou um pouco de televisão, lá pelas vinte e três horas aproximadamente, foi dormir, correu as cortinas na volta da cabine, se preparava para buscar aquela cama tão bem merecida, depois de um dia bem puxado de trabalho.
         De repente ele escutou um barulho de chinelo arrastando no chão, acompanhado de uma batida na porta do caminhão.
         Logo imaginou que fosse alguma menina da noite, mas pela insistência das batidas fortes, levantou da cama e foi dar uma olhada.
         Para sua surpresa era uma menina alta, linda, de aproximadamente, dez a doze anos de idade, dizendo tio, por favor, me ajuda minha mãe esta muito doente, já pedi ajuda para outros seus colegas caminhoneiros e eles me negaram ajuda, por favor, minha mãe precisa de um médico.
       - Nós estamos vindos de Belém do Para, um pouco de carona e um pouco a pé, estamos indo para São Paulo, atrás de uma vida melhor, nós somos três, eu meu pai e minha mãe.
         Lauro Abbade é uma destas pessoas que o coração é maior que a caixa do peito, não pensou duas vezes tratou logo de ajudar aquela família.
         Vestiu sua roupa novamente e levou a mãe da menina no hospital público de Goiânia, ”Santa Casa de Misericórdia” e ficou esperando até a senhora ser atendida.
         Graças a Deus foi só um susto, segundo o médico foi cansaço e fraqueza, ao retornar do hospital para o posto novamente, como o dia já estava clareando, e os raios do sol já lhes brindavam com um lindo bom dia.
         Lauro Abbade passou em uma padaria e comprou pães bem fresquinhos, recém saídos das formas ainda quentes e uma manteiga com sal, chegando ao posto Cacareco, encostou seu caminhão bem no fundo do pátio, e fez um café bem gostoso para aquela família, todos comeram com muito entusiasmo.
         Enquanto eles se alimentavam, Lauro Abbade tratou de ligar para empresa em São Paulo, que iria chegar um pouco atrasado no horário.
         Claro, Lauro Abbade não iria deixar aquela família ali no posto à sorte de uma carona para São Paulo, já que iria para lá mesmo não custaria nada em levá-los, para eles aquela carona era a gloria.
         E assim depois daquele gostoso café, eles seguiram viagem rumo à cidade de São Paulo.
         Foram conversando e parando às vezes ao longo da viagem para se alimentarem e esticarem as pernas, a menina muita querida e muito comunicativa, iria contando a dura vida que ela e seus pais levavam no Pará, ela se chamava Elisa, seu pai, José, sua mãe, Conceição.
         Eles de tanto passarem fome, e mediante a um convite de um parente que já estava com sua família, na cidade de São Paulo há um ano, e estavam bem melhor que no Pará, eles revolveram arriscar tudo, até mesmo os perigos das estradas, em busca de uma perspectiva de vida, mais favorável ao ser humano.
         O sonho de Elisa era terminar os estudos e ser aeromoça, e para seu pai um serviço de pedreiro, em uma obra na capital no momento já estava de bom tamanho.
         Eles fizeram uma linda viagem, Lauro Abbade rodou durante o dia e a noite toda sem parar para dormirem, apenas para se alimentarem e ir ao banheiro, a companhia desta família para o Lauro Abbade era uma benção de Deus, ele estava feliz por ajudá-la.
          Este parente deles morava no bairro da moca em São Paulo, quando chegaram à capital, já era de madrugada, pouco movimento nas ruas, assim Lauro Abbade pode levá-los ate o bairro da moca, ao se despedirem do mesmo, os três ficaram chorando emocionados pela ajuda recebida.
          Elisa ficou com o endereço da família do Lauro em Porto Alegre. RS. No decorrer dos anos ela sempre mandava noticias, de como andavam suas vidas, seus estudos, e tudo mais.
          Nestas trocas de correspondências Elisa fez amizade com a filha adotiva de Lauro, “Michelle”, pois tinha praticamente a mesma idade, assunto era o que não faltava.
          Assim entre uma carta e outra os anos se passaram Elisa se formou no segundo grau, e com dezoito anos completos, foi em busca de seu sonho, de ser aeromoça.
          Este sonho de Elisa contagiou também a Michelle e assim Michelle fez o convite a Elisa para vir para Porto Alegre, morar com ela e seus pais, pelo menos no período do curso que durava seis meses aproximadamente, assim as duas faziam juntas o mesmo curso, até mesmo que no sul era super barato, e seu pai Lauro poderia pagar o curso das duas, e como Lauro Abbade tinha vendido umas letras de musicas para um produtor musical de São Paulo, estas lhe renderam um bom dinheiro que deu para pagar o curso das duas e ainda sobraram algumas notas na carteira.
         Elisa com aprovações de seus pais veio fazer o curso no sul, chegando à capital gaúcha, já tratou logo de fazer sua inscrição, juntamente com a Michelle.
         As duas Michelle e Elisa se dedicaram ao máximo ao curso, que quando as foram aprovadas nas provas finais, uma companhia aérea de São Paulo os contratou e assim como elas teriam que morarem em São Paulo, a Elisa pode retribuir o favor que Michelle lhe fez, a mesma ficou hospedada em sua casa em São Paulo, ate alugar um apartamento.
         Hoje as duas são superes amigas e estão muitos felizes voando em todo o sentido da palavra, nas asas dos sonhos, e da liberdade se deram o luxo de mudar de companhia hoje são aeromoças de outra companhia aérea.
         Esta amizade das duas só trouxe coisas boas para a Michele ela passou a conhecer um novo mundo, suas novas amizades lhe trouxeram conhecimentos muito importantes na sua vida.
         Como ela sempre foi uma criança levada, que gostava de aprontar, esta não se contentou em ser só aeromoça, a mesma aprendeu a andar de moto com um amigo, e com passar do tempo foi adquirindo experiências em cima da mesma, quando Lauro Abbade a viu, ela já estava correndo de motocicleta, na Categoria 250 cilindrada do campeonato Brasileiro.
          Nesta categoria segundo ela a adrenalina é mais emocionante e gratificante a cada corrida, em compensação o coração de Lauro cai aos pedaços a cada corrida, mas a Elisa esta sempre junto dela para ampará-la a cada curva do circuito Moto Velocidade com sua bandeirinha torcendo pôr ela, se tornou sua fã nº 1.
          Esta menina pode por assim dizer com todas as letras que realmente voa no ar e na terra, por suas atitudes aventurosas radicais, seu maior sonho ainda não se realizou segundo ela é de correr pelo mundo em grandes campeonatos de Moto velocidade, eu não duvido dela é muito corajosa e determinada. Ah e uma entrevista no Jô Soares na rede Globo.
          Michelle sempre diz a seus amigos, quem quiser acompanhar minha história é só acessar a páginas do campeonato brasileiro de Moto Velocidade que eu estou lá com minhas corridas e entrevistas, bem feliz.

         Esta história é verídica e se iniciou no mês de setembro de 1994 em Goiânia, GO, e terminou em 10 de julho de 2001 em Porto Alegre, RS, mas só para o Lauro Abbade, esta história continua através da Elisa e Michele que estão voando muito e feliz nas asas da Liberdade.
         Obrigado Anjo, por me escutar enquanto descansávamos de nossa emocionante viagem, na qual nos comprometemos a realizar em dupla um ajudando o outro nos longos caminhos de Contos de Beira de Estradas.
       -Esta também foi boa, não foi?
       -Esta não poderia ficar de fora de meu livro, Anjo você esta descansado, já se acostumou com as emoções fortes, então vamos em frente com nossa viagem, dormimos igual a bicho preguiça esta noite.
       -Eu estou com a revisão técnica do caminhão em dia, fiz entre uma parada e outra, de nossas viagens, naquela ocasião eu tive ajuda da mãozinha divina, tapando a visão dos policiais da província de Entre Rios, Ar, você se lembra desta, eu não esqueci.
       Vamos aproveitar este dia lindo, vamos retornar à cidade de Buenos Aires, Ar, escutar o que o amigo caminhoneiro Junior Gonzáles nos conta sobre sua Pombinha de estimação.

            O AMOR DA POMBINHA HEROÍNA

          Junior Gonzáles foi coletar uma carga de sucata na cidade de San Bernardo, Chile, estava estacionado em frente da empresa do cliente aguardando ordens para entrar e carregar seu caminhão.
          Ele enquanto aguardava, ligou o radio, sintonizou uma rádio FM, para escutar, e deixou em um volume médio, pegou uma lata encheu de água na bica do lado da portaria, e fez baixar o santo de limpeza.
          Caprichou em uma geral dentro de sua cabine, ali tinha de tudo um pouco, começou jogar tudo para fora para melhor executar sua tarefa, ele jogou no chão uma meia caixa de aveia em floco, esta ficou toda espalhada pela calçada da rua, não demorou em estar cheio de pombos fazendo festa catando aqueles grãos de aveias.
          A bagunça dentro da cabine estava grande, ele achou debaixo da cama um sapato velho, pegou o mesmo e jogou com força para fora da cabine.
          Ele estava tão distraído na sua limpeza, que não percebeu os pombos ali na volta do caminhão, o sapato pegou um coitado de um pombo, que fez voar penas para todos os lados, quando ele percebeu sua brutalidade já era tarde, o mais frágil saiu com uma asa e uma perna quebrada.
         Seu dia que tinha começado com tanta disposição, terminou ali naquele momento, ficou com dó da ave, conseguiu pegar o pombo depois de muita luta embora ele estivesse debilitado, mas era ágil, corria muito rápido em uma perna só, o mesmo tinha um anel em umas das pernas, pois se tratava de um pombo correio.
         O guarda da empresa lhe trouxe uma caixa pequena, ele colocou o Pombo ali até terminar sua limpeza precocemente.
         O Guarda disse a Junior Gonzáles que na esquina tinha um veterinário, ele passou a mão na caixa com o Pombo e foi até o mesmo.
         Era um prédio bonito, estilo fortaleza, revestido de mármore, um verdadeiro luxo, entrou e esperou sua vez a ser atendido pela recepcionista, enquanto ele esperava, tinha a sua disposição, cafezinho e alguns salgadinhos e bombons de diversos sabores, em pouco mais de meia hora chegou sua vez, ele apresentou o paciente e explicou como tudo aconteceu, esta já levou direto para o médico veterinário examinar, depois de meia hora o médico chamou uma assistente e esta entregou o pombo ao Junior Gonzáles, lhe dizendo, pronto agora ele vai ficar bem.
         Este olhou a ave, esta estava toda enfaixada com tala na asa e na perna, em seguida passou na mesa da recepcionista para pagar a conta, esta lhe passou o recibo de despesas, ele quase ficou internado na Clínica Veterinária, P$167.000,00, isto convertido a preço do dia para Real dava R$ 750,00, aproximadamente, o preço elevado o pegou de surpresa, teve que deixar o pombo ali, e retornar até seu caminhão para pegar mais dinheiro.
         Passou muitas vezes em sua cabeça de fugir e não pagar as despesas, o Pombo já estava medicado mesmo, mas a recepcionista ficou com sua carteira de motorista retida até ele retornar com o dinheiro, e pior ele não tinha saída, pois precisava da mesma para carregar o seu caminhão e dirigir o mesmo também.
         Retornou à Clínica bufando de raiva por tanto abuso, passava mil pensamentos em sua mente, mas nem um lhe ajudavam, estes só colocava ele mais em compromisso com seu mais novo amigo que estava lá retido esperando ele pagar a conta.
         Ele pagou, mas pediu a recepcionista especificar na nota todos os procedimentos item por item, só para molestar a mesma, descontou na moça um pouco de sua raiva, ali ficou sua comissão e sobra de algumas diárias do mês passado.
         Ele passou a mão na caixa do pombo, este nem se movia de tantas ataduras, também pudera, se o pombo pudesse falar lhe diria bem feito não olha por onde atiras os objetos só poderia dar nisso.
        Junior Gonzáles olhou para o pombo e lhe disse:
      - Nossa meu amigo, como saiu caro esta tua visita ao médico veterinário, tu saiu com duas talas e eu totalmente despenado sem grana alguma, até para seguir viagem, vou ter que ligar para o meu chefe e pedir mais dinheiro para ele, e pior, o que contarei para ele, quando eu disser que gastei no médico veterinário contigo, ele não vai acreditar, estou ferrado pela segunda vez.
         Junior Gonzáles quando chegou à portaria da empresa, falou com o guarda para lhe emprestar o telefone para ligar para seu chefe, este prontamente lhe passou até o mesmo, que ficava bem no fundo da guarita.
        Quando o seu chefe lhe atendeu no outro lado da linha, ele disse alô, aqui é o Junior Gonzáles, chefe eu nem vou te contar o que aconteceu comigo, se eu o fizer você não vai acreditar em mim, é melhor ficar assim, vou direto ao assunto, eu preciso de mais dinheiro, não pergunte o porquê, se você gosta de meu trabalho e de mim me manda, por favor.
        O chefe mandou um rapaz de moto lhe entregar mais dinheiro, este quis saber mais detalhes a mando do chefe, mas Junior Gonzáles ficou calado e agradeceu o mesmo.
      “Junior Gonzáles não poderia correr o risco também de cair na boca de seus colegas, pela chacota, se humilhou, engoliu em seco sua besteira”.
        Bem depois da parte do dinheiro resolvida, ele não tinha outra saída, a não ser levar o pombo com ele na cabine do caminhão, tentou convencer o guarda para ficá-lo com ele, mas este não poderia, morava com sua mãe, e esta detestava pombos, os mesmo lhe molestavam todos os dias em sua casa.
        Durante dois meses o pombo foi tratado por ele durante suas viagens, ele examinava os curativos e renovava a cada dois dias.
        O pombo ficou tão acostumado com ele, que já estava curado da perna e da sua asa, dormia do lado de seu travesseiro, ele se apegou tanto ao seu amigo que esqueceu a fortuna que tinha gastado com o mesmo, virou até atração turística, por onde ele parava, seja para carregar ou descarregar ou em postos de combustíveis, o pombo chamava atenção das pessoas.
        Muitos até faziam alguns comentários, que já tinham visto de tudo, mas uma mascote pombo ainda não tinha visto.

                   Segunda Parte
                      Capitulo II 

        O Junior Gonzáles carregou seu caminhão de cobre e seu itinerário era saindo pelo norte do Chile, por San Pedro do Atacama, Cordilheiras dos Andes, passou em uma estação de serviço, entrou em uma cabine telefônica e ligou para sua esposa lhe avisando, que em quatro dias no máximo já estava em casa, isto a deixava mais tranqüila, pois no fim de semana seguinte era o aniversário de seu filho caçula, cincos aninhos, ele fez sua programação de viagem, era seguro que ele estava em casa no domingo.
        Ele começou a subir as Cordilheiras dos Andes, seu caminhão era novo, isto lhe dava confiança para abusar um pouco mais dos freios, e no sobe e desce da estrada, seus freios foram esquentando, e bem no forte das Cordilheiras tem uma curva bem acentuada, ele precisou dos freios, e cadê ele, cruzou direto, caindo em uma ribanceira.
         Ele ficou trancado nas ferragens da cabine ferido, com um braço e uma perna quebrada sem poder sair do mesmo, por mais esforço que fazia, sua força era em vão.
         Por sorte não pegou fogo no caminhão, ele ficou ali naquela posição mais de cinco horas, a estrada era deserta passava talvez uns dez caminhões por dia e automóveis, muito pouco mesmo, e para ajudá-lo em seu desespero, ainda era feriado no Chile, nem o movimento de algumas saleiras na região tinha.
         Com seu amigo pombo não aconteceu nada, mas este não saía de perto dele, embora ele estivesse preso as ferragens, mas seus braços ficaram livres, ele viu uma caneta e uma folha manchada de sangue, forçou o corpo até alcançá-las e pega-los, escreveu um bilhete dizendo o que lhe tinha acontecido, e o trecho da estrada que ele estava, rasgou um pedaço de sua camisa, e pegou o pombo e amarrou o bilhete em sua perna, e atirou o mesmo para fora daquela cabine, por este esforço ele deu um gemido que levou a soltar umas lágrimas.
         O seu amigo pombo ficou ali por vários minutos, como se estivesse com pena de deixá-lo abandonado naquele lugar deserto e ferido.
         A dor de Junior Gonzáles era grande, e parte do corpo já estava adormecida pela posição incômoda, suas feridas teriam parado de sangrar isto era um bom sinal, ele estava com medo de morrer esvaído por falta de sangue.
         O pombo veio mais uma vez e se colocou ao lado dele, ele, disse vai meu amigo agora sou eu que preciso de você, vai buscar socorro para mim.
         Disse isto e jogou o pombo mais uma vez para fora da cabine, este parecia que tinha entendido seu desespero, saiu voando Cordilheiras dos Andes a fora.
         O Pombo foi até encontrar civilização, em uma hora aproximadamente chegou um helicóptero da policia do exercito Chilena para prestar socorro ao Junior e o pombo veio com eles de carona.
         Segundo um dos policiais que vieram socorrê-lo, lhe contava que o pombo entrou área adentro de uma casa, pois uma senhora estava tratando seus pássaros com quirela de milho, o pombo sentido o cheiro daquele banquete todo quis participar, esta pessoa vendo o bilhete amarrado na perna do pombo leu o mesmo, e avisou o quartel mais próximo, no caso eles.
        “Segundo as contas de Junior, fazia mais de 12 horas que o seu amigo não se alimentava, isto o fez procurar comida nas vizinhanças mais próximas para sorte dele”.
         O pessoal do exercito chileno, vendo de que se tratava de um pombo domesticado, colocaram dentro de uma caixa e resolveram trazer junto.
         Junior Gonzáles foi retirado das ferragens com ajuda do pessoal do socorro, eles colocaram em uma maca e depois dos primeiros atendimentos, para dentro do helicóptero.
         O amigo pombo entrou junto e sentou em cima de seu corpo, o para-médico vendo não o molestou deixou o mesmo ali, assim eles levaram Junior para o hospital de San Pedro do Atacama.
         Como o hospital tinha pouco movimento às enfermeiras deram um jeito de seu amigo ficar junto com ele hospitalizado.
         Depois de todas as providencias tomadas em relação de avisos de empresa e familiares de Junior Gonzáles.
         Os Carabineiros Chilenos que o socorreram, foram embora para sua base nas montanhas.
         Junior Gonzáles ficou hospitalizado uma semana, e seu amigo pombo fiel ali juntinho com ele dividindo a cama do hospital.
         As enfermeiras ao alimentar o Junior não esqueciam a comida do amigo pombo, que naquelas alturas já fazia sucesso entre as enfermeiras e os pessoais atendentes do hospital.
         Neste meio tempo a empresa trouxe a esposa dele para levá-lo para sua casa no Brasil.
        Junior Gonzáles ficou cinco meses parado em recuperação em casa deste acidente, quando ele retornou ao seu trabalho viajando novamente, o seu fiel escudeiro estava lá, junto dele em sua cabine dividindo sempre sua cama com ele.
        O amigo pombo é o herói da sua família, pela atitude corajosa de buscar socorro nas Cordilheiras dos Andes, não era uma tarefa muito fácil, pelas quantidades de condores que tem as mesmas, sempre a espera de uma presa para sua refeição.
        Esta atitude de Junior Gonzáles de reparar o mal que fez ao pombo no dia que jogou o sapato no mesmo, mesmo sendo involuntário, não abandonando ao mesmo, pelo carinho de cuidá-lo até os animais e as aves reconhecem, seus amores pelos seres humanos são incondicionais, fato é que o mesmo se encontrava na mesma situação por causa de um acidente, o pombo lhe retribuiu o amor e o carinho.

         Esta história verídica foi contada pelo meu amigo companheiro de estrada Junior Gonzáles, que tive o prazer de conhecer juntamente com seu fiel pombo e sua família, enquanto estávamos descarregando nossos caminhões na fabrica da Bridgestone Firestone em Lavallon grande Buenos Aires, Ar, em 06 de abril de 1998, achei interessante para enriquecer o livro Conto de Beira de Estrada.
        Anjo depois desta linda história da pombinha mensageira, eu lhe convido a dar uma passada pela cidade de Montevidéo, Uy, assim eu posso te contar mais uma historia minha, acontecida em umas de minhas viagens, enquanto isto jogamos no cassino carrasco na rambla alguns dólares na roleta da sorte, e depois você me diz se meu amigo Valmir não é um motorista de muita sorte, seguimos na Roda do Milagre, e lhe digo, que milagre.
                                      
            A RODA DO MILAGRE

          Eu (Abbade) e meu colega Valmir, ambos éramos donos de nossos próprios caminhões, modelo 1941, da Mercedes Bens.
          Nós estávamos pagando ainda as prestações dos mesmos, não estávamos nem na metade, ainda tinha muitas estradas para corrermos para quitar as duplicatas, os fretes estavam baixíssimos, pelas demandas de poucas cargas.
        “As agências tem como órgão regulador este item, se tem bastantes caminhões e poucas cargas os fretes é barato, carrega quem quer e precisa”.
         Estávamos parados no posto santa rosa na cidade de Itajaí, SC, mas bem afastados dos outros colegas que estavam nas mesmas situações, a seja esperando carga.
         Eu tinha preparado um chimarrão bem bagual, estilo gaúcho da fronteira, e Valmir estava fazendo uma geral na cabine, baixou o santo da limpeza no amigo. 
         A nossa direita vinha um Opala velho, deste caindo os pedaços, dando tiros pelo cano da descarga, tentou parar do lado de nossos caminhões, mas o veiculo estava com pouco freio, vendo o desespero do motorista joguei uma lona na frente do carro e gritei em tom de brincadeira para o Valmir, atira o laço que ele não vai parar, foi risada de doer à barriga, pela situação hilária do motorista do carro.
        Mas valeu meu esforço, o rapaz do carro era ajudante de um agenciador de cargas, ele veio à busca de dois caminhões para carregarem estofados na cidade de Pomerodes, SC, para Salta, Uy.
        Foi a nossa salvação, porque nós éramos os únicos proprietários de caminhões ali que tinha autorização de entrar no Uruguay.
        Bem combinamos o frete e fomos carregar, chegamos a fabrica, para fazer nosso nome, como se diz, forramos os assoalhos de nossas carretas e carregamos, uma a uma, e depois colocamos forração por cima dos sofás, por uma aventura pegássemos chuva pelo caminho.
        Tudo certo, nós saímos de viagem, bem feliz porque já estávamos com cinqüenta por cento do frete na mão e o restante quando efetuássemos a entrega em Salta. Uy.
        Por se tratar de um cliente especial do Uruguay, com um nome de prestigio em seu País.
        Aduana realizou os tramites dos documentos rápidos, não ficamos meio dia na fronteira.
        Nosso destino final era ao hotel das termas do Arapey, Salto, Uruguay.
        Deu tudo certo, tanto que depois da descarga fomos banhar-se um pouco nas ternas, diga-se de passagem, que delicia.
        O Valmir não queria mais sair da piscina, para ele este conforto era novidade, em nossa profissão só de presente mesmo, ele se sentiu um Rei.
        Mas tudo que é bom, dura pouco é o velho ditado, o dono das termas apareceu no hotel e o chefe nos deu um toque, tivemos que sair de fininho sem ele perceber que nós motoristas estávamos tomando banho na piscina, até mesmo para não comprometer o chefe que era uma pessoa bacana.
        Mas esta situação foi boa, que assim caímos na real, nós tínhamos que arrumar frete de retorno para o Brasil.
        Embarcamos em nossos caminhões, e fomos rumo à capital do País, Montevidéo, chegando lá, ainda bem que nossa sorte não nos abandonou, em primeiro contato que fizemos , arrumamos duas cargas para Uberaba, MG, Brasil, de produtos químicos.
         Assim no outro dia bem cedo fomos carregar, o dono da mercadoria nos pediu para termos muito cuidado com a mesma, para não ter avarias.
         Bem fomos felizes realizar nossa jornada, passamos na fronteira de volta sem problema algum.
         Meu amigo Valmir pela viagem ser longa e muito boa, ele passou em sua casa e convidou a sua senhora para lhe fazer companhia durante a viagem, para amenizar um pouco a solidão da cabine de seu caminhão.
         Ela prontamente aceitou o convite, assim fomos ao nosso destino final, dois dias depois já estávamos em Uberaba, MG.
         Para nossa surpresa ao entregar as notas aos guardas da balança à empresa da qual fomos descarregar.
        Eles simplesmente trocaram as mesmas por outras notas e mandaram nós retornarmos para o mesmo endereço que carregamos em Montevidéo, Uy.
        Nossa isto foi a gloria, nossa sorte estava conosco firme igual uma rocha, dois fretes em um só era muita alegria.
        Eu já estava com o almoço pronto, pedi para o amigo Valmir pegar um refrigerante em uma lancharia que tinha por perto, para ajudar a regar um gostoso carreteiro que eu tinha preparado para nós com o famoso charque de Vacarias, RS.
        Depois do almoço e um bom descanso a tarde saímos para estrada novamente, ao nosso retorno à cidade de Montevidéo, Uy.
        Entre pernoites e paradas para as refeições, a viagem rendeu que na quinta feira já estávamos na fronteira.
        Nestas alturas do campeonato já estávamos conhecidos dos fiscais da Aduana.
        Nós saímos da fronteira na sexta-feira de manhã, pois teríamos que descarregar no mesmo dia, a empresa recebia a carga até às 20h30min, e se não chegássemos a tempo só na segunda feira para efetuarmos as descargas.
        Para quem estava pagando ainda as prestações dos caminhões isto era um desastre, não se podia perder tempo e quatrocentos e quarenta kilometros nos separavam do nosso cliente, tivemos que andar, quase sem parar, e numa velocidade constante baixa, mas firme por causa dos buracos da rodovia.
        Perto de Pan de Açúcar cerca setenta kilometros de Montevidéo, uma roda da carreta do Valmir quebrou o rolamento e saiu do eixo, foi um risco de fogo pelo asfalto de dar medo.
        Eu vinha atrás e presenciei tudo, Valmir segurou firme a direção, encostou o caminhão na beira da rodovia.
         A pressa de meu amigo Valmir ficou ali na estrada, sua tristeza foi grande, dava para perceber em seu rosto já cansado pelas lutas nas estradas.
        Eu me ofereci para ficar ali na estrada junto com o colega em solidariedade ao amigo, mas o mesmo não quis, mandou o eu seguir viagem.
      “Para o Valmir, ate chegar o socorro, era certa que seu fim de semana iria ser ali na estrada mesmo, ainda bem que sua esposa estava junto com ele para amenizar o fim de semana solitário”.
        Eu segui à viagem até o cliente, cheguei um pouco atrasado, mas ainda dentro do horário previsto o mesmo estava esperando a carga.
         O guarda de segurança mandou encostar dentro de um galpão que ficava bem no fundo da planta da firma, assim eu a fiz e os chapas já foram tirando a lona e foi muito rápido.
         A descarga durou pouco mais de trinta minutos, depois o guarda mandou tirar o caminhão para fora do galpão, e encostar perto da portaria para aguardar a assinatura do recibo de recebimento da carga e receber o restante do frete.
         Fazia dez minutos mais o menos que eu estava ali, quando fui tomado de surpresa por um estrondo infernal, olhei para traz e vi o galpão que tinha descarregado ir pelos ares, numa lavareda de fogo de dar medo.
         Tudo que estava dentro do galpão, o fogo com suas chamas ardentes, consumiu em minutos, inclusive dois funcionários, vendo aquilo eu tremi como uma vara verde, eu quase fui desta viagem para outra sem fim com caminhão e tudo.
         Ainda bem que o Valmir ficou na estrada, porque era certo que ele estaria lá dentro descarregando o produto químico.
         Eu peguei o comprovante de descarga assinado e o restante do pagamento do frete, sai às pressas, não esperei para saber as causas do acidente.
         Cheguei lá onde estava estragada a carreta de meu parceiro, eu narrei o acorrido ao meu amigo, este ficou muito nervoso, teve que tomar uma água com açúcar bem doce, feito pela sua esposa para se equilibrar e se retomar do medo, e dizia chorando graças a Deus esta roda caiu aqui, já imaginou o que poderia ter ocorrido não gosto nem de pensar, ou roda do milagre, obrigado meu Deus, obrigado, ele repetia com louvor.
         Eu fiquei com o amigo Valmir até chegar socorro de um mecânico, e na segunda feira à tarde deixei meu caminhão estacionado em um posto, e fui com ele de carona para ajudar em alguma coisa se o mesmo precisasse.
         Chegamos ao cliente ainda dava para ver os restos do galpão queimado, o Valmir ficou muito nervoso e não conseguiu entrar no pátio da empresa para descarregar seu caminhão, o clima estava pesado pelas mortes dos dois funcionários.
         Eu mais calmo pedi ao amigo que desse uma volta com sua esposa na cidade, fossem a um bar tomar alguma coisa, enquanto eu encostava seu caminhão para descarregar em outro galpão da empresa.
         Bem os chapas descarregaram o caminhão de meu amigo, estacionei o mesmo perto da guarita de saída e fui pegar o frete, quando meu amigo Valmir e sua esposa chegaram de volta eu já tava com tudo resolvido.
         Liguei para um despachante, este arrumou duas cargas de retorno para o Brasil para carregar no dia seguinte, mas destinos diferentes eu carreguei para à cidade de Londrina e o Valmir para à cidade de São Paulo.
         Quando estávamos na Aduana de fronteira, em Jaguarão, fazendo os trâmites das cargas, nós escutamos em um rádio de outro colega que também tava na Aduana, sobre um atentado nos estados Unidos nas Torres Gêmeas de arrepiar, eu corri até onde tava meu caminhão e liguei a televisão para olhar, nossa realmente era como se fosse o fim do mundo tamanha façanha dos terroristas.
       “O meu amigo Valmir já tava muito nervoso com a explosão do galpão do cliente que fomos descarregar, com esta façanha dos terroristas nas Torres Gêmeas, entrou em parafuso, chamei um táxi e eu e sua esposa a levamos para ser medicado no centro da cidade”.
        Resultado ele ficou três dias hospitalizado no hospital local, em observação.
        Eu segui naquele dia mesmo a tarde para o meu destino, ou seja, cidade de Londrina, PR, para levar a carga da qual estava carregado.

        Esta história é verídica se passou comigo e Valmir, em 11 de setembro de 2001, enquanto transportávamos mercadorias do Brasil para o Uruguay e vise e versa.         
      -Diga-me você meu amigo Anjo, o Valmir ganhou a sorte grande no cassino da vida, não ganhou, claro que sim, eu estava junto nesta viagem e fui um pouquinho contaminado por sua sorte.
        Mais sorte mesmo teve um menino chamado Jefferson, te digo meu parceiro de viagem, vamos até a terra do tango, cruzamos pela cidade de Concepción Uy, e passamos por Colón e seguimos pela Ruta nove, passamos na cidade de Rosário tomamos um cafezinho com meu amigo Victor da estação de serviço YPF, depois seguimos com nossa viajem até a cidade de Córdoba, Argentina.
        Podemos saborear o melhor alfajor e escutar o meu ilustre amigo Claudio Adão, a sua história não pode ficar de fora dos contos de beira de estradas, você depois de escutar vai concordar comigo.
        Ao encontrar Claudio Adão este nos recepcionou com um delicioso arroz com Galinha Caipira no almoço, e de alguns alfajores da região de sobremesa, em seguida sentamos para escutar sua história do menino Jefferson, este talento que chegou de cesta, enquanto ele narrava sua história, o mesmo colocou no rádio cd de seu caminhão umas músicas executadas pelo Garoto Jefferson e seu Grupo musical para escutarmos.

                               
            O TALENTO QUE VEIO DE CESTA
                                              
        Claudio Adão, por favor, pega a chave do caminhão frota 644 que já esta carregada, você e o João Maria motorista da frota 667 irão à cidade de Curitiba, fazerem uma entrega de vinhos ao Carrefour, depois de vazios me liguem que já tenho retorno para vocês.
         Assim em tom alto e firme, seguro seu chefe lhe falou, este era de pouca conversa, mas muito correto em suas atitudes, só tinha duas palavras em seu vocabulário, sim e não, mas quando ele dizia sim, poderia fazer de cabeça erguida que ele assinava em baixo e não, nem que a montanha se movesse ele não voltava atrás.
        Claudio Adão se dirigiu onde tava estacionado o caminhão, e fez uma revisão rápida a olho nu, em volta do mesmo para checar se estava tudo em ordens, tocou seu celular.
      - Oi Claudio Adão, é a Maria Helena, eu vou dar uma saída hoje à tarde, irei à casa da mamãe e vou aproveitar aquele dinheirinho extra que você me deu e vou passar no salão da Rosa, para cortar meus cabelos e fazer as unhas, quero ficar linda para o meu negro, mas à noite eu estarei de volta.
      - Que bom que você me ligou Maria Helena, eu vou ter que viajar até a cidade de Curitiba, a pedido do chefe e não estarei em casa a noite e sim só depois de amanhã à tardinha.
      - Tudo bem querido, assim que chegares a Curitiba me liga para saber se chegou bem, você sabe, eu não durmo sem seu telefonema para saber se está bem e fez uma boa viagem.
      - Fica tranqüila Maria Helena, da um beijo em sua mãe por mim e tenha uma boa tarde então, se divirta no salão da Rosa.
      - Obrigado querido, boa viagem, te cuida tchau.
      - Claudio Adão, Claudio Adão, não se esqueça de passar no operacional e pegar sua nota e os documentos da carreta, gritou o assistente do chefe.
        O telefonema da esposa de Claudio Adão e mais os gritos do assistente tiraram à atenção do mesmo, ele não percebeu que tinha uma mangueira de ar roçando na arvore de transmissão, (Cardam), do caminhão.
        Ele passou no setor operacional pegou todas as documentações necessárias que o habilitava para sair de viagem, perguntou a João Maria se também estava tudo ok. Este respondeu que sim.
        Logo em seguida embarcaram em seus caminhões e saíram do pátio da empresa sobre o olhar atento do chefe, da janela de sua sala poderia ver todos os movimentos em seu redor.
        A viagem corria tudo dentro do normal, quando chegou perto da represa antes da cidade de Curitiba, Claudio Adão sentiu que seu caminhão estava agarrado no asfalto e não andava, qualquer subida ele tinha que baixar de caixa, isto não era normal, até porque ele não estava tão pesado assim para tanto.
        Resolveu parar no acostamento da Rodovia, e João Maria estacionou logo atrás, e ligou os alertas e sinalizou a pista com alguns galhos de arbustos, para eles ficarem mais tranqüilos e seguros a respeito de um colega desatento.
        Aquela mangueira de ar, que ele não percebeu em sua revisão na saída da empresa, de tanto roçar na Arvore de Transmissão (Cardam), abriu um buraquinho, esta era da válvula de retorno do freio da carreta, conseqüentemente estava freando a carreta aos poucos, a cada vez que ele usava os freios da mesma.
        Enquanto Claudio Adão tentava consertar a mangueira de ar, João Maria pegou papel higiênico e foi no mato fazer suas necessidades.
        Dentro do mato ele encontrou um cachorro latindo com insistência para um malha de taquara do mato, que ficava uns cinqüenta metros aproximadamente de onde ele estava, mas não deu muita importância continuou em sua tarefa, ele imaginou que fosse um gambá ou outro animal do mato, terminou o serviço se dirigiu para a rodovia onde estavam os caminhões.
        Quando chegou aos mesmos, Claudio Adão já tinha resolvido o problema da mangueira de ar, tava lavando as mãos, João Maria trocou algumas palavras com ele sobre a mangueira, o cachorro chegou perto deles e começou latir para o lado do mato e fazia menção de entrar no mesmo e voltava para perto deles novamente.
     - Sabe Claudio Adão este cachorro estava lá perto de onde eu fui, latindo para o lado de uma malha de taquara do mato, eu acho que deve ser algum animal eu nem fui olhar, mato é cheio de surpresa poderia ser uma cobra, e eu tenho muito medo de serpente, nem me atrevi a ir lá.
     - João Maria eu acho que não é nada disso, é uma cachorra esta praticamente desesperada latindo, eu nunca vi um animal assim, eu acho que vou olhar do que se trata, parece que quer nos dizer alguma coisa.
     “Assim Claudio Adão e João Maria pegaram um facão e seguiram a cachorra mato à dentro”.
       O animal ficou em uma alegria total, pulava na frente deles de tanta felicidade, seu latido virou na espécie de um grunido, quase um choro.
       A cadela os levou direto no local que tanto lhe angustiava.
       Eles quando ficaram frente a frente do motivo de tanto desespero do animal, pegaram chorando aquela sexta, era uma criança recém nascida enrolada em um cobertor, ainda estava suja do sangue do parto.
        O mais incrível a criança estava dormindo tranqüila, como se nada estivesse acontecendo a sua volta, era um verdadeiro macho do saco roxo.
        Claudio Adão pegou a criança com sexta e tudo e levou direto para a cabine de seu caminhão.
        A cachorra ficou com eles mais um pouco e saiu em direção à ponte da barragem e sumiu entre os capins altos da beira da Rodovia.
        Cláudio Adão e João Maria seguiram até o próximo posto de fica perto da Barragem de Quatro Barras, onde mostraram a criança para o proprietário, este tratou logo de providenciar ajuda aos amigos levando aquele bebê para um hospital.
        Cláudio Adão não tinha filhos, fez um pedido ao proprietário, que se fosse possível ele gostaria de adotar o menino, eles fizeram a ocorrência na delegacia como manda a lei, tudo certinho.
        João Maria já tinha três filhos, bem que ele gostaria de aumentar sua família, mas deu à preferência para o amigo.
        Depois deste milagre de Deus, eles seguiram até seus destinos, chegaram ao Carrefour de Curitiba um pouco atrasados pelo horário combinado com a gerencia, mas eles contaram o motivo do atraso.
        O gerente do Carrefour ficou comovido com a história deles, que até fez uma ligação para um amigo juiz, pedindo uma atenção maior neste caso e também se fosse possível lutar para dar à guarda do menino ao Cláudio Adão.
        Quando Claudio Adão e o Amigo ligaram para suas esposas para mandarem noticias a noite, contaram as boas novas às mesmas, estas foram às alturas de tantas felicidades.
        Depois deste episódio marcante nas vidas dos dois amigos caminhoneiros, suas vidas nunca mais foram às mesmas, por onde andavam com seus caminhões sempre tinha alguém querendo saber noticias da criança.
        Cláudio Adão e sua esposa lutaram durante seis meses e conseguiram a adoção do menino, colocaram seu nome de Jefferson, foi à maior vitória para ela, pois a mesma não conseguia engravidar por mais tratamentos que fizesse.
        Entre uma viagem para cá outra para lá e os atropelos das responsabilidades de um chefe de família, o tempo foi passando.
        A esposa de Claudio Adão finalmente conseguiu engravidar e assim dar duas lindas irmãs para o Jefferson.
        Cláudio Adão chegou a sua casa em um sábado à tarde, ouviu o som de um violão que vinha acompanhado de muitas palmas e muitas pessoas cantando parabéns a você, ele pensou nossa parece que foi ontem, mas já faz dezoito anos que nosso filho Jefferson encheu nossas vidas de alegrias.                                    
        Jefferson sempre foi um menino muito querido principalmente pelas meninas de seu bairro, era gordinho, vaidoso, aprendeu tocar violão com algumas aulas dadas pelo seu pai, e mais alguns amigos que dominavam a arte do violão.
        Hoje no auge de seus 20 anos faz show e canta a alegria da vida por todos os cantos do Brasil, quando viaja com seu pai na boléia do caminhão sempre toca algumas canções enquanto sai um arroz carreteiro feito por seu pai, seu prato predileto.
        Em casa explora a sua mãe pedindo para ela fazer uma nega maluca, “Bolo de Chocolate” ela faz com o maior carinho, assim enquanto ela prepara o bolo, ele dedilha uns acordes para o orgulho da mamãe.

        Esta história é verídica, foi contado pelo meu amigo Claudio Adão enquanto ele preparava um arroz com galinha caipira comprada em um sítio na beira da estrada de Córdoba, Argentina, na aduana da Fiat em 06 de julho 2002.
        Meu Ilustre companheiro de cabine deixa eu te dizer uma coisa às vezes os sonhos nos quer dizer algo de muito importante em nossas vidas, te convido para retornarmos a cidade de Zarate, Argentina, para ouvir o amigo em a luz de uma estrela, Laércio Rocha.
          
            A LUZ DE UMA ESTRELA

        Laércio estava chegando a sua casa às três horas da manhã, depois de uma longa viagem cansativa e demorada por conta dos policiais argentinos, que não largavam os pés dos motoristas brasileiros em seu território nacional.
        Estacionou seu caminhão em frente de sua casa como de costume, pelo cansaço Laércio deu uma escorregada na lama, que se formou pelo excesso de chuvas nos últimos dias ao descer do seu caminhão, que a fez torcer o tornozelo do pé esquerdo, mas sem grandes proporções, ficando com um pouco de dor, que logo passou pela ansiedade de chegar a sua casa logo.
        Enfiou a mão no bolso e pegou a chave, colocou na fechadura e girou e a porta se abriu, “ali atrás daquela porta estavam seus maiores tesouros, sua maior recompensa, que ele, um motorista poderia ter depois de uma jornada de trabalho”.
        O carinho e o sorriso de sua mulher amada, abraçada a única filha do casal.
        Catita acordou-se com o barulho do caminhão, e chamou a filha que estava com muitas saudades do pai e foram para a sala para esperá-lo, as duas abraçaram aquele chefe de família numa felicidade total, sua esposa lhe disse!
     - Oi amor que bom que você chegou, nós já estávamos com muitas saudades de você.
        Laércio tomou sua esposa nos braços e lhe deu um beijo do tamanho da saudade de trinta dias de viagem, sobre os olhos atentos de Claura, sua filhinha, que logo também recebeu o carinho do pai.
        Catita perguntou ao seu marido:
     - Você não está com fome? Pois eu estou com um frango assado no forno, é só esquentar em alguns minutinhos.
        Ele prestando atenção a sua esposa respondeu:
     - Não, obrigado querida, eu não quero comer nada, não estou com fome, só estou cansado e com muito sono.
       Catita então carinhosamente lhe disse:
     - A toalha e tuas roupas de dormir estão no banheiro, toma um banho e vem descansar, te espero no quarto.
        Enquanto ouvia sua esposa falar, ele levou sua filhinha para seu quarto e colocou na cama para dormir novamente, lhe cobriu com um cobertor macio lhe deu um beijinho e retornou para a sala.
        Laércio ligou a televisão e sentou no sofá, para olhar o que estava passando enquanto tirava os sapatos e as meias, depois ele iria para o banho, mas seu cansaço era tanto que adormeceu ali sentado no sofá mesmo.
        Umas duas horas depois Laércio acordou assustado, tava passando na televisão um filme policial, as sirenes e as batidas de carros no filme fizeram com que ele despertasse.
        Olhou as horas eram cinco da manhã, então foi tomar banho um pouco tonto por conta do sono.
        Depois do banho, Laércio entrou no quarto bem devagar, sem fazer barulho no escuro, não quis acender a luz para não acordar sua esposa novamente.
        Mas seu cuidado durou pouco, sua esposa teria feito uma mudança nos moveis do quarto, e mudou a cama de posição, e ele bateu com a canela na guarda da mesma, e soltou um gemido um pouco abafado, mas foi o suficiente para acordar sua esposa.
        Laércio pensou que sua mulher iria ficar brava, para sua surpresa ela ficou foi muito feliz, e lhe disse sorrindo:
     - Que bom querido, se tu estivesses sempre aqui dormindo comigo todas as noites, assim eu não sentiria tanto a tua falta, claro não batendo à canela na guarda da cama todas as noites, ai ela poderia ficar quadrada e com um ovo enorme.
        Laércio rindo da situação levantou as cobertas e se deitou, e assim pode descansar tranqüilo nos braços quentes e aconchegantes de sua esposa Catita, com um cafunezinho gostoso logo ele adormeceu!
        De repente um barulho muito forte igual a um tufão de vento, ele acordou assustado, era um colega de estrada caminhoneiro que tinha cruzado muito perto do seu caminhão, com o vácuo este lhe fez despertar.
        Laércio olhou para os lados e para frente, ele se encontrava dormindo debruçado com os braços cruzados na direção de seu caminhão, no acostamento da rodovia, perto da cidade de San Luis, Argentina.
        Assustado ele desceu do caminhão, ficou um pouco parado em frente do mesmo, lavou o rosto subiu na cabine novamente, e sentou-se no assento do carona, ficou pensando!
      “Mas ele estava em casa, mas como estava ali dormindo na beira da estrada”.
       -Ele disse, nossa que sonho maluco!
        Ele ficou mais um pouco ali enterrado em seus pensamentos, sem entender absolutamente nada.
        Bem ele foi se recuperando do susto devagar, deu uma respirada funda, atinou a ligar o motor de seu caminhão, saiu do acostamento foi para o asfalto seguir viagem novamente até encontrar uma estação de serviço “Posto” para retornar a dormir.
         Ele já tinha rodado uns dez kilometros aproximadamente, de longe ele viu luzes de viaturas policiais e ambulâncias para todos os lados, aproximou-se a uma distancia que poderia olhar melhor, mas tinha a certeza que se tratava de um acidente pelos movimentos no local.
        Com um olhar atento pode ver muitas pessoas mortas e outras feridas, sendo socorridas pelos médicos das ambulâncias.
        Um caminhão chocou-se com um ônibus de turistas, quando Laércio viu aquilo lhe deu um arrepio e começou a chorar.
        Foi Deus que fez Laércio parar bem antes na rodovia, para tirar uma soneca no acostamento, se não seria ele o envolvido no acidente.
      “Às vezes acontecem coisas inexplicáveis nas vidas das pessoas, Deus poderia ter ajudado aqueles colegas também, mas preferiu ajudar Laércio, são mistérios da vida que só ele sabe desvendar, Deus mostrou no sonho a Laércio, que quando em uma viagem um motorista esta com sono, se para e dorme, porque é muito gostoso chegar a sua casa e receber o sorriso de quem as amam, além de salvar sua própria vida ainda salva as vidas de muitas gentes inocentes”.
        Laércio sempre leva as imagens de Jesus Cristo e São Cristovão no pára-brisa de seu caminhão, esta história é verídica segundo ele, me foi contada em uma parada de rotina na aduana de Zarate, Argentina, em 23 de dezembro de 2002.
        Nossa meu amigo companheiro de viagem, você me deixou empolgado, não tenho vontade nenhuma de parar no caminho para descansar, vou aproveitar o máximo o motor de meu caminhão, já que ele esta quente e os tanques cheios de combustível, e energia é que não falta para buscar mais algumas histórias para o meu livro.
        Vamos pegar a BR 381, que nos leva ao estado de Minas Gerais, e deixar o caminhão estacionado em um posto de serviços na beira da estrada, e vamos ao encontro deste guerreiro Missioneiro de Deus, escutar a sua palavra.
        Eu vejo em você Anjo, curiosidade forte, assim que eu gosto você é igual a mim, isto me da boa vontade e disposição, vamos seguir na estrada de meu amigo Missioneiro.

                                        
            O MISSIONEIRO

        A vida do motorista caminhoneiro, se nós olharmos pelo lado bom que ela tem hoje, se torna fantasticamente fascinante pelas oportunidades de aprendizados como pessoas e profissionalmente.
        Vamos deixar de lado por assim dizendo, o ponto negativo onde no passado ela era conhecida por motoristas mulherengos e outras adjetivos, denegrindo sua profissão e a imagem dos profissionais do volante.
        Hoje nossos heróis são olhados de uma maneira diferente por grandes empresas, que se encarregaram de modificar esta imagem de nossos profissionais, qualificando para melhorem exercerem suas funções, através de cursos profissionalizantes como rastreamentos, economia de combustível e legislação de trânsitos, conforme foram se modernizando as frotas de caminhões, com seus grandes recursos eletrônicos.
        Algumas até lhes passam cursos de primeiros socorros, que na estrada às vezes é muito útil, principalmente quando se esta longe de recursos médicos, quantos profissionais já salvaram vidas, sabendo como proceder a um início de infarto através deste aprendizado.
        Motoristas inteligentes sabem se valorizarem, e até se dão o luxo de buscarem novas empresas, onde eles são melhores renumerados.
        Motoristas menos inteligentes que não se qualificam, são contratados por pequenas empresas, que lhes remuneram com comissões e não lhes dão as garantias trabalhistas, e tão poucas assistências de planos de saúdes.
        Não que eles não sejam profissionais, não vamos colocar esta questão assim, mas ficam nas margens do limite, tem a prática, mas não tem a teoria, a tempos de hoje temos que ter as duas, para acompanharmos o mercado de trabalho.
        Iniciei escrevendo esta história assim de uma maneira diferente, para dizer como modificou nosso conceito mediante a opinião pública, de malfeitores mulherengos, nós passamos para heróis anônimos, e por ações inteligentes de grandes empresas dos setores de transportes de cargas em gerais, depois de um feedback, passamos a ser chamado de Gestor de Unidade Móvel e também contar que entre estas empresas, ainda tem algumas que não usam deste direito para só sugar o máximo seus profissionais, como as maiorias fazem, olham seus colaboradores com olhos humanos, como esta que meu amigo Missioneiro trabalhou durante vinte e cincos anos.
        O meu amigo Missioneiro era motorista de uma grande empresa, destas que se destacou no mercado pela sua competência e coragens de dar grandes passos, visando cliente e colaboradores com a mesma visão.
        Um dia ele aposentou-se, e como a empresa dentro das suas normas de regulamentos não permitia empregados aposentados, o mesmo esteve que se afastar do trabalho, e ficar em casa curtindo sua jubilação tão bem merecida pelos anos de trabalho nas estradas.
        O Missioneiro acostumado a uma vida ativa, não ficou muito tempo parado, arranjou alguma coisa na volta de casa para ocupar seus dias.
        Com o passar do tempo ele foi ficando nervoso, pois não se acostumava nunca com a vida de aposentado, às vezes até se pegava discutindo com sua esposa, que sempre foi uma guerreira, que já estava do seu lado há quase trinta anos, a tristeza lhe tomou conta, baixando seu alto astral de uma maneira quase irreversível.
        Em uma segunda feira, ele soube através de um colega vizinho motorista, que estava na ativa, que a empresa da qual ele prestou serviços durantes anos, estava vendendo alguns caminhões por renovação de frota.
        Ele tomou uma atitude, conversou com sua esposa sobre o assunto, pegou seu carro particular, e foi lá na empresa falar com seu antigo patrão, para saber quais as condições das vendas destes caminhões.
        Assim que ele entrou no portão da mesma, foi abraçado pelos seus ex- colegas que estavam com saudades do amigo, estes carinhos foram ótimos para ele, deixando com sua alta estima que estava baixa mais alta, e muito confiante para conversar e fazer uma proposta ao dono da empresa.
        O Missioneiro chegou à recepção, apresentou-se para a moça do setor, esta não, o conhecia, pois ela era nova na empresa, ele deixou ali bem claro de uma maneira sutil, que queria falar com o seu patrão o Sr. Valentino, ela calmamente lhe respondeu.
     - Senhor Missioneiro, o Sr. Valentino se afastou da empresa por motivo de saúde, hoje ele faz parte do grupo de conselheiros da empresa, quem está gerenciando a mesma é seu filho mais velho o Sr. Messias.
     - Sr. Toma um cafezinho, enquanto eu o anuncio para o Sr, Messias sobre a sua visita.
     - Obrigado Moça, ele respondeu gentilmente enquanto acatava a sugestão da funcionária, saboreando seu gostoso cafezinho.
     - Senhor Missioneiro, o Sr. Messias mandou lhe dizer que aguardasse alguns minutos que já lhe atenderia.
     - Ok. Obrigado mais uma vez.
       O Missioneiro já conversou muitas vezes no passado, quando estava trabalhando na empresa com seu ex-patrão, o Sr. Valentino, mas desta vez era diferente, ele não era mais o Patrão e sim seu filho Messias, que sempre o tratou de uma maneira mais seca, mas não rude, sempre com educação em todos os assuntos relacionados ao trabalho, este em quanto ele trabalhava na empresa era o braço direito de seu pai Valentino, era subgerente.
       Hoje ele não era mais empregado, e não saberia qual seria a reação de seu Messias ao lhe ver novamente, isto o deixou mais ansioso do que estava.
       Ele tomou três cafezinhos, enquanto esperava ser atendido, até que a recepcionista o mandou entrar na sala do seu Messias, que este lhe estava esperando.
       O filho do Sr. Valentino ao rever seu antigo empregado, ficou muito feliz com sua visita, dando-lhe um abraço apertado, que lhe deixou um pouco sem jeito.
       Quando ele era colaborador da empresa, seu Messias nunca tinha tomado esta atitude, mas pelos anos que trabalhou na empresa, ele tinha a intimidade de perguntar o porquê de tanta alegria ao mesmo.
       Este lhe respondeu!
    - Eu sempre gostei de você como pessoa e profissionalmente, você acompanhou todas as mudanças da empresa, como um grande profissional, nós nos sentíamos orgulhos de ter tido, junto a nosso quadro de funcionários, um exemplo para muitos de seus colegas.
     - Quanto você era empregado, eu tinha que tratá-lo como uns de seus patrões, agora eu posso expressar de uma maneira mais aberta, esta minha admiração pela tua pessoa como um amigo, e te agradecer pela sua colaboração, pôr nos ter ajudado a nos tornarmos uma empresa grande e competitiva no transporte, com certeza sua colaboração honesta e solidaria, para conosco, nos implante das inovações da empresa, nos foram de grandes valias.
     - Diante destas palavras, o Missioneiro ficou calado por alguns minutos, se dirigiu até uma garrafa de café, embora não haveria mais espaço no seu estomago para mais um, preparou e mandou garganta abaixo, quase se afogando, pois o mesmo estava muito quente, tomou fôlego e disse ao Sr. Messias.
     - O Senhor sabe, que sempre tive orgulho de trabalhar na empresa pelo carinho que vocês tratam seus funcionários, valorizando como ser humanos que somos, e estamos sujeitos a erros e acertos como qualquer pessoa, mas vocês tratam os erros de uma forma tão inteligente com os funcionários, que estes se dedicam de uma maneira toda especial, para não os cometerem mais, trazendo resultados muito positivos para ambos os lados.
     - Mas me diz Missioneiro, porque eu tenho a honra de recebê-lo em minha sala o que lhe trouxe aqui?
     - Foi o anuncio de vendas de caminhões usados seus, e também por não agüentar mais esta minha vida de aposentado, estou com saudades de meu trabalho.
     - Você esta interessado em algum que bom! Você faz o seguinte, vai lá ao Pátio onde eles estão, escolhe o melhor que lhe agrade, e depois vem conversar comigo.
     - Mas espera um pouco seu Messias, eu vim saber das condições, primeiro, para saber se tenho como comprá-lo.
     - Missioneiro, vai lá escolhe depois conversaremos, eu tenho uma reunião daqui a pouco, vem à tarde para falar comigo, combinado!
     - Está bem se o senhor quer assim, eu vou lá então escolher um caminhão, até de tarde, e boa reunião, e obrigado por me receber assim com este carinho.
    - Obrigado a você por sua visita, até de tarde missioneiro.  
      Depois destas conversas que eles trocaram na sala do seu Messias, Missioneiro pediu licença, e se dirigiu até onde estavam os caminhões usados, em exposição no pátio da empresa, olhou um por um, até que lhe agradou uma Scania com a cor azul e branca, pintada recente e já com o motor reformado recebeu estas informações de um mecânico da empresa ex-colega seu, que fazia alguns reparos em um caminhão Mercedes, que também estava à venda.
       Entrou na cabine, sentou no banco, e ligou o motor para sentir o ronco da máquina, mexeu na direção.
       Suas mãos estavam tremulas, a emoção lhe tomou conta, ele não acreditava que estava sentado de novo, em uma cabine de um caminhão, desde sua aposentadoria, ele nunca mais teria pego um para dirigir, isto já se passava dois anos.
     “É como diz o velho ditado, uma vez motorista de caminhão, não adianta, pode se aposentar, ou se fazer outra coisa na vida, mas acaba sempre retornando para a estrada novamente, seja por motivos diversos, uma desculpa sempre tem, é uma doença incurável”.
       Depois da emoção controlada, ele ficou por mais alguns minutos olhando seu escolhido, se dirigiu até o chefe dos transportes, e avisou o mesmo, que se alguma pessoa vier olhar os caminhões para comprar, que ele avisa-se que a Scania de cor azul e branca já tinha dono, para não ter surpresa a tarde ao seu retorno na empresa.
       Missioneiro pegou seu carro, que tinha deixado no estacionamento da empresa, e rumou a sua casa, louco para contar as novidades para sua esposa.
       Quando chegou a sua residência, nem colocou o carro na garagem, foi direto nos fundos da mesma, onde ele tinha uma lavanderia, e sua esposa estava passando algumas roupas secas para guardar no roupeiro.
       Na ansiedade de contar logo para sua esposa Mariza, ele disse de uma maneira muito rápida, atropelando as palavras, que ela teve que pedir para ele parar e tomar um fôlego, e repetir tudo de novo, que não tinha entendido bulhufas nenhuma.
    - Mariza meu grande e único amor, tu não vai acreditar, eu consegui falar com uns dos meus ex-patrões, o seu Messias, este ficou em uma alegria total de me ver, que até me deu medo depois de nossa conversa.
    - Mas conta com calma, respira primeiro homem, o que ele te disse que te deixou assim tão eufórico e com medo.
     - Ele me fez escolher um caminhão no pátio, tentei dizer a ele sobre minhas condições de pagamento, ele nem me escutou, e eu escolhi um caminhão Scania muito lindo, me deixei levar pela emoção, e se ele me pedir o dinheiro à vista, eu não vou ter como pagar, o caminhão vale muito mais do que nossas economias que temos no banco, e agora mulher o que eu faço?  Ele disse para retornarmos nossa conversa hoje à tarde.
     - Mas isto é maravilhoso demais, era tudo o que tu querias em retornar para a estrada novamente, e melhor ainda, como dono de seu próprio caminhão, nossa fiquei aqui pedindo para o nosso bom Jesus te ajudar, nesta tua conversa com teu ex-patrão, que bom que deu tudo certo, vou orar em nome do Sr. Jesus novamente, por esta benção alcançada na tua vida.
     - Mulher tu não esta entendendo, como voltar para a estrada, o caminhão ainda não é meu, tenho que pagar e não sei como farei isto.
     - Fica tranqüilo, cadê o meu homem missioneiro, que sempre teve fé e confiança em si mesmo, eu tenho a certeza que vai dar tudo certo, Deus está contigo e vai te ajudar na hora certa.
     - Só tu mesmo mulher, para me deixar assim mais tranqüilo, me desculpa pelas brigas pelos momentos chatos que fiz você passar.
     - Ora meu Velho, eu e você já passamos tantos momentos bons em nossas vidas, tu já me deste tantas felicidades e confiança, e podes me dar mais ainda, que não será umas briguinhas a toas que vai nos abalar, esquece que eu já esqueci e te amo cada vez mais.
       O Missioneiro ao ouvir estas palavras, depois de quase trinta anos de casados com sua esposa, ele não teve mais duvida em relação a nada, sua força estava ali restaurada na fé e na confiança, como sempre esteve ao seu lado para abraçar qualquer compromisso.
       Ele abraçou sua pequena mulher, mas de um valor tão grande impagável e lhe disse: deixe-me apenas te abraçar, eu não quero falar nada, apenas te abraçar, e assim eles permaneceram por alguns pares de minutos.
       Uma lágrima escorregou sobre o rosto lindo de sua esposa, parando em cima de seu sapato do pé direito, ela disse deixa não enxuga, ela vai ser a tua sorte na conversa hoje à tarde com seu Messias.
       A filha do casal gritou pela cerca do lado que fazia divisão das casas, mãe e pai, à comida esta pronta, vem almoçar comigo, quebrando aquele momento entre eles de carinho.
       Sua esposa ainda fez um comentário, antes de eles irem almoçar na casa da filha, viu meu amado e bom homem, como a nossa vida é boa cheia de felicidades, esta união gostosa de nossa família, isto eu devo a você, pela maneira que criou e educou nossos filhos, sendo um bom pai sempre, e um ótimo marido.
       O missioneiro depois do almoço tirou uma soneca gostosa, tomou banho e vestiu uma roupa mais leve, porque estava muito quente à tarde, o astro rei estava fazendo se valer de seus dias escaldantes de verão.
        Antes de sair, ele convidou sua esposa para acompanhá-lo até a empresa, esta agradeceu o convite, e disse vou ficar aqui orando a Deus pela tua vitória, meu missioneiro vai tranqüilo que tenho a certeza que vais sair de lá muito feliz, como já te disse, Deus esta contigo e na hora certa ele vai agir na tua vida.
        O Missioneiro saiu confiante mediante estas palavras de sua esposa, com uma certeza que o caminhão da qual ele tinha escolhido era seu.
       Estacionou o seu carro em um boxe perto da portaria da empresa, e se dirigiu até a recepção, a funcionaria que lhe tinha atendido pela manhã, como já estava a par do assunto, tratou logo de ligar para o Sr. Messias sobre sua chegada.
       Assim que o mesmo se desocupou de seus compromissos, o mandou entrar a sua sala, missioneiro entrou com o pé direito, cumprimentando seu Messias com uma boa tarde.
    - Bom tarde, então Missioneiro já escolheu o seu caminhão entre aqueles que estão à venda?
    - Sim Senhor Messias, agora só nos falta acertar como será o pagamento, eu tenho uma entrada, não é muito, mas esta chega aos 40 por centos do valor, o resto como faremos.
    - Missioneiro o pagamento deste seu caminhão que escolheste, será com seu retorno colaborando conosco novamente, como estamos implantando no final do mês, um setor de agregados, pelas grandes demandas de fretes de nossos clientes, você será nosso primeiro agregado.
       Acabei de sair de nossa reunião dos conselheiros, onde estava meu Pai presente, e falei de você, ele me deu carta branca para agir como melhor me convém nesta questão com você.
     - Sim lhe agradeço por ter tocado neste assunto com seu Pai, você sabes que sempre o admirei quanto pessoa e empresário, tenho um carinho muito grande por ele, mas de qualquer maneira, eu tenho que pagar o caminhão, e como será?
    - Missioneiro você já pagou seu caminhão, quando você em uma ocasião salvou meu Pai, de um infarto trazendo para a vida novamente, se fazendo valer de seus aprendizados de uns dos cursos que implantamos aqui na empresa de primeiros socorros, se lembra deste fato, e quantos caminhões deste você ajudou a pagar, quando exercia sua função na empresa, ele é seu por direito e reconhecimento pela nossa parte, pelos teus vinte e cincos anos que trabalhou conosco
    - Sim claro, me lembro quando salvei o Sr. Valentino, mas isto eu sempre faria com qualquer pessoa que estava precisando, e ainda ou faço, são conhecimentos que carrego comigo pelo resto de minha vida.
    - Claro eu acredito em você, mas acontece que foi meu Pai que estava precisando naquele momento de seus conhecimentos que lhe salvou a sua vida, e graças a você ele está aí conosco, e olha isto já faz 15 anos atrás, veja como eu não esqueci, e mais, esta é uma forma de eu te agradecer pela ajuda ao meu Pai e pela empresa também.
    - Desculpa seu Messias, eu nem tenho palavras para lhe dizer nesta hora, estou um pouco emocionado, pela sua atitude de boa pessoa e grande empresário, isto me faz sentir mais orgulho ainda do que já sentia de ter colaborado com vocês na empresa, durante estes anos que estive aqui como empregado.
    - Não diga nada, não precisa é só continuar sendo esta pessoa maravilhosa e um bom profissional que sempre foi honesto em todas suas ações, que valem por quaisquer palavras ditas nesta hora.
       Enquanto Missioneiro enxugava as suas lágrimas disfarçadamente, o seu Messias pegou o telefone, e chamou junto a sua sala o Sr. Carlos que era chefe do setor financeiro, e lhe passou a seguinte ordem:
    - Sr. Carlos pega junto ao departamento de transporte os documentos do caminhão Scania que o Sr. Missioneiro comprou, e passa para o nome do mesmo sem ocasionar maiores despesas para o comprador.
    - Sim Sr. Messias já irei providenciar seu pedido imediatamente, e meus parabéns seu Missioneiro o senhor, fez uma ótima compra, estas levando um caminhão revisado de ótima procedência como o Senhor já conhece por trabalhar conosco no passado, por vários anos.
    - Obrigado Sr. Carlos depois pegarei com você os documentos do caminhão assim que tiveres pronto.
      Depois de anotar todas as informações necessárias, o Sr. Carlos se retirou da sala, e o Senhor Messias retomou a conversa com o Missioneiro.
    - Sabe o porquê eu disse que você tinha comprado o caminhão, é porque quero que seja assim, se alguém te perguntar diz que pagou à vista com suas economias ao longo de seu trabalho, e estamos acertados.
      Meu pai só não fez isto antes com você, porque na ocasião de sua aposentadoria você queria parar um pouco, ficar mais na volta da família, aí ele respeitou sua vontade, mas foi melhor assim neste momento, porque você irá trabalhar conosco agora.
       Você faz o seguinte, pega parte do dinheiro que você iria dar de entrada na compra do caminhão, e passa em um shopping e compra um presente lindo para sua esposa Mariza, com certeza ela vai adorar, e já pode levar o mesmo se assim achar melhor, assim já vai te acostumando com sua nossa função de dono de seu próprio caminhão.
     - Obrigado Sr. Messias, pode ter a certeza que ficarei muito grato ao Senhor, por ajudar-me a realizar este sonho, e pode contar comigo como sempre contou quando fui empregado de vocês.
     - Obrigado Sr. Messias, pode ter a certeza que ficarei muito grato ao Senhor, por ajudar-me a realizar este sonho, e pode contar comigo como sempre contou quando fui empregado de vocês.
     - Tenho absoluta certeza que fiz a coisa certa por uma grande pessoa, agora me deixe trabalhar, afinal tenho que pagar seus ganhos com seus fretes, afinal és um micro empresário agora e como tal merece ser bem renumerado em seus fretes.
    - Está bem Sr. Messias Tchau, e mais uma vez obrigado por me dar de presente o Caminhão.
       O Missioneiro saiu da sala de Sr. Messias, quase não acreditando no que se passou ali, ainda estava tentando recompor os seus pensamentos, sobre esta atitude dele de lhe dar um caminhão de presente, em agradecimentos pelos bons anos prestados de serviços a eles, coisa raríssima entre grandes empresário, esta pessoa abençoada só poderia mesmo se chamar Messias
       Ele pegou seu carro e saiu, mas não em rumo de sua casa, foi direto a igreja da qual ele servia a Deus, e orou como nunca tinha feito antes, agradecendo por esta vitória em sua vida, e fez uma promessa diante do altar ajoelhado.
     “Meu adorado Deus, não importa o lugar que andar ou passar com meu caminhão, eu sempre arranjarei um tempo para a evangelização, vou fazer uso deste instrumento de presente, para fazer alguma coisa de útil para as pessoas que necessitarem de uma palavra do senhor, para vencerem na vida na fé da sua palavra”
       Depois desta sua passada na igreja, o Missioneiro ligou para o seu filho João
Marcos, este morava um pouco distante já em outro bairro, e perguntou se o mesmo poderia lhe fazer um favor.
       Ele prontamente se colocou a disposição do seu Pai lhe dizendo, sim claro me diz do que se trata que farei para o Senhor!
    - Filho eu queria que você fosse até a empresa, que o pai trabalhou você sabe onde fica, e pega o meu carro e leva pra minha casa, depois eu te dou uma carona de volta para sua casa, eu quero fazer uma surpresa para tua mãe.
    - Sim pai, daqui a vinte minutos no máximo, eu já estarei lá, deixa a chave debaixo do tapete do lado do motorista.
    - Está bem filho obrigado, depois tu vai saber do que se trata, eu falarei pessoalmente a você por telefone gastará muito.
    - Tudo bem partindo do senhor só pode ser coisa boa tchau.
       O Missioneiro depois de pedir ajuda ao seu filho, se dirigiu a empresa novamente para buscar seu caminhão, pediu a chave para o chefe dos transportes e tomou posse do seu presente, ligou e saiu, pela emoção até se esqueceu de pegar uma cópia dos documentos que estavam com o gerente financeiro o Sr. Marcos.
        Foi se lembrar deste detalhe, quando foi entrar na sua rua bem feliz com seu presente, a policia lhe atacou, tinha uma blitz na mesma, por sorte o policial o mandou seguir, ele deu um suspiro de alivio, ele iria dizer o que para o policial, por mais que ele fosse se explicar, jamais a autoridade iria acreditar nele.
        Ele chegou diante de sua casa já buzinando seu bruto, a primeira que apareceu foi sua cachorrinha de nome madona, de raça indefinida a fazer festa na sua volta, enquanto ele não a colocou pra dentro da cabine do caminhão ela não parou de latir de feliz.
       Depois em passos bem firme e calma como sempre, veio à dona Mariza e a filha para conhecer o caminhão do Missioneiro, a madona entrava e saia de dentro do caminhão parecia um brinquedo novo para ela.
     - Eu não te falei meu velho, que tu irias trazer o teu caminhão para casa, Deus estava contigo nesta vitória, orei muito para ele te ajudar, eu estava muito confiante que tu irias conseguir comprar.
     - Comprar! Quem falou que eu comprei minha baixinha linda, foi melhor ainda, eu ganhei de presente este caminhão do Sr. Messias, fiquei muito surpreso e feliz, ele me deu pelos anos de colaboração na empresa dele.
    - Agora eu vou usar o meu presente para fazer obras de evangelização em minhas viagens e melhor eu posso levar você junto comigo em algumas viagens, não é o máximo Mariza?
     - Eu irei adorar, sempre tive vontade de fazer isto contigo, vamos usar nossa vitória na obra de Deus, e com certeza ele vai nos dar mais outros caminhões iguais a este.
       Em seguida chegou o João Marcos com carro particular de seu Pai, para se ajuntar a eles na alegria, quando ficou sabendo dos detalhes pela sua irmã, sobre o presente do seu Pai, ele se emocionou, porque sabia o quanto seu Pai trabalhou para sustentar sua família em cima de um caminhão de empregado, sempre com dignidade, ele merecia este reconhecimento de seu ex-patrão.
        Com o passar do tempo, Missioneiro foi conforme a ajuda de João Marcos seu filho junto na administração da pequena empresa que abriram, crescendo aumentando a sua frota, chegando a um total de dez caminhões.
        Missioneiro e sua esposa Mariza, hoje só saem em viagens programadas, onde eles possam fazerem suas palestras de evangelizações, adaptaram uma carreta como se fosse uma casa, ali eles acharam o caminho do amor e da felicidade unindo o útil ao agradável com muita inteligência.

        O meu amigo Missioneiro contou esta passagem linda da sua vida a mim, em 01 de agosto de 2003, dia do meu aniversário e achei muito fantástica para eu por no livro Conto de Beira de Estrada.
        Eu encontrei o amigo e sua esposa, reunidos com diversos colegas caminhoneiros, em um posto de serviços em Minas Gerais, dando uma palestra sobre a palavra de Deus em sua vida muito vibrante, e que mais me chamou atenção foi à energia positiva, que seus ouvintes saíram da reunião, eu ao assisti-los, fiquei totalmente envolvido por minha emoção, me senti um filho de Deus.
        Eles colocaram para animar e incentivar as pessoas hinos gospel de Daniel e Samuel, pelo ritmo dos hinos já foi cinqüenta por cento de aceitação dos seus ouvintes, um verdadeiro show, e melhor ainda para qual minha surpresa, eles fazem esta caridade ao ser humano e a distribuição de Bíblias e livros, de graça.        
         Esta é uma história verídica digna de um bom livro de cabeceira por si só, pelo conteúdo riquíssimo de demonstração de amor ao próximo, dedicar o amor não importa a quem no nome do Senhor.
        Pela globalização mundial hoje cada vez mais forte, países e grandes empresas se tornando cada vez mais capitalistas, onde se encontra umas pessoas assim com estes objetivos firmes de propósitos de evangelizar as pessoas de graça, muitas delas até esquecem que Deus existe, realmente é fantástico, agora já escutamos a palavra do meu amigo Missioneiro, estamos energizados na fé coligados no amor humano.         
        Eu convido você Anjo para entrar em nosso caminhão novamente e seguirmos a nossa viagem.
        Que tal nós descermos até a cidade do abacaxi em Terra de Areia, RS, lá tem o amigo Sardinha, este é um velho conhecido de estrada e me garantiu que tinha uma boa história para nos contar, ele me disse que era longa, certamente não nos faltará disposição para ouvi-la, eu sugiro você tomar mais um cafezinho, fuma outro cigarro, relaxa esta viagem nas emoções da coincidência tem duas partes.
 
            A COINCIDENCIA

          Sardinha era motorista de uma empresa frigorífica gaúcha, esta tinha sua sede perto de sua casa em Porto Alegre, RS.
          Ele na ocasião estava no norte do Brasil, Ceará, já fazia três meses com seu caminhão Scania modelo 111 de cor verde forte, seu coração não tinha mais espaço para guardar a saudades da sua família.
          Ele ligou para seu patrão, este o mandou ir para a cidade de Araripina, mais para o interior do estado do Ceará, carregar pó de gesso para o hospital de clinicas São Paulo, Capital.
          Sardinha ficou muito feliz, esta carga lhe colocava a caminho de casa, ele rumou direto a esta cidade, chegou lá, já estavam esperando para carregar, depois de carregado, Sardinha seguiu sua viagem rumo à capital de São Paulo.
         A ansiedade de chegar logo a seu destino era muito grande, isto fez com que ele apertasse um pouquinho mais no acelerador, isto fez um desgaste maior no combustível.
        Perto da cidade de Varginha Grande, MG, em uma subida muito forte, um local muito perigoso, porque era saída de uma curva, trinta kilometros antes de chegar ao posto da qual sua empresa mantinha um convenio de abastecimento, ele ficou sem óleo diesel.
        Ele foi ao desespero, pelo local e pelo perigo de assalto, a estrada naquele trecho, pelo adiantado da hora era muito deserta.
        Desceu de seu caminhão Scania para pedir socorro, olhou na sua volta era só ele e as estrelas, de uma noite linda a lhe brilhar, a lua cheia se escondia entre as nuvens de vez em quando, mas logo aparecia de novo.
         Passou por ele vários caminhões, mas nenhum quis parar, ele cansou e foi para a cabine de seu caminhão, um pouco triste e frustrado pela situação, não tinha alternativa a não ser dormir ali mesmo e contar com a sorte.
        Ficou debruçado na direção por alguns minutos antes de se deitar, olhou as horas já passava da meia noite, até porque dormir ali era um ato de muita coragem, ocorriam assaltos muito freqüentemente naquela região, um caminhão parado no acostamento era uma presa fácil na certa.
        Ele estava ali entre uns pensamentos e outros, ele olhou em seu retrovisor, vinha um caminhão pequeno com uma carga bem alta, isto lhe chamou a atenção, porque dava para ver pelo clarão da lua, ele pulou fora de sua cabine rápido, e fez sinal para o mesmo parar, este de muito bom coração já encostou bem em frente de seu caminhão.
        Os olhos de Sardinha brilharam de alegria, finalmente um amigo para lhe prestar socorro, correu logo a seu encontro, e passou a narrar o acontecido ao amigo, este passou a mão em um corote de plástico e uma mangueira e cedeu trinta litros para Sardinha chegar até o posto.
        Antes de sair o amigo fez uma pergunta a Sardinha.
        Diga-me ainda não te assaltaram?
        Este é o pior trecho da estrada!
        Ainda não amigo, graças a Deus estive sorte, mas estava com muito medo, ainda bem que você parou para me socorrer, você foi uma benção de Deus.
        Sardinha tirou o ar dos bicos que alimenta o motor, este passou a funcionar depois eles seguiram juntos até o posto na qual Sardinha tinha ordem para abastecer.
        Depois que Sardinha abasteceu seu caminhão, ele devolveu o óleo que o amigo lhe tinha emprestado, agradeceu emocionado pela ação humana do amigo, conversaram mais um pouco, eles encostaram seus caminhões em um canto do pátio do posto e foram dormir.
         Na manhã seguinte eles tomaram um chimarrão, já bem mais a vontade, o amigo que lhe emprestou o óleo se chamava Trigo, apelido este, pelos seus cabelos brancos, o mesmo morava na cidade de Joinvile, SC.
         Sardinha para fazer um agrado ao Trigo foi no restaurante do posto, comprou queijo, salame, e fez um gostoso café para ambos, antes de seguirem viagem.
         Logo depois eles seguiram seus destinos, o velho Trigo para a cidade de Campinas, SP.  Sardinha para a cidade de São Paulo, Capital, mas não seguiram junto o trajeto, até pelas diferenças de potencias de caminhões, o Scania modelo 111, andava e subia mais que a Mercedes Bens, modelo 1113, do velho Trigo, este era muito lerdo nas subidas, coitado do velho Trigo não poderia exigir muito do seu bruto, teria que dançar conforme a música na estrada, para ele não deixá-lo na mão.
       “Trigo estava carregado para a cidade de Campinas, SP. Sardinha como já mencionei para a cidade de São Paulo, SP”.
       Bem este fato ocorreu em inicio do mês de março do ano de 1982.

                     Segunda Parte
                       Capítulo ll

        Pelos atropelos das dificuldades da vida, Sardinha passou a trabalhar só no trecho São Paulo a Argentina e vise-versa, os meses foram se passando de uma maneira muito rápida, quando ele viu, lá se foram seis anos, que passou despercebido a Sardinha.
        Ele nunca mais viu o amigo Trigo nas estradas, ou até mesmo em algumas paradas em postos ao longo das mesmas.
        Sardinha carregou seu caminhão em São Paulo de filé de peixe para Rio Negro, Ar, já era final de ano, seus planos era passar o natal com a sua família em casa, e depois pegar sua esposa e filhos e levá-los junto com ele, para passar o ano novo em viagem.
        Ele vinha tranqüilo em seu trajeto, olhou as horas era dez da manhã, quando ele estava subindo a lomba conhecida por tira teima, “ela era conhecida por este nome, pelo seu aclive ser muito forte”, esta se localizava entre a divisa dos estados de São Paulo e Paraná, bem no tope da subida tinha um caminhão Mercedes Bens modelo 1519, parado, seu motorista estava debaixo do mesmo tentando arrumar alguma coisa.
      “Desde aquele momento que foi socorrido em 1982, pelo amigo Trigo em Minas Gerais, Sardinha sempre que encontrava um amigo caminhoneiro parado na estrada, sempre parava seu caminhão para perguntar ao mesmo se estava precisando de ajuda, para ele era uma maneira de agradecer a Deus por aparecer alguém disposto a lhe ajudar naquela hora tão difícil, assim ele já ajudou muitos amigos das estradas”
        Sardinha parou à frente do caminhão estragado, e foi ao encontro do motorista e logo lhe perguntou se precisava de ajuda.
     - Sim amigo obrigado por parar, quebrou os rolamentos da cruzeta do cardam e não tem como consertar, tem que substituir o mesmo, pior que eu não tenho o mesmo comigo, tenho que buscá-lo em um acessório.
       -Amigo o posto tio doca fica perto daqui cerca de 30 kilometros aproximadamente, se tu tens como tirar ele, eu te dou uma carona até lá para o conserto e te trago aqui novamente.
         Assim que o amigo tirou o cardam e colocou amarrado entre o chassi do caminhão de Sardinha, eles seguiram até o posto tio doca.
        Foram conversando, o amigo caminhoneiro narrava a Sardinha que gostaria de passar o natal em casa com a sua família, e vinha tranqüilo até que ficou nesta situação no meio da estrada.
      - Se depender de mim pode ficar tranqüilo, lhe ajudarei no que for preciso, eu também estou fazendo um esforço para passar o natal junto de minha família, se tivermos sorte nós dois vamos passar juntos o natal com nossos familiares.
      - Sabes amigo, ainda bem que tem um caminhoneiro de bom coração, parceiro assim igual ao senhor para me ajudar, eu já estava conformado que meu natal seria na beira da estrada.
      - Eu vou contar ao amigo um fato que ocorreu em março de 1982, eu estava vindo de Belo Horizonte com uma carga para Campinas, SP, na localidade de Varginha Grande MG, bem em uma subida ruim cheia de curva, um lugar muito perigoso, era meia noite aproximadamente ali estava um amigo caminhoneiro com uma scania modelo 111, câmara fria, parado com falta de diesel, eu parei e socorri o amigo, este ficou muito feliz e eu também por poder ajudar o amigo, nesta nossa profissão, você sabe temos que nos ajudar na estrada, eu nunca mais vi ou soube noticias deste amigo lá do sul, talvez até você conheça ele se chamava Sardinha.
        Sardinha enquanto aquele homem de cabelos brancos narrava sua história, seus olhos se enchiam de lágrimas em uma emoção incontrolável.
      “Os anos se passaram e Sardinha não se lembrava mais da fisionomia do velho Trigo, o amigo caminhoneiro do Mercedes Bens 1113 que lhe tinha socorrido naquela ocasião em 1982, e tão pouco o velho Trigo o reconheceu”.
        Naquela época de 1982, o Sardinha não usava os cabelos cumpridos, os mesmo estavam raspado em homenagem a seu irmão que teria passado no vestibular para cursar direito, e também ele estava mais gordo, ele já estava em um caminhão Scania modelo 112, mais moderno, os caminhões de ambos eram totalmente diferentes daquela ocasião, era impossível ambos se reconhecer”.
        Sardinha depois que conseguiu controlar a emoção, dissera ao amigo.
      - Eu não posso acreditar no que está acontecendo neste momento, o senhor é o velho Trigo, só pode ser obra de Deus, de nos colocar novamente um no caminho do outro novamente, eu sou o Sardinha, aquele motorista que você ajudou naquela ocasião.
         O velho Trigo ficou parado sem ação alguma, totalmente paralisado, tomado por uma emoção muito grande, que até Sardinha se assustou com o amigo pensando que iria dar lhe uma coisa, soluçando lhe disse.
      - Mas Sardinha como isto pode estar acontecendo, o destino colocou você no meu caminho para retribuir o mesmo favor que te prestei naquela ocasião, e melhor ainda na véspera de natal, é realmente você tens ração só pode ser obra de Deus mesmo.
      - Você sabe velho Trigo, depois daquele dia que você me socorreu lá em Varginha Grande, MG, o senhor me deu uma lição de solidariedade humana que nunca mais esqueci.            
      “Depois daquela dia em diante Sardinha e velho Trigo nunca mais perderam o contato se fizeram grandes amigos, os mesmo quando não se encontram na estrada, se comunicam por telefone”.
         Bem ambos conseguiram passar o natal com seus familiares, e no natal do ano seguinte Sardinha e velho trigo reuniram as duas famílias e confraternizaram o nascimento de cristo em uma grande festa e comemorando uma amizade que nasceu para sempre entre eles.

        Esta história é verídica e foi contada pelo meu amigo irmão de estrada Altair Freitas, Guaíba, RS. “O popular Sardinha” no posto litoral, Terra de Areia, RS. BR 101 em 21 de fevereiro de 2004 e pôr coincidência eu conheci o velho Trigo o mesmo estava almoçando no posto litoral e confirmou esta história.
        Vamos parar para tomamos uma água meu amigo Anjo, fizemos uma pausa, atende a ligação primeiro em seu celular tranqüilo, depois seguimos, porque esta viagem será mais longa ainda temos que ir a cidade de Lobos Argentina, ouvir o motorista Lucio Ovídio ele me ligou e quer contribuir com meu livro, não vamos desperdiçar sua história.
     - Claro meu amigo Lauro Abbade, vamos nessa.
     - Nossa fiquei emocionado é a primeira vez que você Anjo falou meu nome nesta viagem, será que é uma força da Mãozinha Santa.     


            UMA MÃOZINHA SANTA

        Rodrigo estava vindo do armazém montado em seu burrinho Mancha.
        O burrinho recebera este nome por uma mancha branca no focinho e outra no seu lombo.
        Rodrigo ao chegar perto da esquina da rua de sua casa cruzou com o seu professor Domingos.
     - Bom dia Rodrigo seu pai se encontra em casa?
     - Sr. Domingos quando saí para ir ao armazém ele se encontrava, mas ele estava para sair de caminhão, agora eu não sei lhe dizer!
     - Obrigado Rodrigo, mais tarde eu passo em sua casa para ter uma prosa com teus pais, agora preciso fazer uma visita ao zelador da escola.
     - Sim Sr. Domingos, imagina não há de que.
       Rodrigo seguiu em seu burrinho bem desconfiado, curioso para saber qual o assunto do seu professor com seu pai.
     - Sabes mancha, só pode ser reclamação, no mínimo, vai falar para o meu pai, sobre a briga de ontem com aquele guri chato da turma 143, ou sobre minhas notas baixas no colégio.
     - Mancha virou a cabeça para o Rodrigo como se estivesse entendendo tudo que seu amigo falava, relinchou.
       Rodrigo ao chegar a sua casa, entregou a sacola de compras do armazém a sua mãe.
       Seu pai já tinha saído com o caminhão, ele não falou nada para sua mãe, sobre o encontro na rua com seu professor.
       Logo já saiu para brincar com o seu burrinho mancha na sanga que cruzava nos fundo de sua casa.
       Rodrigo era uma desta criança com um temperamento rebelde, não queria estudar, no colégio só brigava com seus colegas.
        Quando era feito uma maldade com um amigo da escola, podia ter a certeza que tinha o dedo dele no meio, enfim resumindo, Rodrigo era muito terrível.
        Ele só tinha um amigo, há este era tudo para ele, era inseparável.
      “O Burrinho Mancha”
        Rodrigo morava perto das montanhas, subindo ao seu tope, podia-se ver o belo vale que as mesmas escondiam do outro lado.
        Rodrigo nunca se atreveu a subir até o tope delas para olhar, tinha muito medo, ele sempre ficava brincando com seu amigo Mancha, no pé da montanha mais alta.
        Um dia Rodrigo brincando na estrada com o amigo, vinha em sua direção um motoqueiro tapado por uma nuvem de poeira, este quando chegou ao seu lado, o Burrinho se assustou e saiu correndo relinchando, deixando Rodrigo sentado na areia da beira da estrada.
     - Desculpa-me menino pelo mau jeito, eu não estive esta intenção espero não ter se machucado.
     - Eu só queria te perguntar se você conhece dona Mercedes?.
     - Claro sim conheço, ela é minha vizinha e é esposa do Sr. Maycá caminhoneiro amigo de meu pai.
     - Sim são eles mesmos, sou sobrinho deles, vim passar uns dias em sua casa.
       Por favor, pode me indicar o caminho menino?
     - Eu mesmo te levo à casa deles, já estava indo para casa quando tu apareceste na estrada com esta tua moto barulhenta.
        Rodrigo pegou o seu amigo Mancha, este ainda assustado pelo barulho da moto, e seguiram direto a vila da qual ele morava.
      - A propósito como se chama menino?
      - Meu nome é Rodrigo e do meu burrinho é Mancha.
      - E o meu nome é Cosquim.
        Eles foram conversando estrada a fora, em alguns minutos eles já estavam na vila, chegou à frente de uma casa branca com as janelas azuis, a mesma tinha uma área grande, Rodrigo disse à Cosquim, é aqui que morra seus tios.
         A dona Mercedes eu sei que está em casa, mas seu Maycá esta trabalhando, eu sei por que seu caminhão não esta em frente de sua casa, ele só vem à noite.
      - Obrigado Rodrigo, mais tarde eu voltarei até ver.
      - Cosquim eu moro ali nesta casa quase em frente seus tios de muro baixo, pintado de bege e janelas de cor marrom, até mais tarde então.
      - Até mais tarde Rodrigo.
         Cosquim entrou na casa de seus tios, e Rodrigo foi para sua casa com seu amigo Mancha.
         Dona Mercedes abraçou seu sobrinho muito feliz, pois a ultima vez que tinha visto o mesmo, já fazia cinco anos aproximadamente na casa de sua Irmã, mãe de Cosquim.
       - E o tio Maycá como está tia Mercedes?
       - Teu tio está bem, agora está feliz, trabalha com seu caminhão em uma empresa aqui perto de nossa vila, a noite já estará em casa e certamente ficará muito contente com tua visita.
      - Me diz uma coisa Cosquim, com quem estavas conversando quando tu vinhas para cá? ouvi vozes!
      - Era com o Rodrigo tia Mercedes, filho de seus vizinhos que morram quase aqui em frente de sua casa.
      - Ah o Capetinha filho do Sr. Lucio Ovídio e dona Dora!
      - Capetinha porque tia Mercedes?
      - Ele é o menino mais terrível aqui de nossa vila.
        Dona Mercedes passou toda a ficha do mau comportamento do Rodrigo ao Cosquim.
      - Mas tia ele não me pareceu ser tão danado assim, gostei dele me pereceu um menino inteligente muito comunicativo, esperto.
      - É vive com ele uma semana, depois tu me dizes, duvido que não vá trocar de opinião.
        Bem Cosquim era músico, viera passar uns dias com seus tios para compor novas letras e melodias para por em seu próximo disco.
        O lugar era muito bonito, ele apostava no clima das montanhas para alcançar novas inspirações.
        No outro dia depois da escola, Cosquim convidou Rodrigo para escutar algumas de suas canções no violão.
         As amizades dos dois foram crescendo à medida que os dias foram passando.
         Rodrigo ficava encantado com as canções de Cosquim ao violão, ele pediu para o mesmo lhe ensinar a tocar.
        Seu pai tinha um violão velho em casa, que sempre ficava em cima do roupeiro, mas era só para enfeite porque ele jamais tocou alguma musica no mesmo.
        Rodrigo pediu o violão para seu pai, ele nem pensou duas vezes deu o violão ao seu filho, dona Dora sua mãe comprou cordas novas e deu de presente ao seu filho.
        Como ele era um menino muito esperto e inteligente não demorou em estar acompanhando Cosquim em algumas canções.
        A música fizera que eles fossem muito amigos, tornaram grandes parceiros em algumas novas composições de letras.
        Bem depois do colégio, Rodrigo ou estava com Cosquim tomando aulas de violão ou estava brincando com seu amigo Mancha nos pés das montanhas.
        Cosquim muito inteligente, um dia pediu para o Rodrigo lhe mostrar o seu boletim escolar, este viu o que já sabia por intermédio de sua tia Mercedes, ele só queria a confirmação.
        Suas notas eram quase todas vermelhas, seguramente ele não passaria de ano.
        Cosquim olhou as mesmas e devolveu para o Rodrigo, mas não fez qualquer comentário de seu boletim.
        Em uma segunda-feira depois das aulas, Rodrigo nem almoçou direito, pegou seu burrinho Mancha e foi brincar nas montanhas, este se assustou com o vôo de uma perdiz, saiu em disparada, tropeçou em uma pedra e caiu de rolar no chão duro, se machucando bastante, torcendo o pescoço.
        Rodrigo ficou assustado pela gravidade do tombo de seu amigo, foi buscar ajuda, correu até a casa de dona Mercedes, entrou portão adentro aos gritos chamando por Cosquim.
        Ele vendo o desespero do Rodrigo correu para saber do que se tratava, ele viu seu amiguinho com o coração na mão, ofegante.
     - Que foi Rodrigo, que aconteceu?
     - O Mancha se assustou com um vôo de uma perdiz e saiu correndo e caiu nas montanhas, eu acho que ele se machucou feio, nem se mexe.
     - Por favor, vamos lá Cosquim me ajuda, por favor, rápido.
     - Calma amiguinho, certamente não foi nada, ele vai ficar bom, vai ver foi só um susto.
        E assim os dois foram com mais pressa possível, mas de nada adiantou o Burrinho não resistiu à queda, quebrou o pescoço vindo a morrer.
        O Rodrigo ficou desesperado, agarrou-se no pescoço do seu amigo Burrinho chorando, sacudia forte para tentar fazer com que ele se mexesse, mas tudo que ele fazia era em vão, ele estava morto mesmo.
        Cosquim depois de muito esforço conseguiu tirar Rodrigo dali levando para sua casa.
        Voltou às montanhas, cavou um buraco e enterrou o burrinho Mancha nos pés das mesmas.
        O seu amigo Rodrigo, pela morte de seu melhor amigo entrou em depressão profunda, ele não foi mais a escola e tão pouco a aula de violão, só ficava deitado na cama mergulhado em uma tristeza de dar dó.
        A vida tinha perdido todos os sentidos para ele, com a perda de seu Burrinho, só chorava, não conversava com mais ninguém.
        Cosquim vendo seu amiguinho assim naquela tristeza profunda, ele não conseguia aceitar aquela situação, teria que fazer alguma coisa para ajudar o Rodrigo.
        Cosquim passou o dia todo pensando o que fazer, e na sala de sua tia Mercedes tinha um quadro de Jesus dependurado na parede.
        Ele se ajoelhou diante do quadro e rezou a Jesus pedindo para o mesmo ajudar seu amiguinho sair daquela depressão.
        À noite Cosquim no seu belo sono, Jesus lhe deu um sonho muito bonito, que com certeza ajudaria Rodrigo a criar forças para retomar sua vida.
        O dia amanheceu Cosquim foi bem cedo à casa do amiguinho, mas não para lhe contar sobre o seu sonho, mas sim para colocar em prática o lindo sonho que Jesus lhe tinha dado a noite.
        Ele convidou Rodrigo para subir no topo da montanha com um bom argumento, o menino demorou aceitar o convite de Cosquim, pois tinha muito medo.
        Assim os dois foram bem ao topo da montanha, em uma posição que dava para olhar o grande vale lindo que a mesma escondia, até então era desconhecido para os dois.
        Eles ficaram encantados pela sua beleza com lindas árvores bem verdes, com lindas floradas em suas copas.
        Bem Cosquim foi enfrente com seu sonho e plano, que até então era o motivo por ambos estar ali.
     - Rodrigo tu estas vendo aqueles animais pastando tranqüilos lá no vale.
      “No vale tinha diversos animais, entre vacas, porcos, ovelhas e cavalos”.
     - Rodrigo olhava tudo que sua visão podia alcançar, bem atentos a todos os movimentos dos animais no vale.
     - Claro Cosquim, eu estou vendo sim.
     - Pois é meu amiguinho é para este grande vale que vem todos os animais quando morrem, e para aqui também veio o teu burrinho Mancha.
      - Mas para tu poder ver ele novamente, tu tens que ser a partir de hoje uma criança bondosa, obediente com seu país e professores, e ser o melhor amigo de seus amiguinhos na escola, procurar estudar para tirar notas boas, se tu conseguir ser esta criança a partir de hoje, eu tenho a certeza que Jesus vai deixar tu ver teu amiguinho Mancha, lá embaixo pastando junto aqueles outros animais.
      - Ah, e de repente, até te deixar levar para tua casa ele novamente.
      - Mas é verdade Cosquim, Jesus me dá ele novamente?
      - Sim meu amiguinho tudo depende de você.
        Rodrigo encheu seus olhos de lágrimas, e logo em seguida eles desceram a montanha e voltaram para suas casas.
        Passaram os dias, Rodrigo a partir daquele momento de sua visita, ao topo da montanha, mudou totalmente sua conduta.
        Aquela criança rebelde, capetinha, deu lugar a outra criança, irreconhecível, dona Dora e seu Lucio Ovídio, seu professor e amiguinhos da escola, ficaram totalmente surpreendidos com ele.
        Aquela criança má, rebelde, capetinha, não existia mais, deu lugar a uma criança bem educada, muito gentil, participativa na escola e com todos a sua volta.
        Depois em duas semanas Rodrigo, como teria perdido o medo de subir as montanhas, foi sozinho ao topo olhar para ver se enxergava seu burrinho Mancha, mas voltou triste para sua casa e na volta encontrou o Cosquim e contou ao mesmo que estava vindo das montanhas e não teria visto seu amiguinho Mancha.
      - Pó Cosquim será que Jesus se esqueceu de mim?
      - Não vai por ele no vale para eu poder enxergá-lo, eu mudei estou sendo uma criança boa com todos.
      - Tenha paciência Rodrigo é muito cedo ainda, deixa o tempo passar, daqui uns dois meses que tenho a certeza que Jesus vai te deixar olhar teu burrinho Mancha no vale, ele precisa ter a certeza que tu mudou mesmo para merecer ele de volta.
      - Bem Rodrigo já que te encontrei aqui, eu vou à casa da minha tia, estou compondo uma música nova e queria tua ajuda na mesma.
       “Claro Cosquim inteligente que era disse aquilo só para deixar seu amiguinho mais animado”.
         Passaram mais alguns dias, enquanto Rodrigo estava para a escola, Cosquim foi até a casa de Lucio Ovídio e dona Dora, pais de Rodrigo.
       Cosquim contou para eles sobre o seu sonho e plano.
      - Deste momento para frente eu vou precisar da ajuda de ambos para poder executar meu plano e também para dar certo.
      - Eu preciso que o Sr. Lucio Ovídio compre outro Burrinho, mas que seja idêntico ao Mancha, e dona Dora possa ensinar alguns truques ao mesmo, estes que Rodrigo ensinou ao Burrinho que morreu nas montanhas.
      - Imagina Dora o plano de Cosquim esta pela metade e nosso filho já é esta criança, linda boa e feliz, vamos nos colocar inteiramente a disposição de Cosquim, lhe ajudando em tudo o que for preciso.
      - Obrigado Cosquim por ajudar nosso filho a sair desta depressão.
      - Não me agradeça Sr. Lucio Ovídio, por meu amiguinho eu faço de tudo para vê-lo feliz novamente e ajudá-lo a sair desta situação o mais depressa possível.
         Sr. Lucio Ovídio combinou tudo com sua esposa, e no outro dia bem cedo pegou seu caminhão e saiu nos municípios vizinhos para tentar encontrar um burrinho igual o Mancha.
         Procurou, procurou, até que um senhor que morava em uma estrada cheia de altos e baixos, lhe indicou uma pessoa que tinha um burrinho assim com as características do Mancha.
         Lucio Ovídio foi até a casa deste senhor, e comprou o burrinho, realmente este era muito parecido, que até ele estava em duvida se o mesmo teria morrido mesmo.
         Levou o burrinho para um sitio de um primo, e dona Dora que sempre foi muito habilidosa, passou a ensinar os truques para o mesmo, não demorou muito para ficar mais perecido com o Mancha verdadeiro.
         Quando o burrinho estava pronto, o Sr. Lucio Ovídio chamou Cosquim.
      - Agora deste momento em diante o Burrinho é seu, segue com seus planos.
         Assim Cosquim o Fez, naquela noite mesmo ele subiu as montanhas e desceu ao vale e deixou o novo Mancha lá junto com os outros animais.
        “Isto tudo que eles fizeram, não deixaram nunca Rodrigo saber, senão todos os esforços teriam ido por água abaixo”.
        Eles deram um tempo para o novo mancha, se acostumar entre os outros animais do Vale.
        Duas semanas depois Cosquim convidou o Sr. Lucio Ovídio e dona Dora para fazerem um pique-nique no vale e levarem o Rodrigo até o mesmo.
        Era sábado de manhã Rodrigo cortou lenha para sua mãe, vendo seu pai na volta de seu caminhão concertando um apara-barro, se aproximou.
      - Pai me leva no vale hoje de tarde, para ver se enxergo o Mancha entre os animais pastando.
      - Meu filho adorado, eu sei o quanto tu está ansioso para encontrar teu burrinho Mancha no vale, mas espera só ate amanhã, aí eu mais sua mãe e Cosquim, te levaremos lá, e aproveitamos e passamos o dia todo entre as montanhas em seu vale fazendo um piquenique.
      - E assim saberemos se Jesus deu uma nova chance a você, de olhar teu amiguinho Mancha e te deixar trazer ele para casa.
        Apesar de sua ansiedade ser muito grande, mas Rodrigo concordou com seu pai.
      - Está bem meu pai, vai ser bem melhor assim, já vou pedir para a mãe, preparar uma galinha com farofa para nós comermos lá.
      - Sim meu filho faça isto mesmo.
        Rodrigo quase não dormiu a noite, estava muito feliz, muito falante, por conta de sua ansiedade.
        Domingo bem cedo ele era o primeiro a estar pronto, olhava toda hora para a casa da tia de Cosquim para ver se o mesmo saia de dentro de casa, deu graças a deus quando ele apareceu, seu coração pulava em uma emoção fantástica.
        Rodrigo foi o primeiro a chegar ao topo da montanha, seu pai esteve que chamar sua atenção varia vezes, para ir devagar poderia escorregar entre as pedras e se machucar, para descer até o vale era muito perigoso, a estrada era muito estreita e cheia de obstáculos.
         Chegando ao local, enquanto seus pais arrumavam um local legal para sentarem e comerem algumas guloseimas que tinham trazido de casa.
         Rodrigo saiu com Cosquim a procurar seu amigo Mancha entre as árvores, ele estava olhando para uma espécie de açude, onde estavam muitos animais pastando.
         De repente, por de trás dele, apareceu seu novo amiguinho Mancha, este se agarrou em seu pescoço, beijando, acariciando e chorando muito, tomado por sua emoção.
      - Dizia entre lágrimas, obrigado meu Jesus, o senhor não se esqueceu de mim, trouxe meu amiguinho de volta.
         Ele montou em seu burrinho e foi até onde estavam seus pais agarrado só pelas crinas, a felicidade de Rodrigo contagiou a todos, que também não conseguiram segurar as lágrimas, abraçaram-se todos ao Rodrigo e ao o burrinho.
      - Viu Rodrigo, eu não te falei, se tu mudasses a sua conduta, sendo uma criança boa, Jesus te devolveria seu amiguinho Mancha, ele até está mais gordo, saudável.
      - É verdade Cosquim eu nunca mais vou mudar, vou ser sempre uma criança boa, eu amo meu amiguinho Mancha, obrigado à vocês, por me trazerem aqui no vale para buscar ele.
         Os pais de Rodrigo ficaram muito felizes com o filho, a partir daquele momento, nunca mais ele deu problemas, pelo contrario só alegria, e motivo de muitos orgulhos para eles.
         Seu filho encontrou forças para seguir a vida novamente cheia de vitalidade e sonhos, ao lado de seu novo burrinho Mancha.
         Tudo graças a uma mentirinha inocente, que Jesus deu em sonho a Cosquim, para ajustar a vida daquele inocente que estava desabrochando e tinha muita luta pela frente, para se tornar um adulto do bem.
         O tempo se passou entre muitas alegrias e felicidades a ambos.
          Hoje Rodrigo já é um homem de muitas responsabilidades, seu burrinho Mancha está aposentado em um sítio especial só para ele que seu pai comprou, e ninguém se atreveu a dizer a ele que o mancha atual, não era o Mancha verdadeiro, e sim outro burrinho arranjado idêntico ao que morreu.
         Cosquim está muito feliz, sempre agradece Jesus pela ajuda inocente a Rodrigo e também por tabela a sua vida, ele e Rodrigo formam uma linda dupla de músicas sertanejas e fazem muito sucessos, pelo o Brasil a fora.
         Sr. Lucio Ovídio segue com seu caminhão transportando mercadorias pelo Brasil e mercosul, mas com um caminhão zerinho da mercedes bens, que Rodrigo lhe deu de presente, fruto de seu trabalho como músico, ele segue muito feliz com sua família, que até então só lhe dá orgulho, seus netos chegam um a cada ano.
         Rodrigo entre uma turnê e outra encontra tempo para sua esposa e manda filhos para os avôs ajudarem a criarem.
        Mas é uma formula de muita felicidade, que ambos ajustaram para eles com esta ajuda divina em sonho.

        Está história em partes é verídica, mas pela felicidade que beneficiou a todos, eles preferem acreditar que é verdade por inteira e sempre reforçam a mesma quando se é necessário, para ajustar suas vidas entre seus familiares, uma mentira inocente não faz mal a ninguém.
        Ela me foi contada por meu amigo Lucio Ovídio na cidade de Lobos, Argentina, em 02 de agosto de 2005, acompanhado pela dona Dora sua esposa, dada como testemunha.
         Meu caro Anjo, eu nasci e cresci em cima deste caminhão da qual eu te passo a contar, esta história é uma homenagem aos meus pais, que foram uns guerreiros dos asfaltos e morreram felizes por deixarem um legado de humildade e respeito e educação aos seus oitos filhos.
         O meu pai um infarto feito flecha não lhe deu tempo de socorro, partindo para o outro lado do mundo, devo acreditar retornando para sua própria casa.
         E mais tarde partiu ao seu encontro minha mãe, seu grande e único amor.
       “Obrigado a você meu companheiro desta viajem, a me permitir a lhe contar esta passagem linda nas vidas de meus pais, entre nosso descanso das diversas emoções entre curvas e subidas que encontramos pelo caminho, agora vamos viajar no tempo, mas só com a mente e deixamos nosso caminhão estacionado em um posto qualquer de beira de estrada, veja a importância de uma abóbora”.é pôr causa dela que hoje eu estou aqui vivendo neste mundão de Deus, maravilhoso.

            UMA ABÓBORA CORREIO

        Adão tinha um caminhão e viajava por diversos lugares, não tinha paradeiro certo, sua casa era seu próprio caminhão e sempre que tinha um baile em algum lugar lá estava ele estacionado em frente esperando o baile começar.
        Esta sua vida de viajante não era vista de bons olhos por nenhum chefe de família por onde ele ficava ou cruzava.
        Um determinado fim de semana teve um baile de são João na sede da escola da qual Marley estudava, e Adão chegou bem cedo e estacionou seu caminhão bem nos fundos do pátio da escola, e ficou sentado em seu interior olhando as pessoas e famílias que ali chegavam para o baile.
       Adão estava interessado em namorar a Marley, o mesmo tinha conhecido ela na sede da fazenda onde seu pai trabalhava de empregado.
       Seus olhos buscavam todos os movimentos das pessoas que ali chegavam para o baile, para ver se ela se encontrava entre ambos, até que lá pelas 23, horas ele viu a Marley e sua família chegando, seu coração disparou de emoção.
       Ele deu mais um tempo sentado por ali na cabine de seu caminhão, para não chamar muito atenção de alguns familiares de Marley, e quando começou o baile ele entrou como se não quisesse nada, se postou em um canto onde ele poderia olhar melhor o salão e o banco onde estavam sentadas as moças de família, assim elas ficavam esperando, até que algum rapaz a convidava para dançar.
        Adão esperou o melhor momento do baile, este foi quando o gaiteiro começou a tocar uma valsa, por ser um ritmo mais lento onde ele poderia conversar melhor com a Marley.
        O pai de Marley quando viu sua filha dançando com Adão, tratou logo de alertá-la que não fazia gosto, até porque ela só teria 13 anos e Adão estava na casa dos 23 anos, muito velho para ela e isto já era um dos motivos para que Marley não namora-se Adão, e sem falar na fama de mulherengo pelo fato de ele ser caminhoneiro.
        Adão e Marley dançaram o baile inteiro juntinhos, eles ficaram enamorados, isto para os pais dela era o fim, no dia seguinte em casa tiveram uma conversa seria com a Marley, a proibiram totalmente de continuar o seu namoro com Adão.
        Ela se viu desesperada com esta atitude de seus pais sem saber o que fazer, eles a proibiram até de sair de casa, suas saídas eram de casa para a lavoura e vise versa.
        Um dia ela escreveu um bilhete para o Adão e pediu para sua Irmã mais nova, que entregasse para o mesmo, este bilhete explicava uma maneira que ela encontrou para ambos trocarem bilhetes, para se comunicarem sem levantar suspeitas, este dizia para Adão procurar sempre de baixo de uma abóbora que ficava perto de uma árvore a direita da porteira da lavoura.
        Marley quando ouvia um barulho de caminhão na estrada, que cortava o vilarejo onde ela morava, seu coração já ficava em alerta, porque sabia que logo em seguida a este barulho, tinha um bilhete de baixo da abóbora na lavoura de seu pai.
        Marley dava um tempo e saia correndo para buscar o bilhete de seu amado sem ninguém perceber.
        E assim eles fizeram, por um bom tempo, eles não podiam namorar normais como todos os casais de namorados em casa, eles arrumaram uma maneira inteligente de trocarem bilhetes, fizeram isto até seu irmão mais velho descobrir, quando este foi à lavoura buscar uma abóbora para fazer doce que sua mãe tinha lhe pedido, seu irmão não resistiu o achado contou direto para seu Pai, deixando sua irmã em maus lençóis.
        A briga foi feia a ponto de deixarem a Marley trancado em casa de castigo, mas por sorte de Marley esta sua irmã mais nova gostava muito dela e lhe ajudava em tudo sem os seus pais perceberem.
        Quando o Adão soube do acontecido tratou logo de arrumar uma maneira de ficar junto de sua amada, mandou um bilhete pelas mãos da irmã que estava sendo o cupido do amor deles, combinando de fugir.
        Marley por estar sofrendo uma pressão muito forte, para desmanchar o namoro, aceitou a proposta de Adão, estavam ambos muito apaixonados um pelo o outro, e viram nisto uma solução de seus problemas.
        Assim eles combinaram um dia a noite de fugir de caminhão.
        Quando chegou o dia de eles fugirem, Marley ajudou sua mãe em tudo que ela precisava, até cortou lenha, fez doce, isto distraiu um pouco a vigilância de seus pais.
         Bem no inicio da noite, ela passou bem seu vestido cor de rosa, muito lindo com rendinha, e colocou no cabide de pé que ficava de trás da porta de seu quarto.
         Quando chegou lá pelas três horas da manhã, todos dormindo, ela colocou seu vestido bem devagar para não acordar ninguém, fez uma trouxa com outras roupas suas que poderia precisar, e saiu sem fazer um barulho, o Adão já estava esperando ela na estrada que levava a casa de Marley.
         Ele para não acordar os cachorros deixou seu caminhão bem distante da porteira e assim eles foram caminhando até o mesmo.
         Ao dia seguinte os pais de Marley estranharam a demora, ela sempre levantou cedo para ajudar sua mãe na lida de casa.
         A sua mãe tinha o costume de limpar a mesa da cozinha todos os dias, esta tinha um Baú de baixo do tampo, onde ela guardava as toalhas para trocar quando necessitava, e com uma certeza absoluta que sua mãe iria abrir este baú de manhã para colocar toalha na mesa, ela deixou um bilhete bem à vista, para que ela visse.
         Quando sua mãe achou este bilhete, foi um desespero total, o seu pai e os irmãos encilharam os cavalos e saíram a procurarem por todos os lugares na vizinhança, se eles estivessem pego a Adão com certeza o matariam, mas eles já estavam bem longe na cidade de Guaíba, RS.
         O pai de Marley foi avisado pelo pai de Adão que eles estavam nesta cidade e quando ele foi lá para buscar a filha esta estava já casada com seu amado pela policia local, ele não pode fazer nada a não ser voltar para casa e contar para sua família que tinha ganhado um genro mesmo contra a vontade, mas não se poderia fazer mais nada.
         Com o passar do tempo eles foram aceitando a situação do casamento de Marley e Adão, aí vieram os filhos, ficou mais fácil a aproximação de ambos.
         Adão e Marley tiveram oito filhos e formaram uma família muito linda, onde eles foram crescendo e casando e lhes dando netos e bisnetos lindos.
         Adão e Marley criaram seus filhos honrosamente à custa de trabalhos árduo sempre viajando em seu caminhão, do mesmo saíam às alimentações, estudos e vestimentas e ainda lhes sobravam um tempo para educarem seus oito filhos, educações estas, que ficaram para o resto de suas vidas, deixando como legado a união e o amor familiar acima de tudo, para enfrentar quaisquer problemas na vida.
         Adão e Marley não contaram para nenhum de seus filhos esta história, não se sabe a razão, talvez por vergonha do que eles fizeram, se casando em uma delegacia, o fato é que nasci e cresci juntos de meus irmãos e só fiquei sabendo, quando ambos já estavam se unidos novamente ao lado do senhor no céu, história contada pela minha tia, esta foi uma história de amor muito bonita, meus pais foram muito felizes a sua maneira.

         Esta história é verídica se passaram com meus pais, eu não fui testemunha, mas foi contada a mim pela minha tia Marly, o cupido do amor de meus pais na época em 27 de dezembro de 2006, neste dia minha mãe passava seu último dia aqui conosco no plano terrestre, hospitalizada em um hospital em Porto Alegre, RS. Aonde ela veio a óbito no mesmo dia à noite, foi ao encontro de seu primeiro e único amor que tinha falecido em 27 de abril de 1988, dei este presente a mim mesmo e a meus irmãos no meu livro de histórias, Contos de Beira de estrada.
         Meu amigo Anjo, depois desta história de meus pais, nós vamos entrar em uma zona perigosa cheia de mistérios, aqui nossa viagem pode dar alguns arrepios, mas você esta comigo, eu sou a sua companhia, lembre-se estamos na cabine de meu caminhão, viemos até aqui, não vamos desistir, Deus esta conosco nesta viagem, fica tranqüilo, se meus cabelos arrepiarem, não liga Anjo, eu já estou acostumado a grandes emoções, Claudinho quer nos presentear com este mistério nos contando sobre o menino especial, porque não ouvi-lo, seguimos com nosso caminhão até São Borja cidade que faz fronteira com a Argentina.

            O MENINO ESPECIAL

         Claudinho é um motorista muito competente, responsável talvez o mais cuidadoso e seguro que eu conheço sempre correto em suas atitudes.
         Usa sempre a direção defensiva quando dirige seu caminhão ou até mesmo o seu carro particular de passeio.
         Acostumado a longas viagens nacionais e internacionais, e as mais diversas estradas ao longo de sua profissão.
         Mas esta viagem, para ele era muito especial, o dinheiro do frete pagaria a ultima prestação de seu caminhão, esta de numero trinta e seis, só ele sabe quantos sacrifícios, para chegar à última promissória.
         Claudinho saiu da fronteira rumo a Santiago do Chile, carregado de produtos eletrônicos, sem escolta, só na coragem e na confiança em Deus.
          Sua ansiedade era muito grande, louco para chegar ao cliente em Santiago, em uma viagem normal, ele levaria cinqüenta e seis horas aproximadamente com os tramites das aduanas, mas ele queria encurtar este percurso em quarenta e oitos horas, rodou muitas horas seguidas, andou de criar calo nas partes inferiores como costumamos dizer na gíria de motorista.
         Claro chegou a uma determinada hora que ele não agüentou, o cansaço lhe dominou, responsável como ele era, estacionou no primeiro posto que ele encontrou pelo caminho.
         A noite já teria ido fazia tempo, eram as primeiras horas da madrugada, ele não desceu de seu caminhão para verificar os pneus ou alguma coisa fora do normal, tamanha era sua estafa.
         Ele olhou sua cama já semi-arrumada, se encostou por uns instantes e já em poucos minutos seu sono era profundo.
         E ao meio de seu gostoso sono, ele começa a sonhar com um menino sentado a um galho de uma árvore, ao lado de seu caminhão, em seu sonho Claudinho abre o vidro da porta do caminhão para melhor ouvir e conversar com o menino.
        Ele perguntou ao menino:
     - Que fazes aí sentado em cima desta árvore?
     - Eu estou fazendo uma viagem especial, atendendo a um pedido de meu pai, te cuidando.
        Claudinho com ar de deboche fez mais uma pergunta.
     - Mas o que você consegue cuidar aí de cima desta árvore?
        O menino lhe respondeu quase que sorrindo, eu daqui de cima consigo cuidar até os sonos de outros motoristas, que aqui chega para dormirem, inclusive o seu como havia lhe dito, eu sempre estou por aqui.
        Às vezes muitos colegas teus me contam suas vidas, e suas histórias, até mesmo me fazem alguns pedidos, alguns fáceis outros difíceis de realizar, aqueles que me pedem com amor e humildade, eu sempre atendo na medida do possível.
        Claudinho um pouco desconfiado pensou com seus botões, “o que!  um menino com tão pouca idade, realizando pedidos, deve ser história dele”, mas em seu sonho seguiu conversando com o menino em diversos assuntos.
         Sempre que Claudinho lhe fazia uma pergunta, este lhe respondia com ar de graça inteligentemente.
         Claudinho ao meio desta conversa lhe contou que estava com uma forte dor de cabeça e o menino sentado em aquele galho, lhe disse não te preocupes já vai passar, é muito esforço físico, o teu organismo lhe avisa através da dor, eu estou aqui, aliás, eu sempre estou contigo, você às vezes na ânsia do trabalho não percebe, mas se sua dor de cabeça piorar, eu peço uma ajuda para o meu pai, só ele tem o poder de curá-la, ele mora longe daqui.
        Claudinho lhe disse, então desce desta árvore eu te levo em sua casa de caminhão, aí já aproveito e peço para teu pai fazer algo para esta dor de cabeça passar.
         O menino lhe disse: Você não pode ir lá de caminhão é um lugar especial, eu só posso te levar lá se tua dor chegar a um ponto perigoso, que corre risco de sua vida.
         Claudinho segue com seu sonho, ficou espantado com o rumo da conversa e mais desconfiado ainda, mas não procurou ligar muito para o que o menino tinha lhe falado.
         Este em um gesto olhou para o nascente do sol, tenho que ir, o dia esta amanhecendo, eu tenho que estar junto de meu pai, para juntos agradecer a mãe natureza de mais uma tarefa cumprida.
         Claudinho para ter certeza, mas a onde você mora mesmo?
Ele inteligentemente levantou-se do galho e apontou com o dedo para o céu em direção ao lindo sol que estava já clareando com seus raios os primeiros minutos do dia, eu moro lá.
         Claudinho ficou preocupado, mas você diz que mora longe, vai chegar tarde em casa, seu pai vem te buscar?.
         O menino lhe disse: Não eu sempre vou sozinho, o Claudinho de bom coração lhe disse, então entra em meu caminhão eu te levo até seu pai.
         O menino com um sorriso lindo em seu rosto lhe falou:
         Não meu amigo, obrigado é muito cedo ainda para você se encontrar com o meu pai, não chegou sua hora.
        Você aproveita cada minuto de sua vida terrestre para se evoluir espiritualmente, que só assim desfrutará de sua vida eterna ao lado de meu pai.
        Tchau boa viagem, eu e meu pai estaremos te cuidando por onde andares ou estiveres.
         O menino desceu da árvore e foi caminhando em direção daquele lindo sol que nestas alturas já estava com todo seu brilho para dar a luz a um novo amanhecer e sumiu.
         E naquele momento Claudinho acordou de seu sono profundo, e este sonho permanecia em sua mente bem forte.
         Ele levantou da cama e desceu para dar uma volta em redor do seu caminhão, para sua surpresa a árvore estava bem ali do ladinho de seu caminhão, mas o menino não estava em seu galho como em seu sonho.
         Claudinho um pouco emocionado, impressionado com seu sonho, lavou o rosto na bica de água que tinha encostado a um murro do posto.
         Logo em seguida ligou o motor de seu caminhão e seguiu viagem rumo à     Santiago do Chile, até dias de hoje ele não sabe direito, se foi sonho ou realidade o aparecimento daquele menino.
          O fato é que no posto existe uma capela do menino Jesus, onde quase todos os motoristas param para rezarem, inclusive ele a partir deste dia, sempre para ali para agradecer as coisas boas que Deus tem lhe dado e também para ver se um dia encontra o menino de novo, nem que seja em seus sonhos.

         Esta história me foi contada pelo meu amigo Claudinho, conhecido pelos colegas de estrada de (Nanico) em uma parada na aduana de São Borja, RS em 28 de março de 2007.
       “Às vezes pelos nossos cansaços de grandes esforços que fizemos para adiantar a entrega a um cliente andando por diversas horas, o organismo pedindo uma merecida parada para um descanso, mas a gente insistindo achando que venceremos nossos corpos, Deus nos da um aviso em sonhos, cabe a cada um de nós interpretarmos com inteligência e pormos em prática, este sonho de Claudinho é verídico segundo ele, eu em particular conheço o local do sonho porque já parei muitas vezes ali para descansar depois de um dia puxado de trabalho”.
        Hánrã, eu percebi que você Anjo gosta desta história de mistérios e eu aqui pensando que você iria ficar de cabelos em pé, vou parar o caminhão no acostamento da rodovia e vou te contar uma passagem fantástica que aconteceu comigo em certa ocasião na cidade de Mocoretá, Argentina, até hoje sinto algo de estranho no vilarejo.
                                             
            A CURANDEIRA
                                                  
         Eu estava dormindo na cabine de meu caminhão em uma estação de serviço da YPF, rede autorizada de combustível argentina.
        Quando me acordei com uma forte dor na minha perna direita, quase insuportável.
        Uma semana atrás eu estava na cidade de Córdoba, Argentina, ao descer da cabine do caminhão, acabei caindo, tudo aconteceu porque eu queria admirar a neve de perto que começou a cair, pois queria tirar algumas fotos de recordações, mas acabei torcendo o joelho da perna direita.
        Meus colegas caminhoneiros que ali se encontravam também, a me ver caído, me socorreram, levando-me ao hospital local.
        Chegando lá, o médico de plantão, examinou meu joelho e concluiu que não ouve fratura e sim uma torção muito forte nos ligamentos do joelho e que ocasionou uma lesão de uma proporção maior, criando água na rótula do mesmo.
        Mas deixou bem claro que um bom repouso e um cuidado para não movimentá-lo, em trinta dias tava já curado o joelho.
      “Deste instante em diante eu comecei a pensar, se pararia de trabalhar para o tratamento e o repouso, e atraso as prestações do caminhão, os postos de combustíveis, as despesas de casa, enfim em tudo e depois nunca mais eu consigo recuperar e pagar os atrasados, sem falar nos juros que acarreta tudo isto”.
        Os fretes estavam defasados, eu estava trabalhando no limite contando com a sorte, onde eu deixar atrasar três prestações do meu caminhão o banco executa busca e apreensão, e só faltam doze meses para terminar de pagar.
        Meu pensamento de novo vem me deixar confuso e inseguro, e me vem na mente, estou tão perto de vencer, esta perna tem que agüentar, e como sempre fui determinado e teimoso continuei a trabalhar sem escutar as recomendações dos médicos.
        Rezo todas as noites depois de uma jornada de trabalho no leito da cama de meu caminhão, peço em minhas orações que Deus me ajude a vencer esta labuta árdua.
        Sempre fui uma pessoa forte de boa saúde e nunca temi a nada, sempre enfrentei todos os problemas de frente com o peito aberto, hoje por causa deste problema da perna, me sinto enfraquecido inseguro, porque a mesma não para de doer e não fica curada.
        Neste meu serviço de motorista ela me é fundamental, a cada esforço que faço para frear o caminhão ou fazer alguma coisa fora do mesmo à dor é insuportável.
         Às vezes penso em parar, e deixar que venham as contas, mas depois penso, não, não posso parar e me entregar, já vim até aqui, eu vou mais um ano e tudo esta resolvido, com o as prestações do caminhão paga, aí sim posso parar e me curar fazendo o tratamento correto.
         Mas novas dúvidas vêm invadindo minha mente como as águas em um rio em dias de chuvaradas, e se a perna piorar, de chegar a um ponto sem volta, de não mais adiantar o meu esforço, que tenha que parar mesmo.
         Sento na beirada da cama do caminhão e começo a rezar para Deus desesperadamente, isto não pode acontecer a minha fé e minha confiança em Deus tem que me curar.
          Olhei as horas, era três da manhã, uma noite fria, coloquei um cobertor nos ombros, de tanto rezar minha dor foi passando, passando, passando que acabei adormecendo sentado na cama do caminhão, quando me acordei já era dia bem claro, com um sol raiando esquentando a cabine.
          Logo o despachante veio me trazer a liberação da carga e dinheiro para poder seguir viagem.
         Toco na perna, dou uma volta no pátio da estação de serviço YPF, piso firme no chão, a perna parece estar bem melhor, pelo menos parou de dor, agradeço a Deus por me ajudar mais uma vez.
          Segui viagem, mas pela a mesma ser longa e cansativa, a perna começa a doer novamente a cada movimento que faço.
         Parei no acostamento da rodovia em frente a o vilarejo de nome Moqueretá, fiquei sentado no banco do motorista até a dor aliviar.
          Olhei para trás no retrovisor do lado direito, vinha uma senhora idosa trazendo um facho de lenha com muita dificuldade de arrasto pelo acostamento da rodovia, ao passar por meu caminhão me olhou e a me ver com uma expressão de dor, veio ao lado da janela e me perguntou:
      - O que passa sênior?
      - Foi só uma torção na perna senhora, acredito que vai passar.
      - Sênior yo vivo aça cerca, ali en aquele hogar, se lo sênior puede bajar del camion e venir a mi hogar, yo hace una oracion e su perna se queda buena e lo sênior puede seguir viagen...
         Apontou-me com o dedo uma pequena casinha bem humilde e simples na margem da rodovia.
         Eu passei a mão em minha bengala, desci do caminhão, acompanhei aquela senhora até sua casa, chegando lá ela me deu um banquinho para sentar do lado de fora da casa, perto da porta de entrada da mesma e me disse:
      - Yo lo volvo!
         Ela foi dentro de sua casa e pegou uma tesoura e um pano velho.
         Começou a benzer a minha perna, de ponto em ponto ela fazia um nó naquele pano velho ao terminar a oração, à mesma me disse:
       - Sênior andarte, se ponga em marcha a delanto e sem mirar para trás e no me agradezca que o sênior se queda bueno.
         Levantei do banquinho e saí caminhando como ela me tinha dito, mas sem usar a bengala, a minha perna estava firme sem dor alguma, inacreditável.
         Subi a cabine do caminhão, liguei o motor do mesmo e segui viagem sem olhar para trás.
         A minha perna parecia que nunca estivera com problema, fiz o resto da viagem tranqüilo.
         Ao descarregar o caminhão batia firme no chão e nada de voltar à dor, realmente era um milagre, fiz inúmeras viagens e nada de sentir dor novamente.
         Eu estava feliz, estava curado e não precisava parar de trabalhar, o fantasma de atrasar as prestações do caminhão não estava mais na minha mente.

                    Segunda Parte
                      Capítulo ll
                                                        
         Os dias passaram depressa no decorrer dos meses, minhas viagens era por outros caminhos, eu nunca mais pude passar pela mesma estrada do vilarejo moqueretá, até mesmo levar algum presente para aquela senhora em agradecimento de minha cura, contrariando sua bondade, pois ela teria feito de coração esta ação para mim.
         Em um belo dia eu estava carregado esperando os documentos da carga na aduana defiba em Buenos Aires, e meu caminho era pelo vilarejo daquela senhora cujo nome ela não me disse na ocasião.
         O dia era chuvoso, muito frio pelo forte do inverno, em uma estiada da chuva, fui verificar os pneus para não ter uma surpresa na estrada, de algum furado.
         No pátio da aduana tinha uma poça de água, no qual alguém teria colocado um tijolo, eu fui pisar no mesmo para não molhar os pés, o tijolo acabou deslizando e eu caí no chão de todo o tamanho me esparramando como um saco de batata.
         O resultado foi corpo para um lado e pernas para o outro e conseqüentemente a torção no joelho aconteceu de novo.
         Eu consegui voltar para a cabine do caminhão de arrasto, chorando desesperadamente pela dor.
         Não me conformava como isto foi acontecer, porque fui verificar os pneus no meio do barro, o desespero tomou conta de mim.
        Depois do meio dia o despachante me entregou os documentos da carga, fiquei habilitando para seguir viagem rumo à fronteira de Uruguaiana, RS.
       “Pensei vou passar lá na senhora que me benzeu e estou curado novamente”.
        Percorri o trecho sem parar, tamanha era meu desespero, quando cheguei ao vilarejo minha dor era insuportável, a perna estava dura, pois ficou dobrada por muitas horas, só deu para chegar até ali e nada mais.
         Sentei na cama do caminhão até aliviar a dor, e fazia exercício na perna para esticar à mesma, até ficar em condições de descer até a casa da senhora benzedeira.
         Quando consegui descer fui até a moradia da senhora, me arrastando de bengala, bati a sua porta por umas três vezes e nada de aparecer alguém, para descansar um pouco sentei em uma graminha verde na frente de sua casa.
        “Pensei uma hora vai aparecer alguém”.
         Passou-se duas horas e nada, um senhor que iria passando com um burrinho pelo cabresto a me ver ali sentado na grama em frente aquela casa, foi ao meu encontro.
        “Eu pensei deve ser o marido da senhora benzedeira”.
         Para minha surpresa não era, sim só um morador do vilarejo, ao chegar me disse:
      - Bom tarde senhor o que passa?
        Olhando para seu rosto, lhe respondi bom tarde senhor, e passei a explicar o motivo porque eu estava ali tão angustiado pela dor do joelho.
     - Pode falar em português porque fui morador da fronteira e aprendi a entender o seu idioma, ele me disse.
         Assim passei a narrar sobre aquela senhora benzedeira e quando eu tinha passado aqui em sua casa para a mesma me benzer.
         Ele prestou bem atenção no que eu lhe falava, e pensativo me disse.
      - Senhor eu moro aqui neste vilarejo faz dez anos mais ou menos e a uns oitos anos esta casa esta vazia, desde que sua dona faleceu em um acidente trágico na rodovia, a mesma nunca mais foi habitada, eu acho que o amigo errou de casa.
         Ele me disse aquilo, eu passei a olhar a casa melhor, mas não errei não, foi ali sim que aquela senhora tinha me curado.
       “Pensei não sei qual o motivo, mas este senhor esta tentando me enganar”.
        Em tom firme e seguro lhe falei, senhor é esta casa sim, foi aqui que esta senhora me benzeu e me curou, eu vou esperá-la deve ter saído para algum lugar, mas ela volta tenho a certeza.
        O senhor do burrinho olhando-me pensativo, me disse:
      - Eu estou lembrado deste seu caminhão aqui há uns três meses atrás, acredito, aproximadamente parado mesmo na rodovia, quase em frente desta casa, mas não vi nenhuma senhora por aqui como o senhor me diz, e vi somente um senhor que dava para ver a distancia que usava um boné, o senhor deve ter sonhado.
        Depois destas palavras do senhor do burrinho, fiquei cheio de dúvidas, será que ele tem razão, está certo, não mora ninguém aqui mesmo, mas o fecho de lenha que a vi carregando e a tesoura, e o pano velho, mais o banquinho que ela deu para eu sentar aqui perto desta porta, dizendo para eu sentar com todo o carinho, será que foi sonho mesmo.
         As horas foram se passando, já era noite, o senhor com seu burrinho seguiu seu caminho, eu fiquei ali e realmente não apareceu ninguém, só me restou pegar minha bengala e sair me arrastando até meu caminhão novamente, frustrado por não encontrar aquela senhora benzedeira.
         Subi em meu caminhão, fiquei sentado no banco por um bom tempo antes de ligar o motor, e fiquei pensando.
       “Isto não pode ser verdade, esta senhora existe, eu não estava sonhando, me parecia tão real”.
        Cheio de dúvidas segui viagem até a fronteira, mas não agüentando de tanta dor na perna, pedi para um amigo para descarregar o caminhão para mim e depois deixar no pátio da empresa, e chavear o mesmo e entregar à chave a chefia da segurança.
        Peguei um táxi e fui a um médico na santa casa de Uruguaiana, este já conhecido por me tratar de outro problema de saúde no passado.
        Enquanto ele me examinava eu narrava o acontecido sobre a perna e sobre esta senhora benzedeira do vilarejo mocoretá, que fica na divisa dos estados de Corrientes com Entre Rios, na rodovia que leva para Buenos Aires, Argentina.
        Depois de o médico me escutar com muita atenção, o mesmo fez seu comentário.
     - Não se preocupe meu amigo, eu mesmo em uma ocasião muito doente, por conta de uma inflamação nos rins, quando passava por este vilarejo, também fui socorrido por esta senhora e estou curado até hoje, já fui procurá-la inúmeras vezes e nunca a encontrei.
       “Isto deve ser fruto de nossa imaginação ou de algum delírio de febre nossa por conta de nossas enfermidades”.

         Esta história verídica se passou comigo Lauro Abbade no mês de junho de 1996, em umas das viagens que fiz para Buenos Aires, Argentina, achei tão fantástica que colocarei no livro com Contos de Beira de Estrada.
       -- Que você achou?
       -- Vamos, me diga Anjo, não foi um grande mistério!
       -- É Lauro Abbade realmente foi um grande mistério, gostei.

       -- Meu amigo Anjo eu duvido que você não sinta um pouco de medo, eu sei que você é uma pessoa corajosa, demonstrou isto ao longo de nossas viagens, ainda esta aqui este tempo todo viajando comigo em meu caminhão, sabe o que eu penso!,  Você esta com medo e não quer me deixar perceber, olha esta é um pouco mais forte, mas fique tranqüilo como já te disse eu estou aqui do teu lado na cabine do caminhão, segura na minha mão, firme, isto assim, olha para frente Jesus está conosco.
        Vamos à cidade de Uruguaiana, RS, escutar a história do João Aires, está é do menino que me alcançou os rascunhos de algumas histórias de estradas, é uma homenagem ao seu querido pai, o nome arrepia assombração da estrada.

            ASSOMBRAÇÃO DA ESTRADA

          João Aires estava subindo a serra dos noventa, cem kilometros antes de chegar à cidade de São Paulo.
          Seu caminhão estava com problema no motor, aquecendo muito, à medida que forçava, subia a temperatura.
          Ele estava subindo praticamente se arrastando serra acima, com seu caminhão.
          Olhou no relógio, este marcava duas horas da madrugada, parar ali era praticamente impossível, pelo perigo de assalto, mas não tinha alternativa.
         João Aires fez uma curva e avistou uma queda de água, encostou o caminhão ali mesmo, se continuasse forçando o motor seguramente teria estourado o mesmo.
         Enquanto esperava esfriar o motor do seu bruto, e também para que ele pudesse completar a água do radiador, ele foi lavar o rosto na queda de água, mas com muito medo, ele pedia para todos os santos lhe ajudar, e em especial a São Cristóvão, que era o padroeiro dos motoristas, para não lhe deixar na mão.
        “Aquele horário tinha pouco movimento na estrada, neste caso o perigo aumenta mais ainda”.
         Quando ele retornava para perto de seu caminhão, vinha subindo uma caminhoneta e parou do lado de seu bruto, e três sujeitos desceram e vieram em seu encontro.
         Seu coração estava saindo pela boca, era um assalto seguramente, ele estava perdido sozinho ali naquele lugar.
         Quando um dos sujeitos puxou uma faca, e se atirou para cima dele, um cachorro enorme não se sabe de onde saiu, os atacou e mordeu muito os sujeitos, ate que eles embarcaram na caminhoneta e se foram embora.
         Um deles perdeu a faca com a confusão toda, João Aires pegou e colocou na cabina de seu caminhão e depois o cachorro veio perto dele brincando abanando o rabo.
          João Aires para agradecer o amigo cachorro, foi na caixa da cozinha do seu caminhão e lhe deu um pedaço de carne bem grande, que ele tinha aferventado para não estragar, o cachorro comeu toda aquela carne feliz.
          João Aires se afastou um pouquinho para olhar o motor de seu bruto e colocou água no mesmo e depois voltou novamente para olhar seu amigo cachorro, este entrou na mata, olhou para traz e sumiu mata adentro em forma de uma pessoa.
          João Aires se amedrontou todo, subiu no seu bruto tão assustado ou mais que os assaltantes, ele deu a partida no motor e subiu o restante da serra quase em duas rodas.
          Parou no primeiro posto de serviço, foi direto no bar tomar um café bem forte, tão pálido que chegou chamar atenção de outros colegas caminhoneiros que estava ali no balcão.
          Ele começou a pensar naquela assombração:
         “Aquilo foi um meio de São Cristóvão lhe ajudar naquela hora tão difícil do assalto”.
          Os tempos se passaram e João Aires, nunca mais passou ali naquele trecho da serra de madrugada.
         Ele guarda aquela faca com carinho, ela é a única prova daquela madrugada, quando ele conta para alguém, nunca acreditam, mas a faca está ali com ele e mostra para os colegas com muito orgulho.

         Esta história me foi entregue por Marcelo, filho de João Aires quando eu me preparava para sair de viagem, meu caminhão estava carregado de produtos químicos para uma cooperativa da cidade Londrina, PR, dia 25 de julho de 1098, dia do motorista.
         Meu carona agora eu tenho a certeza, você tem coragem mesmo, eu estava enganado à seu respeito, até me deu vontade de esticar nossa viagem até a cidade de Criciúma, SC, ver o que o Luiz Cláudio quer nos dizer com o carona misteriosa

            A CARONA MISTERIOSA

         Luis Cláudio, caminhoneiro de muitos anos nas estradas, sempre em cima de seu caminhão marca Mercedes Bens, modelo 1519, cabine pequena.
         Quando a Fabrica da Volvo fabricou seu primeiro caminhão modelo N 10, em sua fabrica em Curitiba, estado do Paraná, ele vendeu seu caminhão antigo e pegou o dinheiro e deu de entrada na compra de um caminhão volvo zero, e dividiu o restante em 36 prestações, mantinha sempre muito bem conservado, alisava o mesmo como uma cria nova.
         Ele nunca saiu de rota, viajou sobre anos no trecho Novo Hamburgo a São Paulo e vise versa.
          Suas viagens eram tranqüilas sem apuros de horários, ele sempre cumpria a entrega com toda a segurança do mundo, o importante para o dono da carga era chegar bem seguro com a mesma.
         Ele só andava de dia com seu caminhão, quando chegava perto das dezoito horas, já estava procurando um posto para encostar, para fazer sua janta e dormir, na maior tranqüilidade, isto lhe deu o apelido na estrada de Jô.
         No dia seguinte continuava sua viagem quando o sol começava a esquentar a cabine, tranqüilo lá pelas oito horas da manhã.
      - Um determinado dia ele carregou uma carga de couro na cidade de São Paulo para a cidade de Novo Hamburgo, o dono da fábrica de calçados da qual ele prestava serviços com seu caminhão, lhe pediu urgência, para ele fazer um esforço e entregar o mais cedo possível, porque a fabrica corria o risco de parar por falta de matéria prima.
         Por este esforço, se ele chegasse a tempo na primeira hora da manhã, o dono da fabrica lhe prometia pagar o frete em dobro.
         Para ele chegar a tempo, isto teria que andar a noite toda e entrar na madrugada e ver o sol nascer.
         Esta oportunidade ele viu ali a prestação dos seus pneus garantida, paga, e mais a prestação atrasada do seu caminhão, mas isto tinha um grande preço para ele, ele nunca teria viajado à noite.
          Mas por este preço do frete valia à pena, meio dia já estava carregado seu bruto, uma hora da tarde, Luis Cláudio colocou seu volvo na estrada para andar.
          Assim que começou a descer a serra dos noventa, uma das mais fortes da estrada, muito perigosa pelas suas curvas fechadas e longas descidas, o tempo começou a se armar para uma forte chuva, isto era mais uma preocupação para ele, era certa que a noite iria ser de muita chuva.
         Chegando perto a cidade de Curitiba, parou ali no posto cupim, neste posto era a parada das maiorias dos caminhoneiros madrugadeiros, onde eles tomavam um cafezinho, e descansavam por alguns minutos, para pegarem energias, e seguirem suas viagens, ele foi ao restaurante depois de bater os pneus do seu bruto, pediu um café para o garçom, estava distraído em seus pensamentos pensando na sua viagem.
         Um leve toque em seu ombro o chamou a atenção, se virou para olhar, era um colega que trabalhava no correio, este só viajava a noite pela urgência de sua carga, era um amante da madrugada.
         Os dois se cumprimentaram felizes pelo encontro, na profissão deles e pelos os horários diferentes que ambos faziam, pois era muito difícil um encontro assim, enquanto um estava dormindo no posto o outro estava esquentando pneus no asfalto.
         Luis Cláudio passou a narrar para o amigo sobre este compromisso que ele assumiu com o dono de sua carga, ele estava inseguro com medo de não poder cumprir, pois nunca teria dirigido a noite, para ele era um sacrifício muito grande, estava angustiado poderia dormir na direção e provocar um acidente, mas era uma grande oportunidade de colocar as dividas em dia, só por causa disto aceitou a fazer esta viagem urgente.
         Seu amigo escutou ele contar seu drama, e lhe disse:
      - Porque tu não fazes igual a mim, prepara um copo de conhaque bem forte com café, e toma que te garanto que tu não vai dormir na direção, além de lhe tirar o sono, tenho a certeza que vai chegar a tempo de entregar sua carga ao teu cliente.
       “Isto é um grande estimulante, chamado no linguajar de motorista de arrebite”.
        Luis Cláudio mergulhou em seus pensamentos, ele nunca um dia teria precisado tomar arrebite, até porque este não é visto por bons olhos pelos companheiros de estradas responsáveis.
        Porque o arrebite tem dois lados ou tu chegas ao destino da carga ou no fim da vida, com certeza em algum lugar se vai chegar.
        Luis Cláudio viu seu amigo tomar sem fazer cara feia.
      “Ele pensou, ah, meu São Cristóvão, eu vou tomar também, é só por uma viagem mesmo, tem que dar certo”.
        Ele chamou o balconista e pediu para fazer um bem forte para ele, e mandou garganta abaixo, seus olhos caíram algumas lágrimas, não estava acostumado a beber bebida de álcool.
        Enquanto isto o tempo lá fora, já estava botando suas garras na escuridão da noite, mandando seus primeiros pingos de água, pela disposição era sinal de muita chuva naquela noite.
        Luis Cláudio pagou a conta e despediu-se de seu amigo e se dirigiu até seu caminhão para seguir sua viagem.
         Quando ele estava saindo do pátio do posto e estava pronto para colocar seu volvo na estrada, um senhor de cabelos grisalhos com uma bolsa na mão, atravessou na frente de seu caminhão, fez um sinal para ele parar, ele parou e abriu o vidro para ver do que se tratava.
         A chuva estava ficando cada vez mais forte, o senhor passou a narrar o motivo da qual o fez, ele parar.
      - Amigo eu sou muito conhecido de quase todos os motoristas que param aqui neste posto cupim e do dono do posto também, eu não pude de deixar de ler a sua placa, esta é de Novo Hamburgo, RS.
     - Eu sou de lá também eu vim parar aqui de carona para resolver uns problemas de papeis, e como já está tudo certo, eu gostaria de voltar de carona de novo, o amigo sabe o ônibus é caro, como eu sou já aposentado na profissão de motorista e a mesma não me deixa desfrutar deste luxo, pois não me sobra muita coisa.
     - Eu conto com as boas ações dos meus ex- colegas de estrada, o amigo não me da uma carona até Novo Hamburgo, RS?
       Luis Cláudio pensou um pouco, ele não tinha o costume de dar carona para pessoas estranha, pois era muito perigoso pelas ondas de assaltos que sempre foi grande nas rodovias, mas ele não sabe por que, ele ficou sensibilizado com a situação do senhor, aceitou lhe dar esta carona, mandou o senhor subir a cabine.
      “Ele pensou é uma companhia para irmos conversando durante a viagem e mais a ajuda do arrebite, tenho a certeza que chegarei a Novo Hamburgo a tempo combinado com o dono da carga, esta carona veio mesmo a tempo”.
        Depois do senhor acomodado no banco do carona, ele seguiu viagem rumo ao seu destino.
        Eles foram conversando a viagem inteira, o senhor era muito bom de bate papo e brincalhão, seu carona tinha muitas experiências de viagens muito interessantes, enquanto ele estava exercendo a profissão de motorista segundo ele.
        O senhor contou a ele que já teria ajudado muitos companheiros de estradas, em situações muito difíceis, que muitos lhe agradecem até hoje sempre que entra a uma Igreja, isto é uma troca de moedas, vamos dizer assim, todos nós precisamos de uma oração para firmar nossa fé, como estou sempre ocupado ajudando um ou outro, eles me fortalecem através de suas orações.
        Luis Cláudio estava prestando atenção na estrada, o tempo mandava muita água, a estrada às vezes ficava um dia pela intensidade dos clarões dos raios que caía, ele firme no volante de seu volvo, que nem prestou atenção nas últimas palavras do seu carona.
        Conversa vai, conversa vem, quando Luis Cláudio percebeu já era nove horas da manhã aproximadamente, ele estava chegando a seu destino, ou seja, a Novo Hamburgo, a chuva já estava fraquinha.
         Ele se encontrava na BR 116 perto do viaduto da cidade de Novo Hamburgo, o senhor lhe disse, pode me deixar aqui, eu já estou em casa, ele parou seu volvo no acostamento da Rodovia.
         Puxou o freio estacionário e ficou mais um pouco conversando com o senhor.
      - O senhor me desculpe, viemos conversando em toda a viagem, eu não perguntei o seu nome, a propósito como se chamas senhor?
     - Eu me chamo Cristóvão e eu sei seu o nome, ele faz parte da grande lista de Luis Cláudio que me chama nas horas difíceis, foi um grande prazer passar estas horas ao teu lado durante esta viagem.
        Ele agradeceu o amigo pela companhia durante a viagem, mas não deu muita importância pelas palavras do senhor, pois este estava sempre descontraído brincando, logo em seguida ele desceu para abrir a porta para o seu Cristóvão descer, porque a mesma só abria pelo lado de fora, fez a volta pela frente do caminhão e veio abrir a mesma.
         O senhor simplesmente sumiu, cadê o carona, ele deu a volta em redor de seu caminhão e nada do carona, olhou a sua direita, estava ali na beira da rodovia uma capela de São Cristóvão.
         Depois de alguns minutos Luis Cláudio saiu com seu caminhão volvo para entregar a carga ao seu cliente bem desconfiado, passou o dia todo com este fato em sua mente, quando retornou novamente pelo mesmo trecho da estrada, ele olhou para onde teria avistado a capela, esta não estava mais ali, suas desconfianças aumentaram ainda mais.
         Ele até tempos de hoje, quando conta esta passagem em sua vida se arrepia e se emociona, ele nunca ficou sabendo se realmente foi São Cristóvão seu anjo da guarda, quem lhe protegeu durante a viagem, mas que seu carona era misterioso, ah, isto era.

        Está história se é verídica ou não, eu não sei, ele afirma que sim, mas foi contada pelo amigo Luis Cláudio da cidade de Lages, Santa Catarina, em uma parada de almoço no posto Rosso, Criciúma, SC. 12 de setembro de 2007.

        Sabe amigo Anjo eu tenho este amigo chamado João Caveira, ele quando soube que eu estava escrevendo este livro de contos de Beira de Estrada, praticamente me intimou a escrever sua história, a ponto de abalar nossa amizade se assim eu não o escutar, te convido para nós fazer uma visita a cidade do tango novamente, ou seja, Buenos Aires, já que estamos viajando mesmo curtindo este prazer sem presa, vamos devagar e depois esticamos nossa viagem a Santiago, Chile, onde escutaremos a ultima história do amigo Freitas e assim encerramos nossa deliciosa viagem, que você acha?.
     - Vamos seu Lauro Abbade, fazer o que, já que entrei nesta fria de viajar com você em seu caminhão, não vamos ficar no meio do caminho agora depois de tantas histórias boas, já estou até acreditando que sou o Anjo Gabriel te acompanhando nestas aventuras, rsrssrs.  
        Mas, eu em particular quero agradecer a boa companhia do amigo Anjo, sem você eu jamais percorria estes kilometros todos.
         A cabine de meu caminhão é fria, solitária, só o rádio me acompanha o dia todo, às vezes me faço de louco, converso comigo mesmo para amenizar esta solidão, estar viajando com você é muito prazeroso, me trouxe muitas alegrias, você me ajudou a escrever muitas histórias de nossos heróis do volante e algumas minhas também.
       “Tenho um livro para me distrair agora, cheio de histórias contadas por amigos das estradas, não é o máximo, iupiiiiiiiiiiii” 
        Mas antes de você desembarcar de meu caminhão vamos escutar o que o amigo João tem para nos contar, vamos viajar junto na sua boemia, mas não vamos compartilhar com ele sua cachaça, eu sou alérgico e minha religião não permite e você Anjo até agora não vi você tomar nada a não serem, alguns cafezinhos, devo acreditar que és um adepto ao refrigerante e água mineral.          

            O BOEMIO CAVEIRA

         João quando solteiro gostava da vida de boemia, cada boteco de beira de estrada era um ponto de referencia para ele bater um gole de samba “vinho com coca-cola” para ele regular a lenta, como se diz na gíria de caminhoneiro.
         João fazia o itinerário de Uruguaiana à Buenos Aires, capital do tango argentina e vise-versa, seu bruto sempre muito bem caprichado, com vários adornos de enfeites, chamava atenção por onde passava.
         Ele saia da fronteira, Passo de los Libres, sempre a noite para Buenos Aires, descansava e retornava a noite da capital do tango, a madrugada para João era uma criança, ele teria que fazer de tudo para cumprir seu horário, para estar na primeira hora no cliente ou na empresa na qual ele prestava serviços.
         Uma garrafa de café e a cuia de chimarrão eram seus aliados a noite, ah, e dois churipan “Pão com lingüiça” da banca do senhor José em ceibas, perto da ponte do rio Paraná, este era para seu estomago não roncar de vazio.
         Suas viagens duravam dez horas aproximadamente, de duas em duas horas ele parava nos pontos de regular a lenta na beira da estrada, e já saia a rodar novamente para não perder tempo.
         Em um determinado dia, ele saiu de Buenos Aires na sexta-feira e por azar era sexta-feira treze, seu chefe teria lhe dito que sua carga era para segunda-feira na fronteira.
        Ele acostumado na correria ficou muito feliz, pois teria todo o fim de semana para fazer sua viagem, saiu totalmente despreocupado, tranqüilo com seu bruto, foi fazendo turismo na estrada nos pontos de regular a lenta.
         Sua segunda parada para matar a saudades, foi no bailão da Rosinha em Gualleguachú, Argentina, que ficava atrás de um posto de combustível, na sua correria já fazia dois anos que não parava ali.
        Estacionou seu caminhão bem no fundo do pátio do posto, tomou um banho, se perfumou, colocou sua melhor roupa, antes de sair deu alguns trocos para os frentistas cuidarem seu bruto enquanto ele estava ausente, e foi ao baile que já corria solto, a mais de meia hora.
        Chegando lá no baile, se dirigir a bilheteria, comprou a sua entrada, e entrou no salão, passou no bar e comprou uma cerveja, tomou no bico em goles grandes que logo acabou, e se colocou em um canto para melhor olhar as mulheres e escolher seu par para se divertir.
        O conjunto era bom só tocava musicas estilos gauchescos, perto da meia noite o gaiteiro mandou uma valsa limpa banco, bem ao tipo da fronteira, bem bagual, ele não se agüentou, olhou uma morena linda com os cabelos compridos, que estava sentada em uma cadeira, junto com outras amigas em uma mesa que ficava bem no canto perto dos banheiros, foi até lá e convidou a mesma para dançarem.
       Esta olhou para o João, vendo ele naquela pinta, bem perfumado, aceitou o convite bem alegre, João como bom dançador que sempre foi, agarrou aquela morena pela cintura e saiu marcando aquela valsa de canto a canto.
        Ele e a morena se acertaram na dança, ela era muito boa também no pé, dançava como uma onde no mar, ela fazia jus ao seu nome que era Ondina, e assim eles dançaram diversas músicas, ficaram enamorados a ponto de terminarem a noite juntinhos, iguais a dois pombinhos, cheios de amores para darem.
        O Baile terminou às cinco horas da madruga, quase clareando o dia, João foi levar sua namorada em casa, eles foram caminhando, ela morava perto do salão três quadras aproximadamente, como estava um pouco frio, João colocou sua jaqueta de couro marrom, por cima dos ombros de sua namorada.
        Quando eles chegaram à rua da casa de Ondina, esta era um pouco estreita mal entrava um carro, se este entrava de frente, teria que sair de ré.
        João estava todo desconfiado, ele estava com medo de algum assalto em seu retorno, até mesmo, porque o dia ainda não tinha clareado, ao chegarem à frente do portão da casa de Ondina, João não quis entrar, eles ficaram namorando um pouco no portão, logo em seguida se despediu e foi embora.
         Perto do posto, João se lembrou que tinha esquecido sua jaqueta de couro com Ondina, mas não quis voltar para buscar, ele poderia fazer isto outro dia, e também era uma desculpa para retornar a vê-la novamente.
         Passou uma semana, João passou em Gualleguachú, estava com seu horário bem folgado, por conta de novo feriado, estacionou seu bruto no posto e foi lá na casa de sua namorada ver a mesma, e pegar sua jaqueta de couro.
         Ele chegou frente ao portão bateu palmas para chamar a atenção de alguém da casa, esperou um pouco, veio um senhor já com talvez sessenta anos aproximadamente lhe atender.
         Este lhe perguntou o que deseja moço?
         João ansioso, logo lhe falou: Senhor, eu me chamo João e sou caminhoneiro, na semana passada eu conheci Ondina no baile da Rosinha e emprestei minha jaqueta a ela, e agora vim buscá-la à mesma, o senhor poderia chamá-la ela, por favor, para mim.
        O Senhor escutou com atenção e perguntou a João.
     - Mas meu Rapaz tu tens a certeza que gostaria de falar com a Ondina?
       João em um tom bem seguro na voz lhe disse.
     - Sim senhor, pois eu gostaria de falar com ela e pegar minha jaqueta de volta.
     - Mas meu rapaz isto é impossível a Ondina era minha filha e já faleceu há cinco anos, você deve estar brincando comigo.
       João não escutou direito o que o senhor lhe dizia, ele queria era falar com a Ondina e insistiu no seu propósito.
      -Senhor eu preciso falar com ela, se esta em casa chame, por favor.
      -Mas meu rapaz me conta como tu conheceste Ondina e quando foi isto, me repita, por favor?
       Assim, João repetiu mais uma vez, já meio descontente com o senhor, pensando que este estava com enrolação.
      -Senhor eu conheci a Ondina no bailão da Rosinha e ao trazer ela para sua casa, eu emprestei a minha jaqueta para ela colocar em seus ombros, pois estava um pouco fria aquela madrugada.
        O senhor ficou branco e deu uns passos para o lado, como se fosse cair, tamanho era seu espanto.
        Depois de se recompor, tomar um fôlego lhe disse:
     - Mas isto é impossível meu rapaz, eu sou o Pai de Ondina e lhe afirmo minha filha morreu a cincos anos atrás.
       Vendo João bem seguro e insistente no assunto o senhor argumentou.
     - Quem sabe meu rapaz não foi minha outra filha que estava contigo no baile, este deu um grito para dentro de sua casa chamando à mesma.
       Esta veio até eles, cumprimentou ele um pouco constrangida pela situação, logo em seguida retornou para dentro de casa novamente.
         Mas ele ao olhar a irmã teve a certeza que não estava errado, esta era um pouco loira e baixinha, a Ondina era morena e alta e o rosto também tinha alguns traços diferentes.
      - Ele disse ao senhor, não é ela.
         O senhor então entrou em casa e retornou com uma foto de Ondina e mostrou para o João à mesma.
      - Sim é esta mesma que dancei no baile e que emprestei a minha jaqueta.
        João não estava seguro nas palavras do senhor, de tanto insistir e o senhor já estava quase perdendo a paciência com ele, e não perdeu a mesma porque era uma pessoa bem educada.
        Por fim o senhor pegou o carro e pediu para o João subir ao mesmo e levou até o cemitério municipal.
        Chegando lá, ele convidou o João e se dirigiu até o túmulo onde estava a sua filha sepultada, e para surpresa de João, lá estava à foto de Ondina, bem colorida estampada em uma laje de mármore, e sua jaqueta marrom de couro em cima da mesma, entre algumas flores murchas.
         O Pai de Ondina ficou sem palavras e João tão pouco disse algumas, tamanha eram os espantos dos mesmos, e como sua jaqueta veio parar ali, eles ficaram tontos pela situação.
         João jamais teria sequer cruzado em frente daquele cemitério um dia.
         Eles saíram de volta sem falar uma palavra, embarcaram no carro, e o Pai de Ondina lhe deu uma carona até o posto onde estava estacionado o caminhão de João.
         João não quis pegar sua jaqueta, deixou a mesma na sepultura de sua namorada e nunca mais quis saber da mesma.
         O fato é que aconteceu isto “será que João bebeu tanto aquela noite no baile, que sonhou tudo isto ou se passou isto mesmo com ele”.
         O mais incrível é que tem testemunhas deste fato, que a viram dançando com esta morena no baile da Rosinha, por coincidência ou não, seu apelido na estrada é Caveira, João Caveira, assim ele é conhecido pelos seus colegas de estradas.

          Esta história foi contada pelo o próprio, comendo um assado estilo parrillada, argentina e João tomando alguns tragos para regular a lenta na aduana Defiba, Buenos Aires, Argentina, em 22 de abril de 2008.

         Vamos fugir meu amigo Anjo do bafo de cachaça do amigo João Caveira, vamos ao embalo da cabine de nosso caminhão à Santiago, Chile, escutar a ultima história para encerrar o livro de Contos de Beira de Estrada, segundo o amigo Freitas foi um dia de avesso para ele e seus amigos, mas que este dia de azar deles, se transforma em muita sorte para mim, vendendo muitos livros.
         Quem sabe assim eu não compre um caminhão novo, já que este de nossa viagem, “este das fotos” eu perdi para o banco, por contas de problemas mecânicos, crônicos, e de prestações atrasadas, assim que você desembarcar a seguradora me toma ele, já não levaram porque você esta comigo.

        “Mas sou um guerreiro do asfalto luto com muita fé, tenho minhas virtudes e dignidade que me levam a olhar para frente com conhecimentos e domínio próprio à minha perseverança, na qual me sustenta no amor à profissão e na luta da escola da vida, onde a cada passo para frente e cada dia vivido se agrega sabedorias e uma experiência nova em meu caminhar
                            
            UM DIA DE AZAR

          Sabe aquele dia na vida da gente que sai tudo atravessado, você vai esfregar o olho e entra o dedo no mesmo, até a gente quando sai da cama vai ao banheiro e vai colocar a pasta de dente na escova, a mesma cai no chão fazendo aquela meleca danada. “ O gato preto usou e abusou deste dia macabro, e saiu dando risadas”. 
         Assim foi o dia de grandes amigos motoristas em conjuntos, estacionados no pátio da Mersan Santiago, Chile, enquanto esperavam suas ordens de carregarem seus caminhões na grande Santiago.
          O amigo Nilton Lopes colocou 500 gramas de feijão a cozinhar em uma panela de pressão, na caixa de cozinha de seu caminhão, este feijão foi comprado em Guarapuava, Paraná, segundo ele, pela sua origem já se sabia que era de primeira qualidade.
          O Freitas era um contador de histórias, nato!  Por ter sido criado no meio de grandes fazendeiros em sua região de nascimento, na cidade de Livramento.
          Da Costa era a pessoa que cuidava, para que o copo do vinho não ficasse vazio, era a única coisa que ele sabia fazer com perfeição.
          Da Luz, este sim dominava muito bem um violão, tirando lindos acordes em suas cordas de aços, enquanto o Sólon fazia um costado cantando musicas gauchescas, e algumas sertanejas, entre um copo e outro de vinho servido pelo amigo Da Costa.
          Juvenal, seu apelido de guerra “Vovô” por anos de safadezas naquele couro, sem dúvida nenhuma o mais safado da turma, cria de Uruguaiana, fronteira com a Argentina, sacanagens eram com ele mesmo, sabe aquele sujeito que esta na volta, só te estudando, para fazer alguma coisa de safadeza para você, assim é o Vovô, mas tinha um medo bárbaro de abraçar o Turco! Tinha medo de morrer, explodido, segundo ele, rsrsrsrs.
         O Turco era o mais centrado deles todos, mas ele não bebia e nem cantava, se ocupou com a faca cortando a carne para por na panela de ferro fundido, da Avó de Freitas, segundo ele, roubou enquanto ela foi à padaria comprar pão em uma de suas visitas a sua Velhinha.
         Talvez seja mais umas de suas histórias, o fato é, que quando o turco foi colocar a carne a cozinhar na panela, a mesma se espatifou no chão quebrando em duas partes, levando o contador de histórias a ficar sério por alguns minutos.
         Esta panela ao cair no chão, escorreu a banha no piso, levando o Da Costa ao chão de todo o tamanho, em posição de esquartejado.
         Parece que foi tudo combinado na hora certa, para acontecerem coisas estranhas no mesmo tempo.
         O Nilton Lopes foi olhar seu feijão, por sorte a panela estourou antes de ele colocar a mão na mesma, esta saltou pelos ares, parando do outro lado da rua em um corrupio, espalhando feijão para todos os lados, igual um chafariz, colorindo todo o piso de preto.
         O Sólon estava cantando a música velho casarão do Teixeirinha, se engasgou com o susto do estouro da panela, que quase engoliu a língua, o Turco teve que dar alguns tapas nas costas dele para se recompor, ficou vermelho igual a um pimentão.
         O Vovô de tanto fazer sacanagem com os outros, o destino lhe pregou uma peça,
        Da Luz ao se assustar com a lambança toda, enquanto estava solando a música, o velho casarão, ele enfiou a palheta um pouco forte nas cordas e arrebentou uma, esta pegou nos beiços do Vovô, levando a quase desmaiar porque ele não podia ver sangue, e quando o Turco foi socorrê-lo, ficou bom em segundos e saiu em disparada, só para não ser abraçado pelo Turco.
         E para completar a onde de azar, entrou um Chileno com seu caminhão, suponho que bêbado, bateu no galpão levando parte ao chão, quase caindo em cima dos caminhões deles.
         A única coisa que sobrou de alegria foi o canto de um corujão, que estava no tope de uma árvore, e a risada de uma hiena que estava em uma jaula em cima de um caminhão ao lado dos galpões velhos, e os miados de um gato preto que saiu vivo de dentro do galpão, que o Chileno botou ao chão.
         Estes ocorridos acabaram com a noite deles, ficaram sem jantarem, sem vinho, porque alguém derrubou a caixa no piso na confusão toda, não ficando uma gota dentro, nem para remédio.
         Foram dormir tristes e com fome os meus amigos pelos fatos acontecidos aquela noite, se ficaram questionando o porquê de tanto azar tudo em uma hora só.
         No dia seguinte, foi o representante da empresa levar as ordens para eles carregarem, e viu aquela bagunça toda e perguntou.  O que tinha acontecido ali?  Ninguém soube explicar nada, acharam melhor colocarem a culpa no motorista chileno que derrubou parte do galpão e foi embora dormir em outro lugar para fugir dos guardas que cuidavam do local à noite.

         Esta história segundos os amigos é verídica, o galpão permanece com parte caída até tempos de hoje no estacionamento do pátio da Mersan, Santiago, Chile, foi contada em 4 de junho de 2008, pelo meu amigo Freitas.
         Agora você meu leitor, faz a sua análise será que é verdade ou mentira, ele é contador de histórias, já levantou vários troféus em sua cidade de Santana de Livramento na categoria.
         Assim finalizo meu livro com esta história divertidíssima de meu amigo Freitas.

        “Agradeço a Deus nosso pai maior e meu Anjo da guarda que me cuida e me guia na minha estrada da vida”.
        Eu sou do sul nascido nas barrancas de um arroio, sou descendente de turco, sou caminhoneiro por herança do meu pai, na qual executo a profissão com muito orgulho, mas não sei ficar sentado só nesta ilha coroado como um Rei, eu não fiquei estacionado em nenhum sonho.
        Os desafios da vida me fizeram navegar em outros mares, só pelo simples prazer de sentir suas ondas, e quando uma bate forte em meu rosto, volto para a realidade, mas cheio de experiências.
        Sempre comparto meu trabalho com todos os meus amigos, eu trabalho para todos, para que todos possam sentir está gostosa sensação fantástica de poder ir e vir.
       Faço de minha vida algo super gratificante, sou de todos, por mais que viva e lute nesta caminhada, jamais irei conseguir ser somente meu.
       Fantasticamente um simples obrigado à você, por esta viajem, com a venda de meu livro, quem sabe um dia eu não volto onde tirei esta foto na neve, que estão no Blogs e no retorno passar em Punta de leste, e com alguns dólares no bolso para ariscar a sorte na roleta russa, e assim concretizar mais rápido o sonho de comprar um outro caminhão, só para viajar de carona de vez em quanto, porque o Iveco strallis 2007 que comprei em 2011, em maio de 2012, um colega dormiu e veio a colidir no meu Caminhão, naqual deu perda total no meu Iveco, hoje estou aposentado por invalidez, fiz 8 cirurgias, fui salvo por Deus e com esta mão divina eu estou aqui na luta,  desistir, jamais !!!. 
            Autor: Lauro Abbade Corrêa

            Livros recomendados já publicados pelo Autor:

            Armadilhas do Destino I
               Armadilhas do Destino II
               Um sonho de Menino
               A casa de Pedra
               O Inimigo oculto